Polícia Civil da Bahia vai priorizar investigação de casos de homicídios com indícios de extermínio
Diante do aumento dos índices de homicídios em Salvador, registrados depois que parte da Polícia Militar do Estado decretou greve, no último dia 31 --foram 135 mortes, um aumento de 145% em uma semana--, o DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) baiano vai priorizar as investigações de mortes que apresentam indícios de extermínio.
Entre os crimes investigados está a execução de cinco moradores de rua na Boca do Rio, durante a madrugada da última sexta-feira (3), e de uma mulher, também moradora de rua, na Praça da Piedade, no centro de Salvador, que foi baleada e morta enquanto amamentava a filha recém-nascida.
“Em razão do elevado número de homicídios no período, decidimos priorizar as mortes com características de extermínio, pelo fato de representarem o principal motivo para esta elevação”, disse a coordenadora das Delegacias de Homicídios da Capital, delegada Francineide Moura.
Dados estatísticos do DHPP mostram que, no período de 1° a 6 de fevereiro, a polícia registrou 38 homicídios com características de crimes de extermínio. Os principais indicativos de crimes como este são a participação de muitos executores, fortemente armados e uso de veículos não identificados, atuando de forma específica.
De acordo com informações divulgadas nos boletins diários da Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), do dia 1º ao dia 8 de fevereiro, 135 pessoas foram assassinadas na região --a greve começou no fim do dia 31 à noite. Na semana anterior, entre 25 e 31 de janeiro, foram registrados 55 homicídios. A Secretaria de Comunicação do governo estadual informou que o secretário de Segurança Pública, Maurício Barbosa, não vai comentar os dados.
O levantamento foi feito por volta do meio-dia desta quarta-feira (8), e os números ainda podem ser atualizados. No período de greve, o dia mais violento em número de mortes foi sexta-feira (3), com 32 homicídios registrados. Uma das vítimas foi o percussionista da banda Olodum, Denilton Souza Cerqueira, 34, morto a tiros na porta de casa durante a madrugada do dia 3, no bairro periférico da Mata Escura. Dois homens armados, em uma motocicleta, teriam abordado o músico e feito os disparos.
Hoje, a SSP-BA informou que um policial foi morto na noite de ontem (7): o soldado Elenildo dos Santos Costa, 34, morreu a tiros quando saía de uma pizzaria no bairro de São Rafael, próximo ao CAB. Ele teria sido reconhecido como PM pelos criminosos, durante uma tentativa de assalto. Segundo o UOL apurou, o policial assassinado era um dos grevistas e teria deixado o prédio da Assembleia para comprar pizza. A SSP não confirma.
Outros dois policiais também foram mortos durante o período de greve. Na noite da segunda-feira (6), o policial rodoviário Carlos Luiz Leal de Souza foi morto com dois tiros em frente à Universidade Estadual da Bahia, em Camaçari (Grande Salvador). No sábado (4), o policial civil João Carvalho Filho morreu na avenida ACM, em Salvador, por dois homens armados que dispararam mais de dez vezes contra a vítima.
Durante a paralisação, estabelecimentos comerciais também registraram saques e arrastões. Para se proteger, alguns comerciantes da capital formaram uma "rede de informações": em caso de ocorrência de assalto em algum bairro, os donos de loja ligam imediatamente para amigos nos bairros vizinhos e todos baixam as portas.
Também foram canceladas aulas nas redes pública e privada, assim como shows e espetáculos culturais. Os Estados Unidos chegaram a recomendar aos norte-americanos que adiem viagens "não essenciais" ao Estado.
Negociação
A greve dos policiais continua sem acordo e entra em seu nono dia hoje. Os cerca de 300 grevistas seguem amotinados dentro da Assembleia Legislativa, em Salvador, e uma nova reunião de negociação teria sido retomada por volta das 10h, segundo a Secretaria de Comunicação. Horas depois, a própria Secom voltou atrás e disse que a negociação ainda está suspensa.
Hoje, todos os acessos ao Centro Administrativo da Bahia (CAB), onde fica o prédio da Assembleia, foram fechados.
Nesta quarta-feira (8), a entrega de comida, água e medicamentos aos PMs amotinados --que havia sido liberada ontem-- foi suspensa. O chefe do setor de comunicações do Exército, tenente-coronel Márcio Cunha, não soube explicar o motivo.
Do lado de fora da Assembleia, contudo, o aparato de segurança é substancialmente maior em relação a ontem: vias até então de trânsito livre agora são ocupadas por homens e mulheres da Força Nacional de Segurança com carros e armas. Por volta das 10h, dois helicópteros do Exército realizaram voos rasantes antes de pousar no CAB. Familiares e amigos dos PMs foram impedidos de entrar na Assembleia com gelo e comida. Ontem, o acesso era apenas limitado.
Segundo o tenente-coronel, o uso dos helicópteros é um meio de “apenas garantir maior visão e reconhecimento da área”. “Permanece a orientação de o prédio não ser invadido”, resumiu. Indagado sobre o aumento do efetivo, Cunha disse que hoje há 1.308 homens apenas do Exército no local –dentre os 3.500 das forças de segurança que estão atuando na Bahia em função da greve. Ontem, o porta-voz havia dado um número menor: 1.038 oficiais.
Nesta quarta foi retomada a negociação que tenta colocar fim à paralisação. Mais cedo, uma outra associação de policiais militares ameaçou entrar em greve também.
A greve
A greve na Bahia foi deflagrada na terça-feira, dia 31 de janeiro, por parte da categoria, liderada pela Associação de Policiais e Bombeiros da Bahia (Aspra). Doze mandados de prisão foram expedidos contra policiais militares que lideram o movimento, considerado ilegal pela Justiça. As prisões foram decretadas pela juíza Janete Fadul. Todos são acusados de formação de quadrilha e roubo de patrimônio público (carros da corporação). Além dos crimes, os policiais vão passar por um processo administrativo. Dois já foram presos.
De acordo com o líder do movimento, os cerca de 300 policiais militares estão amotinados não vão deixar a Assembleia até que sejam revogados os pedidos de prisão de 12 grevistas, além da concessão da anistia irrestrita para os grevistas e o pagamento de gratificações.
(Com reportagem de Débora Melo, Janaina Garcia, Carlos Madeiro e Agência Estado)
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