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Hoje em emergência pela seca, Quebrangulo (AL) viveu calamidade pública da cheia em 2010

Carlos Madeiro

Do UOL, em Quebrangulo (AL)

17/06/2012 14h00

Destruído pela pior enchente em décadas, o município de Quebrangulo (118 km de Maceió) deixou o estado de calamidade pública causada pela cheia do rio Paraíba, em junho 2010, para, dois anos depois, ingressar na lista das cidades em situação de emergência pela seca do Nordeste.

O cenário hoje, com o rio calmo e praticamente seco, nem de longe lembra o desespero vivido há dois anos. Em junho de 2010, Quebrangulo teve 4.800 dos 12 mil moradores atingidos pela cheia. Ao todo, 760 casas foram destruídas e estão sendo reconstruídas --201 delas já foram entregues.

Apesar de estar na área de transição entre o agreste e o semiárido alagoano, o município –terra natal do escritor Graciliano Ramos-- sofre com os efeitos da longa estiagem. “Não estamos na situação como no sertão, mas sofremos com a falta de água. Aqui, 40% dos moradores são da zona rural e estão sofrendo com a falta de chuva. Temos 13 comunidades sem água”, disse o secretário de Agricultura e Obras de Quebrangulo, Sebastião Albuquerque Filho.

Ao contrário do sertão, onde a terra fica seca e até rachada pela falta de chuvas, em Quebrangulo existe a chamada “seca verde”, menos intensa, mas que causa uma série de problemas a produtores e criadores de gado. “Em termos econômicos, a seca é pior que a enchente, apesar da destruição do rio causar mais danos à infraestrutura de uma cidade. No caso da seca, ela eleva os preços da cesta básica. Além disso, a pecuária sofre um dano considerável, com a redução do preço do animal. A situação só não está pior porque tem muita gente trabalhando na reconstrução da cidade”, disse.

Apesar de ainda ser possível ver o verde no chão, os produtores rurais sofrem com a perda das plantações. O pouco que foi plantado à espera de chuva em março se perdeu. Agora, os agricultores esperam a chuva do inverno para tentar tirar o tempo perdido pelo início de ano sem plantio.

Onde fica Quebrangulo

  • Arte/UOIL

    Quebrangulo está a 118 km de Maceió

Morador às margens do rio Paraíba, o aposentado e agricultor Carlos Roberto da Rocha, 62, sofreu com a enchente e sofre com a estiagem. “Em 2010 perdi todos os móveis, tive que correr para o mato para não ser levado pela água. Este ano, não consegui fazer a plantação de milho e feijão que realizava todo ano nas terras de uma fazenda arrendada para produção. Estou esperando ver se vem chuva para começar.”

No sítio Manivas Romualdo, uma das 13 afetadas pela estiagem, os açudes estão secos ou próximos de secar. Os produtores também esperam pela chuva de inverno para iniciar a plantação. “Todo ano planto feijão, milho, fava, batata, e estou com a terra toda pronta, mas como não teve chuva, não pude plantar nada”, disse Floraci da Silva, 60.

Moradora da zona rural, Floraci contou que, apesar de estar distante do rio, também foi prejudicada pela enchente. “A cheia ocorreu da sexta para o sábado, que é o dia de feira. E naquela semana não teve a feira. Tivemos que ir até Palmeira dos Índios fazer as compras da semana, foi uma dificuldade”, disse.

Marcas

Dois anos após a enchente, as marcas das águas do rio Paraíba estão por toda parte em Quebrangulo. Muitas casas permanecem em ruínas, e os proprietários foram para casas de parentes. “Quem tinha para onde ir saiu. Aqui em casa, a parede caiu, e tive que refazer”, relatou a moradora Maria Correia, 50.

Assim como as demais cidades atingidas pela cheia em Alagoas e Pernambuco, Quebrangulo ainda está longe de ver toda infraestrutura refeita. “Temos muitas obras já feitas, mas temos muito ainda por fazer. Essa enchente foi a maior que já vimos e causou um enorme dano”, afirmou o secretário Sebastião Albuquerque Filho.