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Com greve, comerciantes baianos criam rede para avisar sobre assaltos

Luciana Lima

Da Agência Brasil, em Salvador

08/02/2012 13h08

Para se proteger dos constantes assaltos devido à ausência de policiamento nas ruas, os comerciantes de Salvador formaram uma verdadeira rede de informações. Em caso de ocorrência de assalto em algum bairro, os donos de loja ligam imediatamente para amigos nos bairros vizinhos e todos baixam as portas.

"Quando o pessoal soa o alerta a gente fecha rapidinho. Isso tem acontecido todos os dias”, disse uma comerciante do bairro de Pituba, que pediu para não ter o nome divulgado.

O comportamento do morador de Salvador mudou com a greve dos policiais militares que já dura nove dias.

Nos supermercados, o movimento, embora bem menor que o normal, tem sido mais intenso pela manhã. À tarde, as lojas têm ficado vazias.

"As pessoas comentam que preferem fazer tudo mais cedo, para não ter que sair de casa na parte da tarde, horário em que ocorre a maior parte dos assaltos. As pessoas estão com medo", disse Maria do Amparo Rodrigues, 23 anos, que trabalha como caixa em uma rede de supermercados da capital baiana.

A uma semana da abertura oficial do Carnaval, os bares de Salvador permanecem vazios durante a noite. As ruas estão desertas. Em alguns bairros da periferia da cidade, o comércio, quando abre, fecha mais cedo.

Em cidades vizinhas, como Lauro de Freitas, houve dias em que o comércio ficou fechado o dia inteiro. "Moro em Lauro de Freitas e lá o comércio está fechado. Não é como no centro de Salvador onde se pode ver alguns homens do Exército. Lá não tem policiamento algum", disse a funcionária de uma farmácia localizada na Pituba, área litorânea de Salvador, que também não quis ter seu nome divulgado.

Com medo da violência, as pessoas estão optando, cada vez mais, por ficar em casa. Muitos shows de artistas baianos previstos para essa semana foram cancelados sob a alegação de não haver condições de garantir segurança para o público.

Em compensação, os serviços de tele-entrega aumentaram. Um restaurante de comida chinesa aumentou em 50% o serviço de entrega durante o período da greve.

O salão onde é servida a comida tem ficado vazio, mas os pedidos acabam compensando a queda nos atendimentos. "As pessoas não querem se arriscar e acabam pedindo comida em casa", informou Jairo Alencar, atendente do restaurante.

Entenda a greve

A greve na Bahia foi deflagrada na terça-feira, dia 31 de janeiro, por parte da categoria, liderada pela Associação de Policiais e Bombeiros da Bahia (Aspra). Doze mandados de prisão foram expedidos contra policiais militares que lideram o movimento, considerado ilegal pela Justiça. As prisões foram decretadas pela juíza Janete Fadul. Todos são acusados de formação de quadrilha e roubo de patrimônio público (carros da corporação). Além dos crimes, os policiais vão passar por um processo administrativo. Dois já foram presos.

Cerca de 300 policiais militares estão amotinados dentro da Assembleia Legislativa em Salvador, cercados pelas forças federais, que negociam o fim da greve. Na segunda-feira, soldados lançaram bombas de efeito moral e dispararam balas de borracha contra policias grevistas que estavam do lado de fora e que tentavam entrar no local.

De acordo com o líder do movimento, os grevistas não vão deixar a Assembleia até que sejam revogados os pedidos de prisão de 12 grevistas, além da concessão da anistia irrestrita para os grevistas e o pagamento de gratificações.

A paralisação gerou um aumento da violência no Estado: aulas foram canceladas, assim como shows, a Justiça teve seu trabalho suspenso e os Estados Unidos chegaram a recomendar aos norte-americanos que adiem viagens "não essenciais" ao Estado. O número de homicídios e assaltos também aumentou --até o fim de semana, as mortes já eram superiores ao dobro do registrado no mesmo período na semana anterior à greve.