Evangélicos lotam igreja gay de São Paulo durante inauguração de templo
Quando os pastores Marcos Gladstone e Fabio Inácio de Souza iniciaram o culto de inauguração do primeiro templo da Igreja Cristã Contemporânea em São Paulo, no Tatuapé, (zona Leste), na noite deste sábado (27), o espaço de 700 metros quadrados estava tão lotado que foi preciso improvisar cadeiras e um telão para que os fiéis pudessem acompanhá-lo.
A Igreja Cristã Contemporânea possui os mesmos rituais de todas as outras: batismos, casamentos, reuniões semanais. Mas se destaca por um motivo especial na pregação da palavra de Deus: ao contrário das igrejas evangélicas tradicionais, dá novas interpretações para trechos bíblicos que as outras costumam usar para condenar a homossexualidade, e prega que “os homossexuais também podem herdar o Reino dos Céus”.
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Conhecida por aceitar gays, celebrar uniões entre pessoas do mesmo sexo e defender que a Bíblia não condena a homossexualidade, a Igreja Cristã Contemporânea foi fundada no Rio de Janeiro, em 2006. Agora, ela inaugura oficialmente um templo na capital paulista, no Tatuapé, zona leste da cidade. O templo é frequentado principalmente por evangélicos que tiveram o primeiro contato com a religião em igrejas conhecidas como mais “tradicionais” e deixaram de frequentá-las quando se assumiram homossexuais
Foi o que disse o pastor Marcos Gladstone, que também é fundador da igreja, durante o culto de inauguração da nova sede, ressaltando, também, que a Igreja Cristã Contemporânea não é “exclusivamente homossexual”, mas inclusiva -- e não “exclusiva” --, o que os impulsiona a pregar o Evangelho a todas as pessoas, sem preconceitos.
“O comprometimento no acolhimento de homoafetivos acontece pela percepção de que eles são marginalizados e condenados a uma vida de opressão e distanciamento dos planos e propósitos do Senhor pela própria comunidade cristã”, explica o pastor Gladstone.
A Igreja Cristã Contemporânea já possui seis templos no Rio de Janeiro e um em Minas Gerais. Agora, inaugura sede em São Paulo com o slogan "Levando o amor de Deus a todos, sem preconceitos" e uma programação religiosa aberta ao público que inclui balada gospel, encontro de solteiros e casais e de grupos de apoio à adoção.
“A meta é fundar mais dez igrejas na capital", disse o pastor Gladstone, que já foi seguidor da Igreja Universal do Reino de Deus por quatro anos, até assumir-se homossexual.
“Homossexuais também podem herdar o Reino dos Céus”
Os fiéis da Igreja Cristã Contemporânea são heterossexuais, homossexuais, transexuais; homens de terno e gravata; drag queen’s “super produzidas” que assistem ao culto de mãos dadas, se abraçam e profetizam: “a promessa do Pai também vai se realizar na sua vida”.
O ator Valder Bastos participa pela primeira vez de um culto na pele da drag queen Tchaka, na inauguração da Igreja Cristã Contemporânea, em São Paulo
Valder Bastos é ator há mais de 10 anos e interpreta a drag Tchaka na noite da capital paulista. Conhecida como “a rainha das festas”, Tchaka --como gosta de ser chamada-- já participou de mais de 4.000 eventos e diversos programas de TV, sempre maquiada e de salto alto, usando peruca; mas esta é a primeira vez em que assiste a um culto “montada”.
A travesti Valeska Castelani viajou de Minas Gerais, onde é frequentadora da Igreja Cristã Contemporânea, a São Paulo, especialmente para conhecer o novo templo.
“Vale a pena a viajar tantos quilômetros para estar em um lugar onde não há preconceito”, afirma Valeska, que diz ter sofrido discriminações em outras igrejas por conta de sua orientação sexual.
Desconstruindo pré-conceitos
Nas palavras do pastor Gladstone, a Bíblia não condena a homossexualidade, e, sim, os rituais pagãos. Ele defende que algumas traduções do livro sagrado dos cristãos foram feitas de forma “maliciosa”, e cita como exemplo o texto de número um do Coríntios, capítulo seis, versículo nova da Bíblia.
“Versões preconceituosas traduziram o trecho como ‘Efeminados e sodomitas não herdarão o Reino dos Céus’; porém, o escrito original do grego diz ‘Depravados e pessoas de costumes infames não herdarão o Reino dos Céus’”, observa.
Outra interpretação bíblica atacada pelo pastor é a de que a cidade de Sodoma teria sido destruída por causa dos homossexuais. Ele explica que a Bíblia relata que os sodomitas queriam abusar sexualmente de anjos que passavam pela cidade; e que Ló (personagem bíblico) chegou a oferecer suas filhas aos abusadores para que estes deixassem os anjos em paz.
De acordo com o pastor, Ló jamais “ofereceria mulheres a um bando de homossexuais abusadores”.
“Sodoma cometeu abominação por sua constante hostilidade, segregação e agressão ao ser humano. Trazendo esta questão para os nossos dias, podemos afirmar que o papel ‘sodomita’ atualmente é desempenhado pelas próprias igrejas homofóbicas, pelo alto grau de rejeição a seres humanos, vidas, enfim, a toda uma comunidade de pessoas que Deus aceitou em amor”, concluiu o pastor.
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