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Membro do ETA preso no Rio era professor de espanhol e tradutor

Joseba Gotzon Vizán González,  integrante do grupo separatista ETA, foi preso pela Polícia Federal no Rio de Janeiro. Ele estava foragido da Justiça da Espanha quando foi condenado por ter participado de um atentado à bomba que matou duas pessoas em 1988 - Hudson Pontes / Agência O Globo
Joseba Gotzon Vizán González, integrante do grupo separatista ETA, foi preso pela Polícia Federal no Rio de Janeiro. Ele estava foragido da Justiça da Espanha quando foi condenado por ter participado de um atentado à bomba que matou duas pessoas em 1988 Imagem: Hudson Pontes / Agência O Globo

Gustavo Maia

Do UOL, no Rio

18/01/2013 17h36Atualizada em 18/01/2013 18h16

O membro do grupo separatista basco ETA, preso na manhã desta sexta-feira (18) no Rio de Janeiro, vivia de forma tranquila na zona sul da cidade, com a mulher e o filho, ambos espanhóis, e atuava como professor de espanhol e tradutor. Joseba Gotzon Vizán González, 53, foi identificado e detido pela Polícia Federal depois que o governo espanhol entrou em contato com a polícia brasileira. Ele estava foragido havia mais de 20 anos.

Segundo o superintendente regional da PF no Rio de Janeiro, Valmir Lemos de Oliveira, as investigações começaram há cerca de três semanas. “Nós recebemos a notícia de que um cidadão espanhol estaria residindo no Brasil através de um documento falso que ele teria obtido após a falsificação do processo de cadastramento para permanência no país. Essas informações passaram a ser trabalhadas junto com o governo espanhol por meio dos órgãos de segurança de lá e após diversas diligências conseguimos confirmá-las”, explicou.

De acordo com o governo espanhol, Joseba é alvo de um mandado de prisão por um atentado terrorista. Ele é acusado pelas autoridades espanholas de fazer parte de um comando "legal" do ETA que colocou uma bomba no veículo do agente do Corpo Nacional da Polícia Manuel Muñoz Domínguez. O policial ficou gravemente ferido no ataque, em 1988. Também pesam sobre ele, no mesmo ano, a tentativa de assassinato de um agente da polícia e um atentado com granadas contra uma comissária da polícia no País Basco, esta fracassada.

O terrorista fugiu da Espanha em 1991, já tendo uma condenação transitada em julgado, de 20 anos de reclusão. Ele teria chegado ao Brasil em 1996, após passar pela França e pelo México. Segundo Valmir Oliveira, ainda não se pode afirmar se Joseba e sua família fixaram residência no Rio em todo este período. “Concentramos nossas investigações para prendê-los. Agora que ele está detido, vamos continuar a apurar para descobrir outras informações”, disse o superintendente.

Ainda de acordo com Oliveira, os policiais conseguiram confirmar o endereço do espanhol –o bairro não foi informado pela PF– na última quarta-feira (16), mas precisavam de outra prova. “Dada a sensibilidade e a fragilidade das informações, necessitávamos de mais algum dado. Conseguimos por meio de nosso banco de dados de estrangeiros no país enviar as digitais dele para que o governo espanhol confirmasse sua identidade”, afirmou.

No Brasil, o terrorista usava o nome verdadeiro de outro espanhol, Aitor Julian Arechaga Echevarria. Por isso, ele vai responder pelo crime de uso de documento público falso, previsto no artigo 304 do Código Penal, que tem reclusão de um a cinco anos de prisão. Segundo Oliveira, Joseba assumiu o crime cometido em terras brasileiras e disse que não conhecia o dono da identidade que estava usando. O caso continuará a ser investigado.

Ele foi levado no fim da tarde desta sexta para uma unidade prisional do Rio de Janeiro (também não informada pela PF), onde permanecerá a disposição tanto da Justiça brasileira quanto da espanhola, que pode pedir sua extradição.

Asilo político

Joseba foi surpreendido por agentes federais nas proximidades de sua casa. O superintendente contou que Joseba não ofereceu nenhuma resistência e se manteve calmo. “Ele chegou a perguntar a um policial sobre a possibilidade de receber asilo político no Brasil e disse que sua situação na Espanha era política. Mas isso não cabe a nós.”