Nossa elite só se interessa por museu na Europa, diz pesquisador da UFRJ
O incêndio que atingiu o Museu Nacional no último domingo (2), no Rio, além de destruir itens únicos e insubstituíveis, queimou o trabalho de uma vida inteira de muitos pesquisadores.
Um deles é Antonio Carlos de Souza Lima, professor de etnologia, que estava revoltado ao ver que seu material virou cinzas.
“É o retrato de elite política que acha que cultura e educação não fazem sentido”, disse. Para Lima, o Museu Nacional era frequentado por pessoas de origem mais humilde e alunos de escola. “A elite brasileira só se interessa por museu na Europa”, disse.
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As críticas se referem à falta de orçamento destinado ao museu e o que o professor vê como omissão da sociedade brasileira em fazer pressão para que a situação se corrigisse.
Dos cerca de R$ 500 mil necessários para a manutenção anual do museu, só 60% vinham sendo repassados. Sem dinheiro, a instituição vinha perdendo público e sofria com a degradação da infraestrutura.
“Está tudo queimado e dizimado”, disse sobre as coleções de povos indígenas, africanos e de outras partes do mundo e fitas com registros de línguas que não são mais faladas.
Além da área aberta à visitação, o local é um centro de ensino e pesquisa, com cursos de pós-graduação em áreas como antropologia, zoologia e botânica. “Era um centro de guarda de material, de exposição, de produção de conhecimento”, afirma Antonio Carlos.
A professora Virgínia Maria, que participou da reforma das salas de exposição de Paleontologia e do acervo indígena relata que as pessoas estão se abraçando e chorando pelo portão do Museu Nacional, que está fechado. “Aqui não era só um museu, acervos do Brasil inteiro vinham para cá por ser mais seguro”.
Segundo Virginia, alguns pesquisadores passaram mal ao saber do incêndio. “Está todo mundo desesperado. Tem gente que já se aposentou e perdeu o trabalho de uma vida inteira”. Ainda de acordo com Virginia, a reação de muita gente ao saber do incêndio foi correr para o museu para tentar salvar o que era possível. “Assim que começou o incêndio, eles apagaram a luz, mas mesmo sem luz, as pessoas entraram e tentaram salva o que dava. São pessoas que conheciam muito bem o museu”.
Daniela Matera, museóloga do Ibram (Instituto Brasileiro de Museus) diz que existe um treinamento de segurança que, se realizado, “funciona muito bem”. Daniela diz que todos os funcionários devem fazer este treinamento, mas que o Programa de Gestão de Risco ao Patrimônio Musealizado, que começou com o mapeamento dos museus do Ibram, está engessado.
Entre as recomendações do programa estão o acompanhamento técnico e elaboração e implementação do plano de gestão, visitas e reuniões técnicas com profissionais da área de preservação e segurança dos museus do Ibram e aquisição de equipamentos de preservação e segurança.
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