"Viúva Negra" é condenada a 18 anos de prisão
Após quase 10 horas de julgamento, a advogada gaúcha Heloísa Borba Gonçalves, 61 anos, conhecida como “viúva negra”, foi considerada culpada pelo júri e condenada a 18 anos de prisão em regime fechado pela morte do marido, o militar Jorge Ribeiro, no dia 19 de fevereiro de 1992 em seu escritório no bairro de Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro.
Jorge Ribeiro foi atingido por vários golpes, após ter sido amarrado e torturado fisicamente. O motivo do crime, segundo a acusação, teria sido apoderar-se dos bens do militar.
A viúva negra foi condenada pelo crime de homicídio duplamente qualificado. Após uma hora de reunião a portas fechadas, o júri, formado por sete jurados, entendeu que Heloísa Borba teve, de fato, participação no crime, cometido de forma cruel e por motivo torpe.
A viúva negra está foragida, e segundo a promotoria, poderia estar escondida nos Estados Unidos. Ela integra também a lista de procurados pela Interpol. O advogado de defesa, Matusalem Lopes de Souza, afirmou ao UOL Notícias que pedirá a anulação do julgamento.
“Vou lutar pela anulação desse julgamento. Esse caso vai parar até no STF (Supremo Tribunal Federal). A denúncia do Ministério Público é que ela planejou e arquitetou a execução, mas não existe prova para condená-la”, disse Matusalem Souza.
O fato de Heloísa Borba estar foragida agravou a situação para o efeito do júri, admitiu o advogado de defesa. “As circunstâncias não são favoráveis, a assinatura falsa, as certidões de nascimento, isso eu não posso negar. Mas, mesmo assim, não tem prova, não era nem para haver esse julgamento aqui no júri. Ano que vem completa 20 anos e não se sabe o autor do crime”, afirmou.
Durante o julgamento, o advogado afirmou que o júri “não poderia ser feito com a ausência da ré”. “Independente deste resultado, o caso fatalmente não se encerra. Não há prova nenhuma de participação dessa senhora no crime”, afirmou, durante o julgamento.
Já para a promotora de acusação, Patrícia Glioche, “está claro que ela mandou, ela é a mandante, ela está por trás disso tudo”. “O Ministério Público representa o interesse do Estado de punir quem errou. Ela mandou, ela responde a um processo de homicídio, sendo casada ao mesmo tempo com outro. Ela já é condenada por bigamia, falsificou assinaturas da vítima para vender linhas telefônicas que, na época, valiam muito. Ela não merece nenhuma confiança e só tinha um objetivo, o dinheiro. É uma mulher que mente, a mentira sempre solucionou a vida dela. Ela sempre se deu bem mentindo. É estranho uma mulher que tem tantos maridos mortos”, disse a promotora durante o julgamento, que teve início por volta das 14h desta sexta-feira (26).
“O Jorge Ribeiro não é o único crime que nós podemos afirmar que temos provas que foi ela quem mandou matar. Ela mandou dar marretadas na cabeça que levou ao óbito. Se não se sabe quem matou até hoje, também não podemos saber que mandou?”, questionou a promotora ao acusar a ré perante o júri.
Esse dia é decisivo, afirma testemunha
“Lutei 18 anos para chegar esse dia que é decisivo. Agora está nas mãos dos jurados”, disse Elie Murad, 46, filho de Wagih Elias Murad, 83 –namorado e suposta quarta vítima de Heloísa Gonçalves. Elie Murad participou como única testemunha de acusação no julgamento desta tarde.
Elie Murad sofreu uma tentativa de homicídio ao ser atingido por dois disparos efetuado por duas pessoas no Recreio dos Bandeirantes, na zona norte do Rio, no mesmo ano em que seu pai foi morto.
“Meu pai foi seduzido por uma mulher 42 anos mais nova que ele. Eu alertei o meu pai, mas ele não me ouviu. Surgiu a desconfiança, achei que ela era uma golpista, estelionatária. Meu pai descobriu os fatos que ela teria matado três maridos e temia ser mais uma das vítimas. O namoro deles durou seis meses, de junho a dezembro de 1992, em maio de 1993 ele foi morto”, declarou durante o julgamento.
Foragida há três décadas
Segundo a equipe de advogados de defesa, ninguém sabe onde se encontra Heloísa Borba Gonçalves, que provavelmente está fora do Estado. Ela está foragida há cerca de três décadas.
A equipe que acompanha o advogado de defesa Matusalém Souza afirmou ao UOL Notícias que o inquérito só virou processo e foi a julgamento porque iria prescrever em 2013.
Entenda o caso
A “Viúva Negra” utiliza vários nomes e também assina como Heloísa Gonçalves Duque Soares e Heloísa Saad. Ela foi pronunciada para ir a júri popular em 25 de agosto de 2005 pelo crime de homicídio qualificado.
Segundo denúncia do Ministério Público, a acusada teria encomendado a morte do marido Jorge Ribeiro a uma terceira pessoa ainda não identificada. Ela teria planejado o crime, auxiliado o assassino e facilitado a sua fuga.
Ainda de acordo com a denúncia, o autor do crime amordaçou o militar com um saco plástico, amarrou seus braços e desferiu diversas marretadas em sua cabeça e rosto.
Ela já foi condenada a quatro anos e seis meses pela 19ª Vara Criminal do Rio pelos crimes de bigamia e falsidade ideológica. A viúva também já foi denunciada por fraude no INSS.
Heloísa casou-se quatro vezes e namorou outros três homens. Após a morte das pessoas com as quais ela se relacionou, teria herdado pelo menos sete apartamentos em Copacabana, três no Leblon, duas casas no Jardim Botânico, três lojas e um apartamento na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Os bens estariam estimados em R$ 20 milhões.
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