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Apagão causado por curto-circuito é inadmissível, diz especialista

Avenida Agamenon Magalhães, em Recife (PE), um dos pontos do apagão - Guga Matos/Estadão Conteúdo
Avenida Agamenon Magalhães, em Recife (PE), um dos pontos do apagão Imagem: Guga Matos/Estadão Conteúdo

Fernando Cymbaluk

Do UOL, em São Paulo

26/10/2012 16h32

O apagão que atingiu 11 Estados na madrugada desta sexta-feira (26), nas regiões Norte e Nordeste do país, foi causada, segundo a ONS, por um curto-circuito na linha de transmissão Colinas-Imperatriz, no Tocantins. Para o professor Luiz Pinguelli Rosa, engenheiro da Coppe, instituto de pós-graduação em engenharia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), é inadmissível que isso ocorra numa subestação "crucial para o funcionamento do sistema elétrico do país".

"É um ponto de ligação, subdivide linhas de transmissão que seguem para o Norte, Nordeste e Sudeste. É um nó, um ponto muito delicado", explica Pinguelli, que acrescenta: "uma vez acontecendo [a falha], não pode se expandir dessa maneira".

No Brasil, as redes de transmissão que fornecem energia para todas as regiões são interligadas. Quando há algum problema de transmissão, um sistema de isolamento é acionado, "desligando" a energia de algumas regiões para evitar que uma desestabilização geral afete todo o sistema.

Pinguelli diz que, essa estratégia de ilhamento, que consiste em "desligar para isolar", em geral é bem feita. "Mas dessa vez não funcionou. O isolamento deve ocorrer em pequenas regiões. O apagão se expandiu para Estados inteiros", completa o engenheiro.

Cabos, linhas e equipamentos

Na visão do engenheiro da Coppe, mesmo em períodos de seca como o dos últimos meses, o Brasil não enfrenta problemas na geração de energia. Ele também elogia a interligação do sistema elétrico brasileiro, que "possibilita a conexão entre centros de consumo e usinas hidroelétricas".

No entanto, nos cabos e máquinas das linhas de transmissão, pontos de conexão e subestações de energia, o engenheiro enxerga enormes falhas.

"Nosso problema é com os elétrons. Está nos lugares onde a energia passa. Precisamos cuidar melhor deles [dos elétrons]", diz Pinguelli. "Atribuo os apagões a problemas em equipamento, erros de operação ou erros de projeto. Isso tudo envolve melhor engenharia". 

Segundo ele, correções em defeitos no sistema físico e melhorias nas redes transmissoras devem ser feitas para solucionar o problema dos blecautes. "É preciso dar maior robustez ao sistema. Apagões não deveriam acontecer, ou acontecer com grande raridade".

Avião voando sem uma turbina

O professor explica que o sistema elétrico brasileiro deve ter a capacidade de suportar a queda no fornecimento de energia em duas linhas. Atualmente, o sistema só dá conta de queda que ocorra em apenas uma linha.

"É como num avião. Ele possui duas turbinas, mas deve conseguir voar com apenas uma delas funcionando", explica o engenheiro. "No caso do sistema elétrico, se há dez linhas e duas perdem energia, o sistema tem que conseguir operar com oito".

Onde fica a subestação de Colinas, no Tocantins

  • Arte UOL

Problema reincidente

O apagão que ocorreu nesta sexta-feira é o terceiro registrado no país em 34 dias. No último dia 3 de outubro, uma pane em um dos transformadores de uma subestação da usina de Itaipu, administrada por Furnas, em Foz do Iguaçu (PR), causou um apagão em pelo menos cinco Estados brasileiros. Na época, os Estados do Paraná, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Acre, Rondônia, além de parte da região Centro-Oeste ficaram sem luz. Em algumas cidades, o blecaute durou cerca de 1h20.

No dia 22 de setembro, outro apagão atingiu oito dos nove Estados do Nordeste. Estima-se que pelo menos sete milhões de pessoas tenham sido afetadas. O problema, segundo a Cemar (Companhia Energética do Maranhão), ocorreu no sistema de suprimento elétrico de responsabilidade da Eletronorte (Centrais Elétricas do Norte do Brasil), em Imperatriz (MA), que teria causado a interrupção do fornecimento de energia em cadeia.

No dia 4 de outubro, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, determinou a criação de um grupo para examinar as recentes perturbações ocorridas no sistema elétrico nacional. A decisão foi tomada após reunião do Comitê de Monitoramento do Setor Energético (CMSE), que tem se responsabilizado por examinar as causas dos apagões ocorridos no país e propor soluções.