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Irmão de Eloá diz que Lindemberg é "um monstro", mas sua família o tratava "como um filho"

Débora Melo

Do UOL, em Santo André (SP)

14/02/2012 10h32


Começou por volta das 9h30 desta terça-feira (14) o segundo dia do julgamento do caso Eloá Pimentel no fórum de Santo André (Grande SP). O réu Lindemberg Alves, 25, acusado de matar a jovem Eloá Pimentel, chegou ao local por volta das 8h30.

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O primeiro depoimento foi de Ronickson Pimentel, 24, irmão mais velho de Eloá, que começou às 9h30 e terminou por volta de 10h25. Ele afirmou que o réu é "um monstro", embora sua família o tratasse como "um filho".

“Ele (Lindemberg) é um monstro, é capaz de tudo”, afirmou Ronickson, que era fuzileiro naval e hoje é policial militar. A testemunha afirmou que o comportamento de Lindemberg na frente da família de Eloá era completamente diferente da sua postura na rua.

Segundo Ronickson, Lindemberg era briguento, especialmente quando jogava futebol e era envolvido com ladrões de carro. Os dois não eram amigos, mas se toleravam, afirmou o irmão de Eloá. De acordo com o depoente, Lindemberg tinha aprovação da família. "Ele era tratado como um filho pelos meus pais", afirmou o irmão de Elóa, que encarou o réu durante o depoimento.

Choro

Ronickson se emocionou duas vezes durante o seu depoimento, ao falar da doação dos órgãos da irmã e depois ao citar o impacto que da morte de Eloá para o irmão mais novo, Everton Douglas.

“Meu irmão se fechou bastante. Acho que ele se sente um pouco culpado porque foi ele que apresentou Lindemberg para minha irmã. Eles eram amigos.”

VEJA COMO FOI O PRIMEIRO DIA DO JULGAMENTO

Ronickson disse que não aprovava o namoro da irmã, mas aceitava porque Eloá gostava muito de Lindemberg. Segundo ele, Eloá vivia chorando por conta dos problemas no relacionamento com o ex-namorado.  Na opinião de Ronickson, Lindemberg não podia dar um futuro bom para Eloá. “Dizia a ela ‘você não merece uma pessoa dessa, que te faz sofrer. Você é muito nova, tem muita coisa para conhecer’”.

A testemunha afirmou também que após o término do relacionamento com Elóa Lindemberg pediu, por telefone, que ele tentasse convencê-la a reatar o namoro, mas ele não chegou a ter a conversa com ela. No dia da invasão do apartamento, Lindemberg e Ronickson conversaram por telefone e o réu cobrou o irmão de Eloá para não ter lhe ajudado a reatar o namoro, segundo a testemunha.

Próximos depoimentos

Depois de Ronickson deverão depor as dez testemunhas convocadas pela defesa. A previsão é que o julgamento dure até quarta ou quinta-feira.

Após os depoimentos das testemunhas, o réu será interrogado –Lindemberg, que até agora se recusou a falar, poderá permanecer calado, mas sua advogada, Ana Lucia Assad, já adiantou que ele vai falar sobre o caso e "expor sua versão". Depois dessa etapa, os debates são abertos, com uma hora e meia para a acusação e uma hora e meia para a defesa, além da réplica e da tréplica.

O primeiro dia de julgamento durou pouco mais de nove horas e foi encerrado às 20h de segunda-feira (13). As quatro testemunhas que prestaram depoimento confirmaram que Lindemberg fazia ameaças de morte durante o cárcere privado. O testemunho mais esperado do dia era o da amiga de Eloá, Nayara Rodrigues, que foi feita refém junto com a jovem. Nayara pediu que Lindemberg fosse retirado da sala enquanto ela falasse.

A jovem, que foi ferida por um tiro no rosto quando a polícia invadiu o local, disse que o réu agrediu Eloá durante o período de cativeiro e que a vítima dizia o tempo todo que “sabia que ia morrer”. Nayara afirmou que ouviu três disparos antes da entrada da polícia no apartamento –o que comprova a tese da acusação, de que os tiros partiram do réu e não da polícia.

A amiga de Eloá também falou sobre o comportamento do ex-namorado da vítima. “Lindemberg passou a perseguir a Eloá depois que eles terminaram o namoro”, completou. Segundo a jovem, ele a considerava uma má influência para a vítima. "Ele tinha raiva de mim e da minha mãe porque a Eloá andava dormindo lá em casa e a gente saia bastante. Ele dizia que eu a influenciava diretamente."

Já sobre o comportamento do réu durante o cárcere, ela afirmou que Lindemberg dava risada e se vangloriava pela repercussão do caso na mídia. "Na televisão só passava isso [relatos do caso]", disse Nayara.

A advogada de defesa, Ana Lúcia Assad, questionou o teor do depoimento. “A Nayara mentiu e inventou (...). Por ela ser vítima, o depoimento dela é um depoimento suspeito”, disse. “Ela foi bem orientada por seu advogado, até simulou um choro, uma emoção, para dramatizar.”

Outros dois amigos de Eloá, que também foram mantidos reféns, afirmaram que Lindemberg os ameaçava de morte. "Ele dizia que ia fazer uma besteira", disse Victor Lopes de Campos respondendo às perguntas da promotora Daniela Hashimoto. Já Iago Oliveira afirmou que "ele ameaçava a Eloá a toda hora, e dizia que ela não ia sair viva de lá: ou ele ia matar todo mundo e se matar, ou matar a Eloá e se matar".

O sargento Atos Antonio Valeriano, policial militar que iniciou o trabalho de negociação com Lindemberg, disse que o jovem estava nervoso e dizia que “ia matar os quatro” e depois ameaçava também se matar.

O julgamento

O julgamento começou com o sorteio dos jurados –de um grupo de 25 pessoas, sete foram sorteadas para compor o júri: seis homens e uma mulher.

Na sequência, foram exibidas reportagens de diversas emissoras de televisão, incluindo uma entrevista com o réu durante o período do cárcere e trechos das negociações com a polícia. A linha da defesa é que a imprensa e a ação da polícia também contribuíram para a tragédia.

Já a promotora Daniela Hashimoto irá sustentar que Lindemberg é um jovem agressivo e possessivo, e que premeditou o assassinato de Eloá. Para a promotora, Lindemberg só não cometeu o crime assim que chegou à casa porque queria explicações dela sobre o motivo do fim do relacionamento.

Durante o período inicial do julgamento, Lindemberg manteve o olhar sempre fixo para frente –onde ficam os jurados, que assistiam aos vídeos– e as mãos juntas entre as pernas, sem esboçar nenhuma reação. Lindemberg chegou ao fórum por volta das 8h15. “Ele está calmo, mas ao mesmo tempo nervoso”, disse a advogada do réu, Ana Lúcia Assad. “Espero que os jurados venham desarmados, prontos para receber a versão do menino. Ele é um bom rapaz.”

Antes de ouvir as testemunhas, a juíza Milena Dias aceitou dois pedidos da defesa: autorizou que as algemas do réu fossem retiradas e permitiu a inclusão da mãe e do irmão mais novo da jovem como testemunhas. A promotora se manifestou contrária aos pedidos e a advogada do réu chegou a ameaçar deixar o plenário caso a mãe de Eloá, Ana Cristina Pimentel, não fosse relacionada como testemunha.

Com as alterações, Ana Cristina será ouvida no lugar do perito Nelson Gonçalves. O irmão mais novo da vítima, Everton Douglas, que também era amigo de Lindemberg, será ouvido no lugar da jornalista Ana Paula Neves. Os jornalistas Sonia Abrão, Roberto Cabrini e Gotino, e o perito Ricardo Molina –todos chamados a depor– foram dispensados.

Ao todo, serão ouvidas 15 testemunhas durante os dias de julgamento. As convocadas pelo Ministério Público são Nayara Rodrigues, Vitor Lopes de Campos, Iago Vilela de Oliveira, o sargento Atos Valeriano e Ronickson Pimentel.

As testemunhas da defesa são: a mãe e o irmão mais novo de Eloá, Marcos Antonio Cabello (advogado que participou das negociações), Rodrigo Hidalgo, Márcio Campos, Dairse Aparecida Pereira Lopes, Hélio Rodrigues Ramacciotti, Sergio Luditza, Adriano Giovanini e Paulo Sergio Squiavo.

O réu é acusado de cometer 12 crimes, entre eles homicídio duplamente qualificado por motivo torpe, tentativa de homicídio (contra Nayara Rodrigues e contra o sargento Atos Valeriano), cárcere privado e disparos de arma de fogo. Se for condenado por todos os crimes, a pena pode ser superior a cem anos de prisão –Lindemberg está preso desde 2008.

Entenda o caso

Lindemberg Fernandes Alves, então com 22 anos, invadiu o apartamento de sua ex-namorada Eloá Cristina Pimentel, 15, no segundo andar de um conjunto habitacional na periferia de Santo André, na Grande São Paulo, no dia 13 de outubro de 2008. Armado, ele fez reféns a ex-namorada e outros três amigos dela, que estavam reunidos para fazer um trabalho da escola.

Em mais de cem horas de tensão, Lindemberg chegou a libertar todos os amigos, mas Nayara Rodrigues acabou voltando ao cativeiro, no ponto mais polêmico da tragédia --a polícia, que trabalhava nas negociações, foi bastante criticada por ter permitido o retorno.

Em depoimento, Nayara afirmou que, após ter sido liberada, foi procurada por policiais que queriam que ela tentasse convencer Lindemberg a libertar Eloá pelo telefone. Então ela os acompanhou até o local do sequestro e foi orientada pelo rapaz ao celular a subir as escadas. Nayara disse que Lindemberg prometeu que os três desceriam juntos, mas, quando chegou à porta, viu que ele estava com a arma apontada para a cabeça de Eloá. Então, ele puxou Nayara para dentro do apartamento e não a libertou mais.

Mais tarde, policiais militares do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) invadiram o apartamento, afirmando que ouviram um estampido do local. Em seguida, foram ouvidos tiros. Dois deles atingiram Eloá, um na cabeça e outro na virilha, e outro atingiu o nariz de Nayara. Eloá morreu horas depois. Lindemberg foi preso.