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Reinaldo Azevedo

DEM: de aspirante a protagonista em 22 à condição de rabeira bem remunerada

Rodrigo Maia, presidente da Câmara até este 1º de fevereiro: tentou fazer o DEM se comunicar com o mundo moderno. Acho que o partido prefere o atraso -  Maryanna Oliveira/Agência Câmara
Rodrigo Maia, presidente da Câmara até este 1º de fevereiro: tentou fazer o DEM se comunicar com o mundo moderno. Acho que o partido prefere o atraso Imagem: Maryanna Oliveira/Agência Câmara

Colunista do UOL

01/02/2021 07h45

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O deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) preparava seu ainda partido — será que lá vai continuar? — para ser um protagonista em 2022. As possibilidades estavam abertas: ou um lugar de destaque numa eventual aliança com o tucano João Doria (PSDB), se candidato for, ou na construção de uma alternativa de centro-direita com algum outro nome — sim, chegou-se a falar em Luciano Huck.

Notem que não estou aqui a especular sobre eventuais desejos meus. Muito longe disso. Aponto, reitero, que o DEM parecia caminhar para ser um interlocutor de respeito.

A facilidade com que arreganhou as, digamos, portas quando sofreu o assédio dos cofres do Planalto indica a distância que está a legenda de assumir uma tarefa dessa envergadura. Os tais "democratas" que se alinharam com Lira querem mesmo é a velha rotina da boquinha. E ponto final!

Mais: boa parte ali se alinha com os postulados mais pestilentos e reacionários de Jair Bolsonaro. Isso remete àquela velha questão sobre setores da direita brasileira que tinham um cardápio enorme de candidatos conservadores se estivessem apenas interessados em não votar no PT.

A eleição de 2018, diga-se, trouxe o maior número de candidatos de direita e centro-direita desde a redemocratização. Excluídos os extremos do folclore, lá estavam: Geraldo Alckmin (PSDB), Álvaro Dias (Podemos), João Amoedo (Novo) e Henrique Meirelles (MDB). E, por óbvio, a extrema direita tinha Jair Bolsonaro.

E vimos o que vimos. Direitas, supostos liberais e esses patriotas que compõem o Centrão escolheram... Bolsonaro. "Ah, era o único capaz de vencer o PT!" Cascata. Escolheram e votaram porque concordavam com as boçalidades que dizia e diz.

Ou como explicar que na marcha célere rumo aos 250 mil mortos, uma legenda que se quer distinta do Centrão resolva escolher Arthur Lira porque considera que Baleia Rossi possa ser esquerdista demais? "Ah, Reinaldo, foi só por dinheiro!" Sim, é evidente, há a grana. Mas também há aquilo que o DEM essencialmente é e pensa. E algumas figuras que ainda estão na legenda não se encaixam no figurino. Rodrigo Maia é um deles. Eduardo Paes elegeu-se prefeito do Rio contra essa escumalha. Vamos ver.

Não me parece que haja espaço no DEM para abrigar não uma ala esquerdista, claro!, mas um grupo que esteja afinado com os postulados de um mundo civilizado. Quem escolhe um arranjo que condescende — porque é disto que se trata — com uma montanha de quase 230 mil cadáveres não aspira à decência e à grandeza, não é mesmo?

O DEM não quer ser um partido conservador, alinhado com a modernidade. É uma legenda reacionária. Nessa condição, não pretende o protagonismo de nada. Quer ser apenas uma rabeira bem remunerada.