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Após serem flagrados em vídeo, PMs são investigados por cobrar propina em blitz no Rio

Julia Affonso

Do UOL, no Rio de Janeiro

20/02/2013 13h40

Oito policiais militares do 41º BPM (Irajá) são investigados pelo Ministério Público do Rio de Janeiro após terem sido filmados e fotografados pela Corregedoria da PM recebendo propina em quatro blitz nos bairros de Anchieta e Guadalupe, na zona norte da capital fluminense. Na Auditoria Militar, os policiais são processados pelo crime de concussão e podem pegar até oito anos de prisão. Internamente, respondem a um inquérito administrativo, que vai investigar o caso em até 30 dias e decidir se eles serão expulsos ou não da corporação.

Corregedoria flagra PMs pedindo propina em blitz no RJ

Segundo a corregedoria, eles ainda não foram ouvidos, mas estão trabalhando administrativamente e tiveram porte de arma e carteira funcional cassados até o processo ser concluído. Todos os policiais tiveram a prisão preventiva pedida pelo Ministério Público e indeferida pela Justiça Militar. O promotor Bruno Guimarães do MP, responsável pelo caso, informou que vai recorrer da decisão da Justiça e pedir novamente a prisão dos acusados.

De acordo com o chefe da Corregedoria da PM, Coronel Waldyr Soarez Filho, em um dos casos, uma vítima, que estava com o IPVA atrasado, contou em depoimento que teria sido extorquida em R$ 50. Quando foi pagar, deu uma nota de R$ 100 e esperou o troco. Neste momento, um policial teria dito ao outro: “Polícia dando troco, já viu essa?”. Sem uma nota de R$ 50, o policial devolveu R$ 20, deixando a propina em R$ 80.

A investigação começou em setembro de 2012, após denúncias na ouvidoria da corregedoria e do Ministério Público sobre policiais militares do 41º BPM que faziam moto patrulhamento e recebiam propinas em blitz. Investigadores acompanharam a rotina dos policiais durante um mês, tirando fotos e filmando as ações.

“Nós retardamos a prisão em flagrante para aumentar o universo de pessoas envolvidas no crime e descobrimos que 11 policiais estavam no caso. Levamos ao MP, que denunciou oito, porque não comprovou que os outros três teriam recebido propina. Dois deles estavam afastados dos que receberam dinheiro”, disse o corregedor. “Um nós filmamos abrindo o bagageiro e o motorista colocando algumas notas. O MP entendeu que isso não configuraria o crime, pois a pessoa poderia ter deixado as notas sem o policial saber. Internamente, estes três estão respondendo por omissão.”

Ainda de acordo com o coronel, as investigações apontam que pedir propina fazia parte da rotina dos policiais acusados. “Eles saíam para o serviço, faziam o trabalho e tiravam vantagens econômicas também. Não sabemos a quantia exata que eles receberam, mas deve ter sido algo em torno de R$ 300 a cada blitz, pois víamos notas de R$ 20, R$ 50 e R$ 100 nos vídeos”, contou.

As vítimas foram identificadas e, se for comprovada a exigência do dinheiro por parte dos policiais, elas não terão responsabilidade sobre o ato. “Quando o agente público exige o pagamento de propina, as pessoas são obrigadas a dar e isso tira a responsabilidade da vítima. O MP vai analisar as imagens e ver se foi isso que realmente aconteceu”, disse Soarez Filho. "Caso contrário, elas serão investigadas."