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Sinais de devastação marcam antigo hotel de luxo de São Paulo ocupado por sem-teto

Larissa Leiros Baroni

Do UOL, em São Paulo

15/12/2012 06h00

Mesmo em meio a evidente degradação, o antigo hotel Cambridge é um dos 11 prédios da região central de São Paulo ocupado por integrantes da FLM (Frente de Luta por Moradia). Ao menos 200 famílias --entre elas 100 crianças-- se tornaram hóspedes do local, que já chegou a abrigar visitantes ilustres como o cantor norte-americano Nat King Cole.   

Na entrada principal, o primeiro sinal de abandono do prédio, que foi desapropriado pela Prefeitura de São Paulo há três anos e, desde então, encontrava-se lacrado. O cheiro de mofo invade o saguão do edifício. Nas janelas, há mais vidros quebrados do que inteiros. Os tacos do chão de um dos salões do antigo hotel também não conseguiram sair ilesos. Os pedaços que faltam do piso se mesclavam com o cimento queimado o que dá um aspecto ainda maior de degradação.

Os sinais de abandonos não param por aí. Nos andares dos quartos, paredes com marcas de bolor, umidade e deterioração da pintura. Os quadros de luz denunciam muito mais do que o abandono: a ação de vândalos. Os fios foram todos cortados. Só restaram os equipamentos enferrujados.

"Para ocuparmos o local, tivemos que tirar 25 caminhões de lixo", conta Carmen da Silva Ferreira, 52, coordenadora da FLM. Segundo ela, o imóvel era foco de dengue, já que o subsolo do prédio foi encontrado inundado. Além da limpeza geral, os novos integrantes tiveram que investir na drenagem da água e na improvisação de uma rede elétrica, com fios correndo por todos os cantos do edifício.

Carmem afirma ainda que o movimento "livrou" o prédio de um possível incêndio. "Uma das bombas de água estava em curto e como havia carpete e imóveis no local poderia perfeitamente ter provocado um incêndio", diz Carmen, que afirma achar um "absurdo" a Prefeitura de São Paulo permitir que prédios desapropriados sejam degradados pelo tempo e também por vândalos, enquanto há milhares de paulistanos sem um teto para morar.

"Antes da ocupação, pessoas usavam o local para uso de drogas e para retirar 'peças de valor' como o cobre para vender e sustentar o vício."

O prédio, ocupado no último dia 23 de novembro, ganha vida e modernização dentro dos quartos, que receberam decorações especiais de cada um de seus moradores. Alguns com ursinhos de pelúcia, outros com porta-retratos, quadros, televisões, vídeos game e até notebooks. 

"Enquanto houver prédios abandonados e pessoas sem moradia continuarem organizando ocupações", diz Carmen, que já atua no movimento pelo menos 20 anos. "Prédios abandonados só servem para proliferar ratos e bactérias", afirma Carmen, que diz que o custo da degradação dos edifícios pode ser ainda maior para a Prefeitura de São Paulo. "Uma possível degradação pode inviabilizar reformas e até mesmo exigir a demolição do edifício. Esse ainda não é o caso do Cambridge, mas é preciso uma ação preventiva rápida."

A reintegração de posse do Hotel Cambridge, que também já serviu de danceteria para os paulistanos, está marcada para o dia 28 de janeiro de 2013. "Nós apostamos, no entanto, no próximo governo para que possamos prorrogar esse prazo ou até mesmo para encontrar uma alternativa para as 200 famílias sem-teto", alega a coordenadora. "Não é aceitável trabalhadores morarem na rua ou na casa de parentes na terceira maior metrópole do mundo."