Taxista que teve o carro baleado em São Paulo evita periferia à noite a pedido da mãe
Uma festa à fantasia fez o taxista Ricardo Navas, 48, terminar bem a sexta-feira de 26 de outubro. Vestido com roupas árabes, ele curtiu a farra com os amigos até a meia-noite, antes de encarar mais uma madrugada de sábado ao volante. Há 21 anos nas ruas de São Paulo, Navas se sente "abençoado" por ter sido assaltado "somente uma vez".
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O Estado de São Paulo vive, desde maio, uma onda de violência que já somou centenas de mortos na capital paulista e em cidades próximas como Santo André, São Bernardo, Diadema, Guarulhos e Osasco.
No mês passado, os ataques a bala aumentaram consideravelmente.
Segundo a SSP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo), em 2012, o número de vítimas de homicídio doloso (com intenção de matar) na capital paulista já ultrapassou o total de morte de 2011: 1.157 frente a 1.069.
Na Grande São Paulo, de janeiro a outubro de 2012, já foram contabilizadas 1.016 vítimas de homicídio doloso, sem contar os casos da capital, ante 1.141 de 2011.
As estatísticas temerárias não impediram Navas de manter suas corridas pelas madrugadas de fim de semana, nem mesmo nessas regiões. Diferentemente de alguns colegas taxistas, que têm preferido evitá-las com medo da violência, ele diz que a distância aumentava seu soldo.
Naquela madrugada de 27 de outubro, ele agendara uma corrida para Pedreira, bairro periférico da zona sul de São Paulo. A fantasia ficou no porta-malas.
Por volta das 3h, depois de passar pela estrada do Alvarenga, já em Pedreira, o experiente taxista começou a trilhar um caminho que ele mesmo desconhecia.
“Vi que só tinha matagal ao redor e um lugar que parecia um povoado, só com um bar, muitos carros e motos e muita gente ouvindo funk bem alto”, conta.
Moto e tiros
Em seguida, Navas percebeu que uma moto com dois rapazes sem capacete começou a seguir seu carro.
“Como eu estava em um lugar desconhecido, mantive a velocidade baixa, até que vi o rapaz da garupa apontar uma arma para mim.”
Navas não foi atingido por sorte e reflexo. Ele se abaixou no banco ao lado e, somente segundos depois, percebeu que o automóvel havia sido baleado duas vezes. O primeiro tiro acertou o para-lama esquerdo, e o segundo, a porta do mesmo lado, estilhaçando a janela.
“Minhas costas ficaram cheias de vidro, mas eu voltei ao volante quando percebi que eles tinham ido embora. Quando olhei no retrovisor, já estavam longe porque achavam que tinham me acertado”, disse.
Assustado, Navas acionou a polícia pelo rádio e continuou sua busca pela casa do cliente. Quando a encontrou, o passageiro, surpreso com a história, tirou fotos e suspendeu a corrida.
A experiência não deixou muitas marcas. Navas permanece na profissão e só abandonou os passageiros da periferia à noite a pedido da mãe.
“Continuo trabalhando nas madrugadas de fim de semana, mas não vou buscar ninguém na periferia sozinho, só se eu levar o passageiro, por respeito a ela [a mãe]”, contou.
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