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Com aproximação do inverno, cobradores de ônibus queixam-se de frio em "tubos" de Curitiba

Estação-tubo de Curitiba é fria nos meses de inverno, segundo cobradores - Luiz Costa/SMCS
Estação-tubo de Curitiba é fria nos meses de inverno, segundo cobradores Imagem: Luiz Costa/SMCS

Rafael Moro Martins

Do UOL, em Curitiba

28/04/2012 06h00

Cobradores de ônibus que trabalham nas 343 estações-tubo de Curitiba queixam-se do frio que sentem todos os anos durante os meses de inverno. “Essas estações encanam muito vento”, diz Eloína Fátima da Silva, 40 anos, há um ano trabalhando em estação-tubo. “Bem agasalhado, dá pra aguentar o frio. Mas aí é contra o regulamento”, afirma ela.

Atualmente, o uniforme dos cobradores é composto por uma camisa de mangas curtas de algodão e uma jaqueta fina de nylon, insuficientes para o frio da capital paranaense. É permitido rechear o uniforme com blusas de lã, mas nada pode ser usado sobre ele (como casacos pesados ou gorros na cabeça).

Até o ano passado era comum ver muitos dos cerca de 5.500 cobradores trabalhando nas estações com mantas ou cobertores sobre as pernas. Mas em agosto de 2011, em um dia em que a sensação térmica em Curitiba chegou perto de zero grau célsius, um cobrador foi multado pela fiscalização por “desrespeitar o uniforme”.

À época, o prefeito Luciano Ducci (PSB), em entrevista a um programa de rádio, disse ter ficado “indignado” com a multa e pediu “coerência” aos fiscais da Urbs, empresa da prefeitura que administra o transporte coletivo. Além disso, prometeu discutir soluções para o problema.

Estamos esperando os
uniformes de inverno, mas até agora nem a empresa nem o sindicato nos falou nada

Eloína disse já ter usado mantas e cobertores em seu trabalho. “Melhor correr risco de multa que pegar uma gripe”, falou, bem-humorada. Ela nunca foi multada, mas conhece colegas que não tiveram a mesma sorte.

Outra cobradora, que prefere não se identificar, disse temer o frio que vem adiante. “Tenho só três meses no serviço, mas já deu pra ver que essa jaqueta não aguenta muito. É muito fina. E tem muita fresta nas estações, o vento passa fácil.” Apesar disso, ela prefere não arriscar alternativas. “Para tudo tem multa, é melhor seguir o regulamento direitinho”, disse.

“Estamos esperando (os uniformes de inverno). Mas até agora nem a empresa nem o sindicato nos falou nada”, diz Allan Rafael Pereira Machado, 25, que também trabalha em estação-tubo, 6 horas por dia, seis dias por semana, como todos os colegas.

Fim das multas, mas nada de agasalhos

As soluções citadas pelo prefeito de Curitiba no ano passado ainda não foram discutidas. A assessoria de imprensa da Urbs informou ao UOL que os uniformes de inverno são uma questão a ser discutida entre Setransp e Sindimoc (sindicatos que representam, respectivamente, empresas e trabalhadores), e que por ordem do prefeito nenhum cobrador é multado se usar mantas ou cobertores.

A reportagem procurou o Setransp, que disse que não iria se manifestar. Um assessor ligado a uma das empresas de ônibus foi lacônico. “Isso é uma promessa do prefeito, não nossa.” O Sindimoc disse que se reuniu na semana passada com Urbs e Setransp, mas que nada foi apresentado.

Estação-tubo é aberta

  • Rafael Martins/UOL

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“Jogaram a bomba para os sindicatos”, disse um diretor, que também pediu para não ser identificado. A entidade que representa motoristas e cobradores pesquisa alternativas para o uniforme de inverno, a ser apresentada em nova reunião no início de maio.

A conta deve ser paga pelas empresas concessionárias do sistema, responsáveis por arcar com o custo dos uniformes dos cerca de 14 mil trabalhadores do transporte coletivo de Curitiba (40% dos quais são cobradores). Mas há dúvidas se há tempo para se confeccionar os uniformes até o início do inverno, que começa em junho.

Cartão postal criticado

Criadas pelo então prefeito Jaime Lerner no início da década de 1990, as estações-tubo servem como plataforma de embarque em ônibus das Linhas Diretas e do sistema expresso da cidade.

Apesar de terem se tornado um dos cartões postais da cidade, sempre receberam críticas de usuários, que reclamam do frio nos meses de inverno (as estações são fabricadas em aço e vidro, são abertas nas duas extremidades e não têm sistema de aquecimento) e de calor no verão.

Também não dispõem de banheiros para os cobradores, que fazem turnos de seis horas e precisam usar instalações de estabelecimentos comerciais da redondeza. A reportagem do UOL procurou Lerner em seu escritório de arquitetura, mas foi informada de que ele está em viagem ao México e não concede entrevistas por telefone do exterior.