Jurados se reúnem para decidir se Lindemberg é culpado ou inocente pelo caso Eloá
Os jurados estão reunidos para decidir se o réu Lindemberg Alves, acusado de matar Eloá Pimentel após mantê-la como refém por cerca de cem horas em outubro de 2008 em Santo André (ABC paulista) é culpado ou inocente por esses e outros crimes.
O júri, composto por seis homens e uma mulher, deve responder, em uma sala reservada, a um questionário com 49 perguntas. Cada pergunta referente aos crimes receberá como resposta ‘sim’ ou ‘não’ --os jurados não podem conversar nem debater os temas entre si. Após o parecer de todos, a sentença será lida pela juíza Milena Dias.
O réu é acusado de cometer 12 crimes, entre eles um homicídio duplamente qualificado (contra Eloá), duas tentativas de homicídio (contra Nayara Rodrigues, amiga de Eloá, e contra o sargento Atos Valeriano, que participou das negociações), cárcere privado (de Eloá, Victor Campos, Iago Oliveira --que também foram feitos reféns-- e duas vezes de Nayara --que retornou ao cativeiro após ser liberada) e disparos de arma de fogo (foram feitos quatro).
Neste quarto, e provavelmente último, dia de julgamento, foi a vez de acusação e defesa defenderem suas teses a respeito dos crimes. A primeira a falar foi a promotora Daniela Hashimoto. Segundo ela, Lindemberg já sabia o que iria fazer quando foi à casa de Eloá. “Não se baseiem em performances, mas nas provas”, afirmou olhando para aos jurados. "Coloquem-se no papel das vítimas."
Hashimoto afirmou que Lindemberg mentiu ao falar que os demais reféns --amigos de Eloá que estavam fazendo um trabalho de escola quando o réu chegou-- poderiam deixar a casa quando quisessem. A promotora chegou a comparar a situação com a vivida pelo apresentador Silvio Santos em 2001, quando foi feito refém dentro de sua casa.
Hashimoto também disse que não há dúvidas sobre quem atirou e matou a jovem Eloá. A promotora também defendeu que Lindemberg atirou contra Nayara. "A perícia comprovou que a Nayara foi atingida por um projétil de calibre 32. Só o Lindemberg tinha essa arma no dia dos fatos", declarou.
Já a advogada de defesa, Ana Lúcia Assad, reconheceu que não pediria absolvição de seu cliente. "Não vou pedir a absolvição dele [Lindemberg]. Ele errou, tomou as decisões erradas e deve pagar por isso, mas na medida do que ele efetivamente fez", disse. "Peço que os senhores condenem o Lindemberg pelo homicídio culposo [sem intenção de matar], pois ele não desejou o resultado. Ele sofre pela morte dela [Eloá]."
Ontem, o réu deu seu depoimento e confessou que atirou em Eloá, mas negou que tenha planejado a morte da vítima --o tiro teria sido dado após ele tomar um susto com a invasão policial.
A defensora, contudo, contradisse seu cliente em alguns momentos. Assad afirmou, por exemplo, que o tiro em Nayara foi dado após um susto. "Ele não tentou matar a Nayara. Ele se assustou e atirou.” Lindemberg, contudo, disse ontem que não se lembrava de ter atirado na segunda refém.
Depoimento do réu no terceiro dia
O terceiro dia do julgamento de Lindemberg foi quase totalmente dedicado ao depoimento do réu, que falou pela primeira vez sobre o caso. Ele ficou mais de cinco horas respondendo a perguntas da juíza e da acusação. Já os questionamentos da defesa duraram cerca de dez minutos.
Lindemberg confessou que atirou em Eloá, mas negou que tenha planejado a morte da vítima. "Quando a polícia invadiu, a Eloá fez menção de levantar e eu, sem pensar, atirei [contra ela]. Foi tudo muito rápido. Pensei que ela fosse pegar minha arma", afirmou. A fala contraria a versão dos policiais, que alegam ter invadido o local apenas quando ouviram um disparo. O réu também negou que tenha disparado contra um policial que participava das negociações e que tenha feito os amigos de Eloá reféns --eles teriam ficado por opção, segundo Lindemberg. No começou de seu depoimento, o réu pediu perdão à mãe de Eloá.
Sobre o tiro que acertou Nayara, Lindemberg disse não se lembrar. "Não posso dizer se atirei ou não na Nayara. Eu não me lembro."
Lindemberg também negou que estivesse ameaçando matar Eloá, como relataram diversas testemunhas nos primeiros dias do julgamento. "Muita coisa que eu disse foi blefe para manter a polícia longe do local", disse. "Eu estava muito nervoso e tomei atitudes impensadas. Atirei para o chão para manter a polícia longe do apartamento."
O réu disse ainda que chegou a encarar o cárcere como uma "brincadeira". "Infelizmente foi uma vida que se foi, mas em alguns momentos levamos aquela situação como se fosse uma brincadeira", disse. Após o depoimento, a sessão foi suspensa.
Segundo dia
O segundo dia de julgamento teve como destaque a versão dos familiares da vítima sobre o caso. Os dois irmãos de Eloá prestaram depoimento na terça-feira (14). O primeiro foi Ronickson Pimentel, 24, o irmão mais velho. Ele afirmou que Lindemberg é "um monstro", embora sua família o tratasse como "um filho". “Ele é um monstro, é capaz de tudo”, afirmou Ronickson. A testemunha disse que o comportamento de Lindemberg na frente da família de Eloá era completamente diferente da sua postura na rua –geralmente uma pessoa briguenta, especialmente quando jogava futebol.
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Ronickson se emocionou ao citar o impacto da morte de Eloá para o irmão mais novo, Everton Douglas, 17. “Meu irmão se fechou bastante. Acho que ele se sente um pouco culpado porque foi ele que apresentou Lindemberg para minha irmã. Eles eram amigos.”
Ao dar seu depoimento mais tarde, Everton confirmou que “infelizmente” era muito amigo de Lindemberg.
A mãe de Eloá, que foi arrolada como testemunha da defesa, chegou a entrar no plenário para depor, mas foi impedida pela advogada Ana Lúcia Assad, que voltou atrás e dispensou o depoimento.
No período em que esteve no plenário, Ana Cristina Pimentel encarou o réu. "Não vi arrependimento nele, ele não pediu perdão", afirmou depois aos jornalistas.
Também prestaram depoimento nesta terça outras testemunhas de defesa, entre elas dois jornalistas que fizeram a cobertura do caso.
Dois policiais que participaram das negociações para libertar Eloá também foram arrolados como testemunhas. O delegado Sérgio Luditza disse que os planos de resgate mudaram quando o réu disse a seguinte frase: “eu estou ouvindo um anjinho e um capetinha e o capetinha está vencendo".
Também prestou depoimento por cerca de 4 horas o agente do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) Adriano Giovanini. Ele disse que Lindemberg “espancava muito Eloá durante o cárcere”. De acordo com o agente, o réu anunciava constantemente que ia matar a jovem e cometer suicídio. Segundo Giovanini, um tiro disparado dentro do apartamento motivou a invasão do local.
O agente também foi questionado sobre a volta da outra refém, Nayara Rodrigues, ao cativeiro. “A volta da Nayara não foi planejada, foi um excesso de confiança na Nayara porque o Lindemberg tinha dito que se entregaria na presença dela e do irmão mais novo de Eloá”, alegou.
Primeiro dia
O primeiro dia de julgamento durou pouco mais de nove horas e foi encerrado às 20h de segunda-feira (13). As quatro testemunhas que prestaram depoimento confirmaram que Lindemberg fazia ameaças de morte durante o cárcere privado. O testemunho mais esperado do dia era o da amiga de Eloá, Nayara Rodrigues, que foi feita refém junto com a jovem. Nayara pediu que Lindemberg fosse retirado da sala enquanto ela falasse.
Outros dois amigos de Eloá, que também foram mantidos reféns, afirmaram que Lindemberg os ameaçava de morte. "Ele dizia que ia fazer uma besteira", disse Victor Lopes de Campos respondendo às perguntas da promotora Daniela Hashimoto. Já Iago Oliveira afirmou que "ele ameaçava a Eloá a toda hora, e dizia que ela não ia sair viva de lá: ou ele ia matar todo mundo e se matar, ou matar a Eloá e se matar".
O sargento Atos Antonio Valeriano, policial militar que iniciou o trabalho de negociação com Lindemberg, disse que o jovem estava nervoso e dizia que “ia matar os quatro” e depois ameaçava também se matar.
Ana Cristina Pimentel mostra a foto da filha Eloá
Entenda o caso
Lindemberg Fernandes Alves, então com 22 anos, invadiu o apartamento de sua ex-namorada Eloá Cristina Pimentel, 15, no segundo andar de um conjunto habitacional na periferia de Santo André, na Grande São Paulo, no dia 13 de outubro de 2008. Armado, ele fez reféns a ex-namorada e outros três amigos dela, que estavam reunidos para fazer um trabalho da escola.
Em mais de cem horas de tensão, Lindemberg chegou a libertar todos os amigos, mas Nayara Rodrigues acabou voltando ao cativeiro, no ponto mais polêmico da tragédia --a polícia, que trabalhava nas negociações, foi bastante criticada por ter permitido o retorno.
Em depoimento, Nayara afirmou que, após ter sido liberada, foi procurada por policiais que queriam que ela tentasse convencer Lindemberg a libertar Eloá pelo telefone. Então ela os acompanhou até o local do sequestro e foi orientada pelo rapaz ao celular a subir as escadas. Nayara disse que Lindemberg prometeu que os três desceriam juntos, mas, quando chegou à porta, viu que ele estava com a arma apontada para a cabeça de Eloá. Então, ele puxou Nayara para dentro do apartamento e não a libertou mais.
Mais tarde, policiais militares do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) invadiram o apartamento, afirmando que ouviram um estampido do local. Em seguida, foram ouvidos mais tiros. Dois deles atingiram Eloá, um na cabeça e outro na virilha, e outro atingiu o nariz de Nayara. Eloá morreu horas depois. Lindemberg foi preso.
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