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PM e Justiça restituem posse de Pinheirinho e exaltam operação

Guilherme Balza

Do UOL, em São José dos Campos (SP)

25/01/2012 19h31Atualizada em 25/01/2012 20h38

Às 19h20 desta quarta-feira (25), a Polícia Militar e a Justiça encerraram oficialmente o processo de reintegração de posse da comunidade Pinheirinho, iniciado na manhã do último domingo (22). Participaram do ato o coronel Manoel Messias, que comandou a operação policial; o juiz Rodrigo Capez, assessor da presidência do Tribunal de Justiça de São Paulo; e a juíza Márcia Loureiro, da 6ª Vara Cível, que determinou a reintegração.

Um representante da Selecta, massa falida proprietária da área, assinou o documento de reintegração de posse dentro de um carro, temendo sofrer represálias caso aparecesse em público. No ato, os representantes da PM e da Justiça exaltaram a operação no Pinheirinho, duramente criticada pelos moradores, representantes do governo federal e organismos internacionais.

“Com esse ato formal a polícia encerra sua atividade de apoio à Justiça na reintegração de posse. Estamos bastante exaustos, foram vários dias de trabalho, mas felizes porque não houve nenhuma vítima na relação com a Polícia Militar. Com isso, a PM cumpriu seu papel de apoio ao poder judiciário”, disse Messias.

Capez lembrou do massacre de Eldorado do Carajás para elogiar o despejo no Pinheirinho. “Pelo Poder Judiciário, representando a presidência do TJ, gostaríamos de expressar nosso agradecimento pelo belo trabalho executado pela Polícia Militar. Uma ação bem planejada e muito bem executada. Para aqueles que imaginavam que haveria um novo Eldorado do Carajás, um massacre, essa ação limpa demonstrou que esses temores eram absolutamente infundados. Hoje se cumpre a reintegração de posse". A juíza Márcia Loureiro não se manifestou.

Com 1,3 milhão de metros quadrados, o terreno havia sido ocupado há oito anos. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), havia cerca de 6.000 moradores no Pinheirinho. A Selecta, empresa do investidor Naji Nahas, preso em 2008 na Operação Satiagraha, teve falência decretada há vinte anos.

De acordo com o último balanço divulgado pela Polícia Militar, 22 pessoas foram presas durante a operação na comunidade do Pinheirinho e seus arredores, entre domingo e hoje. O coronel da PM afirmou que policiais continuarão atuando ostensivamente nos arredores do terreno para prender “procurados da Justiça”.

Moradores reclamam de bens destruídos

Enquanto PM e Justiça celebram a operação, moradores do Pinheirinho reclamam que não conseguiram retirar seus bens antes que suas casas fossem destruídas. Desde ontem, a reportagem do UOL ouviu dezenas de moradores revoltados por terem perdido quase tudo. “Eu fui tirando as coisas aos poucos. Deram um prazo para tirar todas as coisas até 12h hoje, mas era um tempo muito curto. Só consegui tirar as coisas miúdas. Perdi cama, guarda-roupa, ferramentas e meus quadros, que era o que eu mais gostava”, afirmou o aposentado Geldásio Santiago dos Santos, 61.

“Avisei a polícia para não acertar a casa vizinha à minha, porque a minha cairia também. Mas a máquina veio e quebrou tudo. Não consegui tirar nada. Já tinham roubado muitas coisas antes. Perdi TV, vídeo, DVD, celular, geladeira. Eu, meu marido e cinco filhos ficamos só com a roupa do corpo”, disse a dona de casa Shirley Aparecida Rodrigues, 34.

Área é desocupada pela PM
em São José dos Campos (SP)

  • Arte/UOL

“Ontem, quando cheguei às 6h30 para tirar as coisas, minha casa foi destruída com tudo dentro. Perdi som, geladeira, cama, fogão. Meus irmãos perderam tudo também”, afirmou o ajudante-geral Wanderley Alves Santana, 35, que morava com a filha no Pinheirinho.

O capitão da PM Antero Alves Baraldo, que participou da operação no Pinheirinho, afirmou desconhecer os casos de destruição de bens à revelia. Ele afirmou que os moradores foram acompanhados por um oficial de Justiça e indicaram quais móveis iriam ficar e quais poderiam ser destruídos. O capitão disse ainda que os bens das casas em que o morador não apareceu durante a reintegração foram levados a um depósito da Justiça.

Caos em abrigo

Falta de água, calor excessivo, superlotação, pessoas passando mal, crianças chorando: em questão de minutos, o novo abrigo para os moradores despejados da comunidade Pinheirinho, um ginásio no bairro Parque do Morumbi, zona sul de São José dos Campos (SP), virou um caos. Os dois únicos banheiros do ginásio estão sem água. Os chuveiros e as descargas não funcionam. Os desabrigados reclamam do calor excessivo no interior do local. Até as 18h desta quarta-feira (25), pelo menos quatro pessoas foram hospitalizadas após se sentirem mal.
 
As cerca de mil pessoas que foram alojadas no local estavam na igreja do bairro Campo dos Alemães, vizinho ao Pinheirinho, onde não estavam recebendo assistência da prefeitura. Elas haviam se recusado a ir a abrigos da prefeitura --onde os alojados recebem comida, produtos de higiene e colchões-- temendo as condições do local.

Hoje, decidiram migrar para o ginásio, após a igreja alegar não ter mais condições de abrigar as famílias. Caminharam por cerca de 4 km, sob um calor de 35ºC, até o novo abrigo. Diante da situação, a Prefeitura de São José dos Campos decidiu que irá distribuir as pessoas em outros abrigos --um deles no Jardim do Sol, também na zona sul do município.