Ateus planejam "desbatismo" para protestar contra visita do papa ao Brasil
Enquanto cerca de 2 milhões de pessoas, segundo a Igreja Católica, se dirigem ao Rio para ver o papa Francisco ao vivo na próxima semana, membros da Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (Atea) preparam um protesto inusitado como forma de desagrado à visita.
O grupo fará cerimônias de "desbatismo" em todo o país para chamar a atenção da sociedade sobre os gastos públicos na Jornada Mundial da Juventude e a proeminência católica em um Estado dito laico.
Ao mesmo tempo em que o pontífice faz sua primeira aparição oficial no Brasil às 17h da próxima segunda-feira (22), no Palácio Guanabara, sede do governo do Rio, representantes da associação em diversas partes do país irão empunhar secadores de cabelo dirigidos a cada interessado em “evaporar as águas do batismo com os ventos do secularismo”.
O desbatismo, segundo a Atea, é um ato de protesto daqueles que foram batizados pela Igreja Católica, mas que não desejam pertencer a ela. “Sendo desbatizada, a pessoa mostra que não quer se vincular com o que a Igreja Católica faz ou diz”, explica o presidente da associação, Daniel Sottomaior.
Para Sottomaior não há nenhum interesse público que justifique o gasto de milhões de reais do governo com a visita do papa e a jornada, de caráter exclusivamente religioso. Ao usar dinheiro público para financiar um evento religioso como a JMJ o governo tornaria todos os cidadãos do país católicos “à força”.
“Por que é que o Vaticano não enviou o papamóvel com recursos próprios, ao invés de a FAB ir buscá-lo, ao custo de centenas de milhares de reais?”, questiona. “A laicidade é um princípio norteador da democracia, e nunca foi levada a sério no país. Temos símbolos religiosos nas repartições públicas, frases religiosas no dinheiro, ensino religioso em escolas públicas, sintomas de uma apropriação generalizada da religião sobre o Estado.”
Segundo o Censo 2010 há no Brasil 615.096 ateus e 124.436 agnósticos -- a Atea tem 9,5 mil associados e cerca de 260 mil seguidores no Facebook. Sottomaior diz que é difícil precisar o número exato de ateus no país, uma vez que o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) incluiu o dado apenas no último censo. Ele acusa a instituição de fazer a pesquisa de forma falha ao perguntar “qual a sua religião”. “Ele induz os ateus a não se identificarem, o que gera uma subnotificação”.
Todas as pessoas, mesmo aquelas que não foram batizadas, podem participar da cerimônia. Até a manhã desta quinta-feira (18), 450 pessoas haviam confirmado presença na página do evento no Facebook. No Rio a associação chegou a solicitar um habeas corpus preventivo para assegurar o ato, que ainda não tem local definido. Também devem ser realizados desbatismos em São Paulo, Belo Horizonte, Ribeirão Preto e Porto Alegre.
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