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Reinaldo Azevedo

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Pazuello investe em prisão pela CPI e crise militar? Punição e reserva já!

Pazuello, general da ativa, desrespeita Estatuto dos Militares e discursa em ato político promovido por Bolsonaro. Provocação à CP.I - Reprodução
Pazuello, general da ativa, desrespeita Estatuto dos Militares e discursa em ato político promovido por Bolsonaro. Provocação à CP.I Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

24/05/2021 08h02

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Eduardo Pazuello, à diferença do que podem supor alguns, não é só um boi de piranha de Jair Bolsonaro. Tampouco é o militar exemplar que, de tão disciplinado, aceita ir para a guilhotina para proteger o chefe. Em companhia do presidente, está tentando criar uma crise militar para ver se manda os outros para a guilhotina. Pode ser, e é, um aloprado, mas não é o bobalhão da turma. Pertence à banda dos truculentos que querem ver o circo pegar fogo. É uma insanidade tentar criar uma crise militar? É. Mas é isso precisamente o que buscam o presidente e o general.

A ida de Pazuello a mais um ato a um só tempo golpista e eleitoreiro promovido pelo presidente — sem contar o desrespeito a mais de 450 mil mortos — constitui uma agressão evidente à CPI. Tudo indica que o ex-ministro da Saúde quer ser convocado de novo. Depois do acinte e da provocação deste domingo, parece que está disposto a criar as circunstâncias para receber voz de prisão. E, nesse caso, a aposta é que se teria uma crise militar.

Vejam a que despropósito conduz o país e as instituições um líder aloprado, incapaz de governar segundo as regras do jogo democrático, a que se subordinaram todos os que o antecederam depois do fim da ditadura. Constatem a que degradação moral conduz as Forças Armadas — o Exército em particular —, que viram um de seus quadros comandar a pasta que, entre a omissão e as ações desastradas, assistiu ao morticínio em massa dos brasileiros.

O Estatuto dos Militares proíbe que quadros da ativa participem de atos dessa natureza. Tanto pior quando o soldado em questão é um general que já está sob investigação na Justiça Federal e é peça central numa investigação conduzida pelo Senado Federal. Mais absurda ainda é a situação quando esse oficial, chamado a depor na condição de testemunha, conta uma penca de mentiras, fazendo pouco caso dos mortos, dos vivos e das instituições.

Consta que o Alto Comando não gostou e que o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, comandante do Exército, tratou da questão com Braga Netto, ministro da Defesa — que, ora vejam!, participou de um ato golpista no fim de semana anterior. É evidente que Pazuello tem de ser enviado para a reserva, não sem antes sofrer uma punição. E aí resta a questão: se acontecer, Bolsonaro tentará interferir? Segundo a Constituição, o presidente é comandante-em-chefe das Forças Armadas, mas quando estas são mobilizadas. Ele não pode se imiscuir na rotina interna dos quarteis.

Sim, Bolsonaro fez discurso golpista. Voltou a empregar a expressão "meu Exército", afirmando que este não vai interferir para garantir medidas de distanciamento. Que fique claro: esse discurso tem outro endereço. Os governadores não precisam apelar às Forças Armadas no caso de manter algum disciplinamento mais severo contra a Covid-19. Quando o presidente faz esse tipo de declaração, tem outra coisa em mente. Parece que vive sonhando com manifestações violentas de massa contra os governos estaduais, que escapassem ao controle das próprias PMs — situação em que as Forças Armadas poderiam ser acionadas. E, então, ele afirma: elas não atuariam. Ou por outra: a fala vale como um incentivo a confrontos civis armados. É uma barbaridade? É. Mas assim são as coisas.

E o presidente nem disfarçou. Disse com todas as letras:
"Nosso Exército são vocês. São mais importantes do que os Poderes Executivo, Judiciário e Legislativo".

As Forças Armadas sabem da absoluta impossibilidade de haver um golpe bem-sucedido nos meios e nos fins, não é mesmo? Não seria operacional. Se fosse, não seria sustentável.

Assim, nos marcos da democracia, que seus comandantes atuem para estancar a desmoralização. A história da "guerra" que pode matar perto de um milhão de brasileiros reservará aos militares um lugar de desonra. A volta ao caminho da normalidade e da honra começa com a punição de Pazuello e sua transferência imediata para a reserva.

Veja também comentário do Reinaldo Azevedo sobre o tema no Youtube.