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Marinha diz que chance de gerador ter causado fogo em base na Antártida é remota

Do UOL, em São Paulo

27/02/2012 17h36

A Marinha informou na tarde desta segunda-feira (27), por meio de sua assessoria de imprensa, que é remota a possibilidade de o gerador movido a etanol, que estava funcionando de forma experimental na Estação Antártica Comandante Ferraz, ter provocado o incêndio que destruiu o local. O equipamento foi desenvolvido pela Vale Soluções em Energia (VSE). A empresa é uma sociedade da mineradora Vale com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Em janeiro, o Ministério da Defesa anunciou que, com a iniciativa, o Brasil tornou-se o primeiro país a gerar energia a partir de biocombustível na Antártida. O fogo que atingiu a estação brasileira no continente começou na praça das máquinas, onde funcionavam os geradores de energia da estação, e se alastrou rapidamente.

Ainda não se sabe se o motogerador a etanol ficava nessa área nem se o equipamento foi atingido pelas chamas. Procurada, a Vale preferiu não comentar o assunto.

Pesquisas comprometidas

O incêndio que destruiu a Estação Antártica Comandante Ferraz e matou dois militares, na Ilha Rei George, comprometeu 40% do programa antártico brasileiro. A avaliação é do diretor do Centro Polar e Climático da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Jefferson Simões, que já esteve 19 vezes no continente gelado, das quais cinco em Comandante Ferraz.

E segundo informações da Marinha, a avaliação preliminar da equipe que esteve na estação brasileira indica que aproximadamente 70% das instalações foram destruídas pelo fogo. O prédio principal, onde ficavam a parte habitável e alguns laboratórios de pesquisas, foi completamente atingido pelo fogo, tendo permanecidos intactos os refúgios (módulos isolados para casos de emergência), os laboratórios (de meteorologia, de química e de estudo da alta atmosfera), os tanques de combustíveis e o heliponto da Estação, que são estruturas isoladas do prédio principal.

“Foram afetadas principalmente as áreas de biociência, algumas pesquisas sobre química atmosférica, de monitoramento ambiental, principalmente sobre o impacto da atividade humana naquela região do planeta. Infelizmente, isso também representou uma perda enorme em termos de equipamentos. Ainda não podemos estimar, mas ultrapassa a casa da dezena de milhões de dólares”, lamenta o pesquisador.

Ainda segundo Jefferson Simões, no entanto, o programa antártico continuará funcionando porque a Estação Comandante Ferraz, apesar de concentrar uma parte importante das pesquisas brasileiras, não era a única estação científica brasileira. Ele explica que, pelo menos metade dos pesquisadores, trabalha em navios de pesquisa ou em acampamentos isolados na Antártida. Além disso, Simões conta que, em janeiro deste ano, foi inaugurado um módulo de pesquisa no próprio continente antártico, chamado de Criosfera 1, localizado a 2.500 quilômetros ao sul de Comandante Ferraz, que está concentrando importantes pesquisas brasileiras. Segundo a Academia Brasileira de Ciências, essa é a estação de pesquisas latinoamericana mais próxima do Pólo Sul.

De acordo com o pesquisador, a reconstrução da Estação Comandante Ferraz demorará, pelo menos, dois anos, em consequência das condições geográficas da Ilha Rei George. “O processo de reconstrução, para voltar ao nível em que estava, demorará de dois a três anos. A logística é muito difícil e só podemos construir durante o verão antártico. E o inverno já está chegando”, disse.

Especialistas brasileiros estudam as consequências dos danos depois do incêndio de sábado, que começou numa área que abrigava os geradores elétricos da base Comandante Ferraz, localizada na baía de Almirantazgo, na ilha Rei Jorge, perto da ponta da península Antártica. A base, que foi estabelecida em 1984, tinha 2.600 m2 de área construída e realizava pesquisas científicas centradas nos ecossistemas costeiros e marinhos. O complexo contava com laboratórios, oficinas, estacionamentos para veículos e embarcações, lancha oceanográfica, heliporto, biblioteca, ginásio e panificadora, entre outros.

O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação afirmou que os cientistas da base realizavam estudos sobre os efeitos das mudanças climáticas na Antártida e seu impacto no planeta, além de pesquisas sobre a vida marinha e a atmosfera. O continente desempenha um papel crucial na regulação do clima e circulação oceânica na América do Sul.

Além da perda de equipamento muito valioso e toda a informação coletada desde dezembro, o fogo deixa dezenas de grupos de estudo brasileiros sem uma base fixa na região, segundo os especialistas. A Antártida abriga sob sua camada gelada continental enormes recursos minerais e os mares circundantes estão repletos de recursos biológicos. As geleiras da Antártida contêm 90% da água fresca do mundo.

O crescente valor estratégico da região explica porque cerca de 30 países, todos signatários do Tratado Antártico, operam estações durante todo o ano ou no versão no continente. O tratado, que entrou em vigor em 1961 e atualmente tem 49 Estados-membros, estabelece a Antártida como um território cujo objetivo é estritamente científico, garante a liberdade para a pesquisa e proíbe a atividade militar.

Impacto político

Jefferson Simões afirmou também que o impacto do incêndio vai além do científico. "É político, também”. O professor disse esperar que, com o acidente, a opinião pública seja esclarecida sobre as atividades brasileiras na Antártida e que o fato repercuta no orçamento destinado às atividades de pesquisa no país.

A vice-presidente da Frente Parlamentar de Apoio ao Programa Antártico, deputada Jô Moraes (PCdoB-MG), tem percepção semelhante e diz que o Brasil precisa assumir a sua condição de sexta potência mundial: "o grau de investimento no continente não está à altura de um país como o nosso."

De acordo com a deputada, o Brasil destina poucos recursos à pesquisa na Antártida porque “há uma completa insensibilidade e inconsciência científica por parte da sociedade, do [Poder] Legislativo e do [Poder] Executivo. O programa de pesquisa na Antártida dá estatura ao Brasil”, ressalta.

Incêndio

O incêndio na Estação Comandante Ferraz  aconteceu na madrugada deste sábado (25). Segundo a Marinha do Brasil, um incêndio na "praça de máquinas", local onde ficam os geradores de energia da base, causou uma explosão. O fogo destruiu toda a estação, de 2.600 metros quadrados.

Dois militares brasileiros que haviam desaparecido durante o incêndio morreram: o suboficial Carlos Alberto Vieira Figueiredo e o sargento Roberto Lopes dos Santos, ambos da Marinha. Eles participavam do grupo de apoio que tentava apagar o incêndio originado na casa de máquinas da base.


“Num ato de heroísmo, eles estiveram justamente no local de maior risco, na tentativa de debelar o incêndio e não conseguiram”, disse o ministro da Defesa, Celso Amorim.

Devido às condições meteorológicas adversas na região, o chefe da Estação e os integrantes do Grupo-Base, que permaneceram na base combatendo o incêndio, foram transferidos para a base chilena Eduardo Frei.

(Com EFE, AFP, Agência Brasil e Agência Estado)