Um ano após tragédia, obras de prevenção na região serrana do Rio não foram concluídas, diz Crea
Um ano após a tragédia que deixou mais de 900 mortos na região serrana do Rio de Janeiro, muito pouco foi feito para recuperar as áreas afetadas, e grande parte das ações executadas pelo poder público se limitou ao atendimento emergencial às vítimas e desabrigados, informou nesta quarta-feira (11) o Crea-RJ (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro).
“Faltou planejamento completo, e o que foi feito ficou na gaveta. As cidades ainda estão numa situação muito difícil. Um ano depois a situação é crítica. Entre as mais de 150 obras detectadas por especialistas que deveriam ser feitas, talvez uma dezena delas tenha se iniciado, mas, mesmo assim, não foram terminadas”, disse o presidente do Conselho, Agostinho Guerreiro.
Do total de mais de 170 áreas apontadas como de alto risco de deslizamento de encostas na região serrana, as obras de recuperação de talude começaram a ser feitas em apenas oito das áreas indicadas. Grande parte dessas obras deveria ter sido concluída em outubro do ano passado, quando termina a estiagem e começa a estação chuvosa. Porém, não foram finalizadas.
A equipe de técnicos e engenheiros do Crea-RJ realizou uma inspeção no dia 4 janeiro nas cidades de Nova Friburgo, Bom Jardim, Teresópolis e Petrópolis e constatou que obras de reconstrução de pontes e recuperação de taludes ainda estão inacabadas.
Segundo o relatório divulgado nesta quarta (11), o poder público, “além de realizar obras muito aquém da necessidade está tomando essas providências num ritmo muito lento, incompatível com a realidade da gravíssima situação” da região serrana.
Para Guerreiro, as cidades não foram reconstruídas e faltou planejamento para prevenir a ocorrência de novas catástrofes. Este é o terceiro relatório elaborado pelo conselho, e a avaliação é de que poucas ações preventivas foram postas em prática.
“O primeiro relatório – feito logo após a tragédia – foi de diagnóstico, para apontar soluções de baixo custo apenas para diminuir o impacto enquanto grandes obras pudessem ser feitas, e quase nada foi feito. Já o segundo foi de desespero técnico, diante de quase nada ter sido feito. No início de agosto falamos para colocar as sirenes para quando a tragédia chegasse, avisar as famílias. Este terceiro é para mostrar que, apesar de um ano, agora não vai dar para fazer obra nenhuma debaixo de água”, afirmou Guerreiro.
Região não está livre de nova catástrofe
De acordo com o relatório do Crea, a região não está livre de novas catástrofes. “As obras foram feitas em pequenas proporções e localizadas, a área é suscetível a uma tragédia caso chova tanto quanto no ano passado”, disse Guerreiro.
Segundo o engenheiro civil Adacto Ottoni, que coordenou a inspeção de técnicos do Crea, “não se atacou a origem do problema da enchente, e a área pode voltar a ter uma nova tragédia, basta metade da chuva que caiu no ano passado”.
Foram nove as recomendações do conselho para tentar impedir uma nova catástrofe. Entre elas, os técnicos e engenheiros destacam a elaboração de mapas de risco, o planejamento para remoção da população, obras de intervenções nas encostas para controle de erosão do solo, barragens de cheias e reflorestamento no topo dos morros e encostas acima de 45 graus.
O relatório do Crea será enviado ao Ministério Público e a autoridades municipais, estaduais e federais. “Esperamos que vejam nos detalhes do relatório tudo o que poderia ter sido feito no período da seca, que é o único período em que se pode trabalhar. Agora no período das águas é apenas preparar o socorro às pessoas”, disse Guerreiro.
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