Trem tem um descarrilamento a cada 15 dias neste ano; em 2012, houve menos de um por mês
Em menos de quatro meses, a Agetransp (Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos para Transportes) registrou um caso a cada 15 dias (em um total de oito) de descarrilamento envolvendo trens da Supervia, concessionária que administra o transporte ferroviário no Rio de Janeiro. Em todo o ano passado, foram registrados nove incidentes, menos de um por mês e um a mais dos registrados neste ano.
Panes em trens no Rio
Homem caiu de trem superlotado entre as estações Vila Militar e Deodoro, no ramal Santa Cruz, e provocou atrasos e filas
Trem danificado após descarrilar em Madureira, no Rio, em setembro de 2012
Passageiros protestaram, jogando pedras e ocupando a linha férrea, após trem ter problemas técnicos nas proximidades da estação Sampaio, em abril de 2012
O último ocorreu na noite de quinta-feira (11), na Central do Brasil, na zona portuária, o que gerou problemas como superlotação e atrasos.
Segundo o engenheiro e ex-diretor do MetrôRio, Fernando Mac Dowell, o excesso de descarrilamentos é motivado pelo péssimo estado de conservação dos trilhos.
Da relação de descarrilamentos, um ocorreu em janeiro (dia 31), três em fevereiro (dias 7, 15 e 26), um em março (dia 18) e três somente neste começo de abril (dias 3, 4 e 11).
Mac Dowell afirmou, no entanto, que o impacto gerado por um descarrilamento pode ser fatal. "Oito descarrilamentos em menos de um mês é uma coisa inaceitável. Não deveria ter nenhum. O descarrilamento é algo muito ruim. Dependendo da velocidade e do local, você pode ter um acidente de grandes proporções. Em termos de vítimas, os grandes acidentes ferroviários geralmente são os descarrilamentos", afirmou.
"Todo cuidado é pouco em ferrovia. Sempre há essa preocupação. (...) O trem é muito pesado. Os que são usados no Rio pesam 74 toneladas, enquanto o metrô pesa 54", completou o engenheiro.
Para o especialista, os trilhos que integram a capital do Rio a cidades da Baixada Fluminense não passam por um processo de manutenção adequada. "O certo seria a Supervia ter um equipamento totalmente eletrônico. É um carro que anda pela linha e coleta informações sobre o estado dos trilhos. Um mapeamento totalmente computadorizado de todos os defeitos da via. Há uma necessidade muito forte de fazer esse levantamento", declarou.
Mac Dowell disse ainda que há trechos que já deveria ter sido substituídos --a vida útil dos trilhos é de cerca de 20 anos; no Rio, a linha férrea possui mais de 200 km de extensão. "Há outro problema seríssimo referente às agulhas [que possibilitam a mudança de via]. Elas têm que estar em estado impecável, pois é um lugar que descarrila com facilidade", explicou.
O ex-diretor do MetrôRio argumenta que a redução dos intervalos dos trens também interfere na questão da manutenção. "Na medida em que os intervalos diminuem, há mais desgaste da via. Ela fica rapidamente ruim. A área do trilho no qual passa a roda do trem é minúscula, mas a carga e pressão que a roda exerce são violentíssimas", disse.
A Supervia não se manifestou quanto aos oito descarrilamentos que ocorreram neste ano. A Agetransp também foi procurada, mas não houve retorno.
Demissão de funcionário
O descarrilamento provocou superlotação e atrasos em toda a rede até o final da manhã desta sexta-feira, e resultou na queda de um passageiro de um trem superlotado em movimento após tentar impedir o fechamento de uma porta para conseguir embarcar, entre as estações Vila Militar e Deodoro, no ramal Santa Cruz.
Segundo a concessionária, houve uma falha no procedimento de manutenção. A empresa ainda informa que realiza um diagnóstico sobre os mais de 450 aparelhos que possibilitam a mudança de via dos trens e que novos equipamentos serão adquiridos ainda neste ano.
A Supervia informa ainda, em nota, que "encontrou equipamentos sucateados" quando assumiu a gestão do transporte ferroviário do Rio, há dois anos, e que desde então estabeleceu em parceria com o governo do Estado um plano de investimentos de R$ 2,4 bilhões para revitalizar a infraestrutura das linhas, inaugurar um centro de controle operacional e adquirir novos trens.
"Até o momento, 30 novas composições já estão em circulação e este número subirá para 110 até 2014", afirma nota da concessionária. "Ainda em 2013, um novo sistema de sinalização entrará em operação em todos os cinco ramais, auxiliando na diminuição dos intervalos entre os trens, e a empresa iniciará a troca de 600 mil dormentes de madeira por dormentes de concreto, o que totalizará uma média de 100 mil novos dormentes por ano."
A empresa informou que entregará os laudos técnicos sobre o acidente à Agetransp (Agência Reguladora de Transportes do Estado) antes do prazo máximo de 30 dias. "A Supervia lamenta os incidentes causados recentemente e reforça que a segurança dos passageiros é um valor inegociável para a empresa", diz a nota.
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