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Polícia pede a psiquiatra forense relatório sobre suspeito de chacina em SP

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

21/08/2013 17h11

A Polícia Civil de São Paulo pediu ao psiquiatra forense Guido Arturo Palomba a elaboração de um relatório que pode ajudar a explicar a motivação da chacina de cinco pessoas de uma mesma família, no início do mês, na Vila Brasilândia (zona norte de SP).

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Há 40 anos no ramo, Palomba analisará o material já levantado no inquérito que é conduzido pelo DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) e no qual, desde o início das investigações, o principal suspeito é o estudante Marcelo Bovo Pesseghini, 13. Para a polícia, o menino se matou depois de assassinar, a tiros de pistola, o pai, o sargento da Rota Luís Marcelo Pesseghini, a mãe, a cabo da Polícia Militar Andréia Pesseghini, a avó, Benedita Oliveira, 65, e a tia-avó, Bernadete Oliveira, 55.

Em entrevista ao UOL, o psiquiatra forense explicou que ajudará a esclarecer, sob o ponto de vista médico, “o que se passava no psiquismo do Marcelo quando ele pode ter cometido esse delito”. Esse tipo de análise, disse, é denominado “perícia póstuma retrospectiva” –uma vez que se refere a aspectos recentes de um crime cujo suspeito já está morto.

“O delegado [chefe da divisão de homicídios, Itagiba Franco] espera ouvir antes todas as testemunhas. Depois vamos nos reunir para que eu possa analisar o material sob o ponto de vista médico, não policial”, disse.

Grupo criado por Marcelo teria como objetivo matar os pais

Palomba afirmou que perícias como essa são mais comuns no direito cível e requisitadas, em geral, em casos de anulação de testamento –quando a hipótese é a de que o autor assinara o documento fora das condições mentais ditas normais --, ou sobre vítimas, e não sobre os criminosos, em casos de direito penal.

“Esse tipo de perícia pode até ter um ponto inicial, conforme elementos que achamos, mas é no caminho da investigação que ela se faz. E inicialmente, no caso dessa chacina, se pode dizer que todo crime, sem exceção, é uma fotografia exata e em cores do comportamento do indivíduo”, afirmou.

Para o psiquiatra, a partir do que a Polícia Civil paulista já apurou, Marcelo é um suspeito provável.

“Tenho indicativo de que é possível que o menino não estivesse na plena sanidade mental. Pois denota bastante frieza que, após esses assassinatos, ele tenha pego o carro da mãe e ainda ido à escola”, disse o psiquiatra, citando a tese policial. “Matar pai, mãe, avó e tia-avó, pessoas das quais aparentemente ele gostava, e depois ainda cometer suicídio revelam elementos possíveis de configurar determinado estado de anormalidade mental”, completou.

Para justificar que “o crime é inusitado, mas a natureza dele, não”, o psiquiatra citou o caso de um jovem de 18 anos, que, em 1985, em são Paulo, matou os pais e três irmãos e não estava em condições mentais normais, conforme detectou, depois, a perícia. “Ele não tinha nenhum passado criminal. Foi insensível e está vivo”, comentou.

Indagado sobre a realização dessa perícia retrospectiva póstuma sem que os laudos do Instituto de Criminalística de São Paulo tenham sido encaminhados ao DHPP, o médico foi enfático: “Esse trabalho é como se fosse um jogo de quebra-cabeça. Mas não vou concluir nada antes de estar absolutamente convencido –e esse convencimento depende das provas do IML [Instituto Médico Legal], por exemplo”, definiu.

Palomba adiantou que, apesar de ter acesso aos depoimentos que serão encaminhados pela polícia, não descarta pedir, ele próprio, que outras pessoas sejam ouvidas ou chamadas novamente a depor.

O delegado Itagiba Franco confirmou à reportagem o pedido do relatório ao médico, mas não entrou em detalhes sobre o peso que isso terá nas investigações.

Depoimentos reforçam tese da polícia

Três colegas de sala de Marcelo foram ouvidos ontem no DHPP. O objetivo era obter detalhes do suposto grupo criminoso denominado "Os Mercenários" do qual o garoto teria feito menção a outros alunos do colégio em que estudava, na Freguesia do Ó.

"Queremos saber que tipo de conduta era a do Marcelo nos últimos tempos", dissera o delegado.

Ele teria contado para dois amigos de classe que havia matado os pais, a avó e a tia-avó. A revelação foi feita, segundo os colegas, no último dia 5, minutos antes do início das aulas.