Topo

Após enchentes de 2010, PE não iniciou reconstrução de escolas; alunos assistem a aulas sob sol

Carlos Madeiro

Do UOL, em Água Preta (PE)

18/06/2012 06h00

Pernambuco teve 40 escolas destruídas pelas enchentes de junho de 2010. Dois anos após a tragédia, a maioria delas não teve sequer a obra iniciada, e, para não ficar sem aulas, os estudantes são obrigados a enfrentar um rotina de desafios, que inclui sol no rosto, bancas coladas umas às outras e barulho causado pela falta de divisão adequada das salas.

Em duas das cidades visitadas pelo UOL, as obras das novas escolas não haviam sequer começado. Em Água Preta (132 km do Recife), onde mais da metade da população da zona urbana foi atingida pelo transbordamento do rio Una, três escolas foram totalmente destruídas em junho de 2010, prejudicando mais de 3.000 estudantes. Entre os prédios levados pela água estava a maior das escolas municipais, a Padre Francisco, que tem 2.700 alunos matriculados.

“Para garantir as aulas desses alunos da Padre Francisco, a gente dividiu a unidade em quatro anexos, que funcionam no clube da cidade, e em três prédios alugados. Não é a estrutura de que gostaríamos, mas temos feito um sacrifício grande para manter as aulas em dia, sem que ninguém perca o ano. Sabemos que são salas fora dos padrões do MEC [Ministério da Educação], sem o tamanho mínimo, mas é o que podemos oferecer”, disse o gerente de ensino da Secretaria de Educação de Água Preta, José Otávio Correia.

Atualmente o município tem cinco prédios de escolas em funcionamento, mas que não suportam a demanda dos alunos. Correia afirmou que não tem uma data oficial para início das obras, que são de responsabilidade do governo do Estado.

“Nenhuma das três escolas teve obras iniciadas ainda. A informação extraoficial que tenho é de que as obras começam no segundo semestre, mas ainda não recebi a garantia disso. É muito ruim essa situação, porque nós [da prefeitura] é que recebemos toda a pressão dos pais, que veem o filho nesse improviso”, disse.

Sol, barulho e aperto

O UOL visitou o clube de Água Preta, onde estudam alunos da quinta à oitava série. No local foram improvisados tablados de madeira, que servem como divisórias das salas. Por não terem proteções laterais adequadas, o sol atinge diretamente os alunos de duas salas.

Onde fica Água Preta

  • Arte/UOL

    Água Preta está a 132 km do Recife

“É ruim demais [assistir aula no sol]. Mas fazer o quê se a lona está rasgada? Além disso, tem o barulho, e os professores precisam falar alto”, disse Laudemir Paulo da Silva, 12, que está na sexta série, citando a lona colocada pela direção da escola, que não resistiu ao vento e apresenta diversos furos.

Segundo a coordenadora de ensino da escola, Tamires Sobrinho, as aulas estão sendo mantidas em dia, apesar de todas as dificuldades. “As salas foram divididas com madeira, o que não é o ideal porque não consegue impedir a passagem de som, e isso realmente atrapalha o aprendizado. Mas estamos nos moldando, com muita dedicação, para garantir a educação desses meninos”, afirmou.

Outra parte dos alunos da escola está no antigo restaurante Cabana, que chegou a ser alagado durante a enchente de junho de 2010, mas foi reformado para abrigar provisoriamente as aulas. Com oito salas, o problema do local é o aperto. As bancas ficam praticamente umas coladas nas outras.

Em Barreiros (108 km do Recife), que também foi devastada pela cheia em 2010, as escolas funcionam da mesma forma improvisada. A escola Luiz Bezerra de Melo está funcionando há quase dois anos em um galpão. No local, a acústica inadequada dificulta o aprendizado dos alunos.

Calor e evasão

“A gente escreve no quadro, mas depois para explicar é uma complicação. A gente precisa esperar que as outras salas façam silêncio. Mesmo assim acredito que o desempenho deles segue dentro da média. Na semana passada, eles participaram das olimpíadas de matemática e tiraram boas notas”, disse a professora de matemática Midian Barreto.

Outro problema enfrentado pelos alunos é o calor, que, durante o verão, contribui para a evasão escolar. “Fica um supercalor aqui, mas não temos opção e temos que esperar o novo prédio. Haverá uma reunião para decidir se voltamos à antiga escola ou se vamos ter um novo prédio realmente”, informou a supervisora de ensino da escola, Maria José.

Em nota, a Secretaria Estadual de Planejamento (Seplag) afirmou que reformou 400 das 558 escolas que tiveram instalações comprometidas pela cheia de junho de 2010 já foram reformadas. As outras estão em processo final de recuperação e devem ser entregues até outubro. Sobre as escolas destruídas (oito estaduais e 32 municipais), a Seplag se limitou a dizer que elas “serão realocadas para outros terrenos e reconstruídas até outubro de 2013.

Outro lado

Em nota, a Secretaria Estadual de Educação confirmou que as 30 escolas  (oito estaduais e 32 municipais) terão obras ainda iniciadas, e explica que a demora ocorreu por conta de entraves "como localização de novos terrenos e dominialidade dos mesmos causaram os atrasos."

Segundo o órgão, nas cidades de Água Preta, Barreiros, Gameleira e Palmares, os projetos de implantação já estão sendo preparados, e as documentações, providenciadas para solicitação da licitação e ordem de serviço. A previsão é que o início das obras ocorra até outubro. Serão investidos R$ 31 milhões nas construções das novas escolas.

Sobre os locais improvisados de aulas, a secretaria informou que eles foram escolhidos pelo município, "em conformidade com a comunidade." "O governo, através da Secretaria de Educação, entra apenas com o recurso financeiro, quando solicitado pelo município. Vale ressaltar que as reconstruções, construções e realocações são responsabilidade das parcerias entre governo e município, como está acontecendo."

A secretaria ainda informou que reformou 400 das 558 escolas que tiveram instalações comprometidas pela cheia de junho de 2010 já foram reformadas. As outras estão em processo final de recuperação e devem ser entregues até outubro."