Fugitivos da seca, trabalhadores são flagrados dormindo em fornos de carvoarias irregulares no Piauí
A PRF (Polícia Rodoviária Federal) concluiu, neste domingo (27), a primeira fase de uma operação que flagrou sete carvoarias irregulares no sul do Piauí, que mantinham trabalhadores em condições análogas à escravidão. As ações, que tiveram início no dia 23, contaram com apoio das polícias Civil e Militar e da Secretaria Estadual do Meio Ambiente.
A operação ocorreu na região do Estado mais afetada pela seca (próximo à divisa com a Bahia), o que --segundo os investigadores-- facilitou a cooptação de sertanejos vítimas da estiagem, que aceitavam as condições insalubres de trabalho. Ao todo, 70 trabalhadores foram encontrados em situação irregular. No local foram encontradas aproximadamente cinco toneladas de carvão.
A Secretaria Estadual do Meio Ambiente aplicou multas administrativas de R$ 230 mil às empresas, além de embargar as atividades irregulares. Duas motosserras sem licença foram apreendidas.
Segundo o inspetor-chefe do Núcleo de Operações Especiais da PRF no Piauí, Welendial Tenório, os trabalhadores que atuavam no local não tinham as garantias trabalhistas, nem contavam com equipamentos de proteção individual previstos por lei. Além disso, os trabalhadores seriam submetidos a condições degradantes de higiene e acomodações.
“Nós flagramos redes montadas nos fornos, locais onde os trabalhadores dormiam, o que é completamente insalubre. Além disso, encontramos três menores de 18 anos trabalhando. São situação irregulares, sem contar a mínima higiene dos locais e qualidade de acomodação, que são situações análogas à escravidão”, disse.
Segundo a PRF, 144 fornos irregulares foram encontrados durante a operação. “Segundo um estudo do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis), a área em questão é de mata atlântica, ou seja, a lei não permite qualquer tipo de atividade econômica, como desmatamento e carvão. E olhe que só realizamos operação em 10% da área questionada, ainda devemos encontrar mais irregularidades”, afirmou Tenório, estipulando em cerca de 200 o número de carvoarias instaladas na região.
O inspetor informou que os donos das carvoarias são de outros Estados. O carvão seria enviado diretamente para refinarias de Bahia e Minas Gerais. “Só eram do Piauí os trabalhadores. Com a seca na região, esse sertanejo é facilmente seduzido e recrutado a trabalhos sem as mínimas condições. Além do mais, com a estiagem, essas carvoarias aumentam o calor da região e ajudam a degradar ainda mais o solo”, disse, citando que todos os dados com as irregularidades serão repassados a Procuradoria e Justiça do Trabalho.
“Para implantar as carvoarias, os empresários utilizam como pretexto plantações alternativas, como a soja. O objetivo dessas carvoarias é atender a demanda das refinarias. Acreditamos, inclusive, que essas carvoarias estejam em nomes de 'testas de ferro' das refinarias. Elas exportavam uma carga de 10 carretas de carvão por semana”, disse.
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