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Operários dizem que paredes de concreto e pilar foram derrubados na reforma de prédio que desabou no Rio

Do UOL, em São Paulo

03/04/2012 14h58

Em depoimento à Polícia Civil do Rio de Janeiro, dois operários que trabalhavam no edifício Liberdade afirmaram que pelo menos um pilar e sete paredes, sendo três de concreto armado, foram derrubados na reforma do 9º andar do prédio. As informações são do jornal "O Globo", que teve acesso aos depoimentos das testemunhas. O prédio desabou em janeiro deste ano junto com outros dois prédios, no centro da capital fluminense.

Um dos operários, Wanderley Muniz da Silva, disse em seu depoimento que "todas as paredes foram derrubadas, à exceção das da sala dos arquivos da T.O. [sigla da empresa Tecnologia Organizacional, com sede no edifício] e de parte da parede que dividia as salas do lado esquerdo do banheiro". Silva ainda declarou que o andar virou "um salão aberto".

Ele ainda relata que a parede do banheiro, quase no centro do andar, de concreto armado e que "demonstrava ser uma coluna mais resistente também foi derrubada e serrados seus ferros do teto e da base".

Ainda segundo o jornal, em seu depoimento, o operário Alexandro da Silva Fonseca, também confirmou a versão do colega. Já o encarregado da obra, Gilberto Figueiredo, confirmou que a mesma parede citada por Wanderley foi de fato derrubada.

Ele confirma que se ausentou nos cinco dias que antecederam a queda do Edifício Liberdade, e que quando retornou, no véspera do acidente, "a estrutura da coluna" citada por Wanderley "já não mais se encontrava no local, não tendo o declarante visto qualquer ferragem pendendo do teto o saindo do chão; que pode concluir que seus colegas a tenham derrubado".

O acidente

O desabamento de três prédios no centro do Rio de Janeiro no dia 25 de janeiro deste ano deixou 18 pessoas mortas. A principal suspeita é de que obras que aconteciam no 9º andar do edifício Liberdade --o mais alto dos três--, pavimento que pertencia a empresa TO, podem ter contribuído para o acidente.

No entanto, à época do desabamento, o proprietário da TO, Sérgio Alves, negou que as reformas de sua empresa possam ter provocado o acidente. O empresário afirmou à polícia que "um conjunto de fatores" pode ter sido o motivo do desastre. "Estou convicto de que as nossas reformas não afetaram a estrutura do prédio. (...) Não sou um especialista, mas acredito que isso aconteceu em função de um conjunto de fatores que fizeram do prédio uma 'bomba-relógio' de efeito retardado", disse.

Segundo o empresário, as reformas estavam "em processo de demolição", e apenas três paredes de tijolos foram destruídas no 9º andar com o objetivo de alterar a posição de um banheiro. Além disso, os operários realizavam "ajustes frequentes para regulagem das portas".

O proprietário da TO esclareceu ainda que a mudança na posição do banheiro não causou impacto algum quanto à distribuição da rede hidráulica. "O prédio possuía dois barbarás [tubulação que serve de escoamento para águas pluviais e esgoto], sendo um no canto e um no centro do andar que estava sendo reformado", disse.

Dois dias após o desastre, Alves admitiu ter iniciado os trabalhos no edifício Liberdade sem um laudo técnico assinado por engenheiro. Segundo ele, o síndico exigiu o documento, porém teria aceitado recebê-lo durante a reforma em razão de um problema particular do engenheiro contratado pela empresa, Paulo Sérgio Cunha Brasil.

"Foi acordado que o laudo seria entregue depois que a obra fosse iniciada", argumentou o empresário.

Veja o local onde desabaram os prédios no centro do Rio