A frieza pode pesar contra Lindemberg, diz advogado de acusação após depoimento do réu
O advogado José Beraldo, assistente de acusação no julgamento de Lindemberg Alves, afirmou nesta quarta-feira (14), após o depoimento do réu nesse terceiro dia de sessão, que viu “contradições” e “mentiras” em sua fala. Ele também disse que a frieza demonstrada durante a fala deve pesar contra o réu.
“Nós percebemos uma serie de mentiras, uma falácia, ele enganou a todos”, disse.
Como exemplo de contradição, segundo o advogado, Lindemberg disse que atirou em Eloá depois de ouvir um estrondo e ver que ela estava levantando. Beraldo afirmou que o laudo mostra o tiro de cima para baixo, o que indica que Eloá estava deitada.
Veja frases de Lindemberg
Quero pedir perdão para a mãe dela em público
Quando a polícia invadiu, a Eloá fez menção de levantar e eu, sem pensar, atirei
Quando a polícia chegou, fiquei apavorado. Não sabia o que fazer
Eu estava muito nervoso e tomei atitudes impensadas. Atirei para o chão para manter a polícia longe do apartamento
Eu não vim aqui para dar show, para comover ninguém
Outro exemplo dado pelo advogado é que Lindemberg afirmou que se sentia acuado pela polícia, mas também negou que tenha tentado atirar em um dos policiais que participava das negociações. "Então, como se sentia acuado?", questionou.
Para o advogado, “os jurados já estão com a cabeça feita”. “Acredito que a pena dele será superior a 60 anos”. Para o advogado, ele não deve ter nenhuma pena atenuada, nem se livrar de nem um dos crimes. Na decisão do júri, acredita, “pesa a frieza”.
"Ele não tem como ser absolvido de nenhum dos crimes, em que pese ele ter prestado um interrogatório, eu diria assim, do ponto de vista jurídico, muito bem preparado, mas a frieza dele... em alguns momentos ele ria, não de nervoso, mas querendo colocar: ‘Você não esta entendendo, você escreva o que eu estou falando, e da a forma e maneira que eu estou falando’. Por isso eu tenho certeza de que ele será condenado por todos os crimes".
Durante o julgamento, Beraldo perguntou ao réu porque ele não se emocionava ao falar de Eloá. "Eu não vim aqui para dar show, para comover ninguém", respondeu. “A frieza pode pesar contra ele”, disse Beraldo ao deixar o fórum de Santo André (Grande São Paulo). “O Lindemberg não mostra nenhum arrependimento.”
O advogado relatou ainda ter perguntado ao réu se havia matado Eloá por ódio ou paixão e a resposta foi que ele ama Eloá até hoje. “Perguntamos se ele poderia cometer suicídio por saudade da Eloá, e ele disse que não.”
Desafio da promotoria
O jurista e professor de direito Luiz Flavio Gomes, que assistiu ao interrogatório de Lindemberg Alves, acredita que o maior desafio da promotoria será convencer os jurados de que o réu teve intenção de matar: “A promotora vai ter que provar que ele tinha intenção de matar pelo menos Eloá”.
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Para o jurista, a promotora Daniela Hashimoto terá que se valer das transcrições das gravações feitas durante as negociações entre Lindemberg e a polícia. Em uma delas --lida pela promotora nesta quarta-- ele diz “vou matar as duas [Eloá e Nayara] e vou me matar”. Ao ser questionado pela promotora, Lindemberg disse que tudo não passava de “blefe”.
Sobre o depoimento do réu, o jurista afirmou que Lindemberg “foi firme”. “Ele foi totalmente bem articulado nas palavras, foi firme. O fato de ele ter confessado alguns crimes pode ter impressionado os jurados. Ele disse 'estou na cadeia pagando pelo que fiz', mas disse também que não teve intenção de matar. Isso gera dúvida nos jurados.”
Terceiro dia
O terceiro dia de julgamento de Lindemberg Alves, acusado de matar Eloá Pimentel, 15, após mantê-la como refém por cerca de cem horas em outubro de 2008, foi quase totalmente dedicado ao depoimento do réu, que falou pela primeira vez sobre o caso. Ele ficou quase quatro horas respondendo a perguntas da juíza e da acusação. Já os questionamentos da defesa duraram cerca de dez minutos.
Lindemberg confessou que atirou em Eloá, mas negou que tenha planejado a morte da vítima. Também negou que tenha disparado contra um policial que participava das negociações e que tenha feito os amigos de Eloá reféns --eles teriam ficado por opção, segundo Lindemberg. No começou de seu depoimento, o réu pediu perdão à mãe de Eloá.
Lindemberg é acusado de cometer 12 crimes, entre eles homicídio duplamente qualificado por motivo torpe (contra Eloá), tentativa de homicídio (contra Nayara Rodrigues, amiga de Eloá, e contra o sargento Atos Valeriano, que participou das negociações), cárcere privado e disparos de arma de fogo.
O réu assumiu que atirou em Eloá, mas apenas após a ação policial. "Quando a polícia invadiu, a Eloá fez menção de levantar e eu, sem pensar, atirei [contra ela]. Foi tudo muito rápido. Pensei que ela fosse pegar minha arma", afirmou. A fala contraria a versão dos policiais, que alegam ter invadido o local apenas quando ouviram um disparo.
Sobre o tiro que acertou Nayara, Lindemberg disse não se lembrar. "Não posso dizer se atirei ou não na Nayara. Eu não me lembro."
Lindemberg também negou que já estivesse planejando atirar em Eloá, como relataram diversas testemunhas nos dois primeiros dias do julgamento. "Muita coisa que eu disse foi blefe para manter a polícia longe do local", disse. "Eu estava muito nervoso e tomei atitudes impensadas. Atirei para o chão para manter a polícia longe do apartamento."
O réu disse ainda que chegou a encarar o cárcere como uma "brincadeira". "Infelizmente foi uma vida que se foi, mas em alguns momentos levamos aquela situação como se fosse uma brincadeira", disse.
Após o depoimento, a sessão foi suspensa e será retomada nesta quinta-feira, às 9h, com o debate entre as partes: uma hora e meia para a acusação e uma hora e meia para a defesa, além da réplica e da tréplica (sendo uma hora cada). Somente depois disso, os jurados vão dar seu parecer e, na sequência, a juíza lerá o veredicto.
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