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Artista plástica constrói 12 canis em mansão para cuidar de cães vítimas da enchente em Teresópolis (RJ)

Janaina Garcia

Do UOL, em Teresópolis (RJ)

15/01/2012 06h00

Eles não entraram nas estatísticas da Defesa Civil do Estado nas chuvas e deslizamentos de janeiro de 2011 e muitos ainda vagam pelas ruas de cidades atingidas em situação de completo abandono. Em Teresópolis (RJ), contudo, parte dos animais de estimação de quem morreu ou perdeu a casa na tragédia encontrou um lar graças à ação de uma simpatizante da causa animal.

Artista plástica natural do Rio, Claudia Watkins, 49, se mudou para a cidade da região serrana há dez anos e, desde então, ela conta, começou a adotar cães vítimas de maus tratos. Com a tragédia que deixou quase 400 mortos em Teresópolis, “algumas dezenas” de abandonados foram recolhidos para a casa onde tinha na Granja Comari, área nobre.

Hoje, em uma casa maior onde mandou construir 12 canis em jardim vasto e meticulosamente cuidado, já são 44 animais --entre os quais, cinco gatos--, a maioria de “desabrigados” da enchente de um ano atrás.

“Onde eu morava antes, um vizinho chegou a jogar uma bomba caseira para evitar os latidos”, lembra Claudia, assustada. Nos canis, além de ração e água, os animais ainda são separados em número de no máximo cinco e esterilizados.

A artista plástica e o marido, o músico Robson Vagner de Paula Oliveira, 27, chamam os animais pelo nome, um a um --cada qual, batizado ao deixar as ruas. O caso mais emblemático, segundo o casal, é o de Noé, uma mistura de vira-lata com perdigueiro.

“Não entendemos como ele sobreviveu. Chegamos já na manhã do dia seguinte à chuva a uma casa atingida pela enchente e por deslizamentos. O dono dele morreu, e o animal estava amarrado e machucado --vizinhos nos disseram que ele vivia preso”, conta o músico.

Assim como o personagem da Bíblia que escapou do dilúvio, Noé, o cão, teve uma sorte melhor que a de outros que perambulam pelas ruas de bairros como a Cascata do Imbuí e a Posse. “Uma época nós tentamos doar outros cães que ficaram, mas era levar cinco para uma feira de adoção e voltar com dez --as pessoas acabavam deixando lá em sacolas”, diz a artista plástica.

Ela se queixa de omissão do poder público a um assunto que, no fim, acaba sendo também de saúde pública. “Havia aqui em Teresópolis um abrigo com cerca de 200 cães da enchente, hoje são uns 60. E quem cuida é um casal de idosos que mal tem como comprar a comida. Abraçar esse tipo de causa, quando se precisa do poder público no mínimo para castrar esses animais, é esmolar, é ser franciscano”, revolta-se.

Se a adoção parou? Ela garante que está bem com os 44 animais que já evitam, por si próprios, qualquer silêncio na casa. De qualquer forma, pelas contas do casal, com cinco animais em cada canil ainda são 16 vagas não preenchidas.