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Famílias que moram há 24 anos em presídio desativado de Alagoas ainda esperam por uma casa nova

Carlos Madeiro

Do UOL, em União dos Palmares (AL)

19/06/2012 14h00

Vinte e quatro anos de espera por uma casa nova. Esse é o drama de cerca de cem famílias de União dos Palmares (73 km de Maceió) que moram desde 1988 na comunidade Santa Fé, localizada em um presídio desativado na zona rural do município. A ideia era que os desabrigados passassem ali um período, logo após a enchente, até a construção de novas residências. Mas a promessa nunca foi cumprida.

Em junho de 2010, eles reacenderam a esperança de mudar de vida com a enchente que desabrigou ou desalojou mais de 5.000 pessoas no município. Á época, o UOL visitou a comunidade e ouviu relatos de quem tinha esperança de ter novamente uma casa própria.

Onde fica União dos Palmares

  • Arte UOL

    União dos Palmares está a 73 km de Maceió

Dois anos depois da nova enchente, a reportagem voltou à comunidade e viu que a principal mudança na comunidade é o sentimento dos moradores, que passou da esperança à desilusão. Segundo os moradores, não houve procura das autoridades para informar se eles seriam contemplados com as novas casas. A prefeitura, porém, garante que os moradores receberão moradias ainda este ano.

Sem água encanada e com ligações clandestinas de energia, os moradores continuam dividindo os 15 pavilhões e blocos administrativos e funcionais da antiga colônia prisional. A estrutura no local segue precária, com lixo espalhado e esgoto correndo a céu aberto por vários locais.

Em um dos pavilhões, a reportagem reencontrou, dois anos após a primeira visita, a primeira moradora da comunidade, Quitéria Pereira dos Santos, 47. Em junho de 2010, ela queixou que o pavilhão em que mora desde 1988 tem rachaduras e corre risco de desabamento. Em dois anos, a quantidade de rachaduras aumentou, o que tornou o local ainda mais insalubre.

“Não melhorou nada desde 2010, não foi feita nenhuma providência. Ninguém veio nos procurar, e perdi de vez a esperança. A gente vê as pessoas que foram atingidas bem depois que a gente receber casa e fica triste. Queria muito ter mais condição para criar meus filhos, mas vivo aqui, nesse local onde corro risco”, disse a mãe de cinco filhos.

O UOL também reencontrou Antônio José dos Santos, 60, que em junho de 2010 afirmou acreditar que a nova tragédia poderia incentivar os governantes a incluí-los nos novos conjuntos habitacionais. Questionado sobre o que mudou desde junho de 2010, Santos desabafa: “Agora estou com as pernas fracas e sofro de asma”.

Sobre as casas, Santos não deixa transparecer mais falsas esperanças. “Dizem que a gente vai receber uma casa dessas novas, mas até agora ninguém veio confirmar nada. Estou esperando”, disse. Nos dois últimos anos, segundo os moradores, a única novidade positiva  levada à comunidade foi a aula de percussão, que é dada às crianças, por meio do projeto Inaê.

“Esse projeto foi a única novidade, pois continuamos sem tudo aqui. Pedimos para receber energia e água, queríamos pagar por isso, mas os órgãos dizem que não podem atender porque é área estadual”, afirmou José Wilson da Silva, 30, citando que os moradores são obrigados a buscarem água na comunidade vizinha.

Outro lado

O UOL procurou a Secretaria de Infraestrutura de Alagoas, que informou que não há nenhum projeto em andamento para relocar os moradores da comunidade. O órgão disse que as casas que estão sendo construídas são exclusivas para atingidos pelas cheias de 2010 e recomendou que fosse procurada a prefeitura de União dos Palmares.

Em contato com a assessoria de comunicação do executivo municipal, a reportagem foi informada que os moradores não foram procurados, nos últimos meses, porque eles já foram cadastrados pela Secretaria de Assistência Social e serão inclusos em um dos conjuntos habitacionais que estão sendo construídos.

Ainda segundo a prefeitura de União dos Palmares, a inclusão dos moradores na lista de contemplados foi acordada com a Caixa Econômica Federal. A assessoria informou ainda que foram construídas mais casas do que o total destruído na enchente de 2010, justamente para estender as novas habitações a moradores que perderam suas residências em outras enchentes.