Carlos Madeiro

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Reportagem

Igreja de cidade submersa em PE sofre desgaste e moradores pedem restauro

Submersa há 36 anos, a Igreja do Sagrado Coração de Jesus, no município de Petrolândia, no sertão de Pernambuco, está sofrendo com as ações de tempo, agravadas por ações consideradas de vandalismo.

A igreja é um local turístico e considerado uma relíquia porque é a única parte visível da antiga cidade que foi submersa para dar lugar à barragem da usina hidrelétrica Luiz Gonzaga, comandada pela Chesf (Companhia Hidro Elétrica do São Francisco).

As pessoas que lá moravam foram deslocadas para outra área, e onde viviam virou um lago de visitação pública (saiba mais abaixo). Isso lhe rendeu o título de Atlântida brasileira.

Tombamento

A igreja está em processo de tombamento pela Fundarpe (Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco) desde 2020, sem praz para conclusão. Por conta dos relatos de má conservação, ela foi visitada nesta quinta-feira (21) por técnicos, que viram desmoronamentos parciais e desprendimentos de materiais da igreja.

"Isso ocorre em função da condição atípica em que se encontra, corroborada pela ausência de ações de conservação adequadas", diz Cristiane Feitosa, arquiteta e gerente de Patrimônio Material da Fundarpe.

De modo geral, a sua estrutura não apresenta risco iminente de desabamento; contudo necessita de medidas urgentes para a consolidação de componentes construtivos e cuidados que serão deliberados e tratados com os órgãos e entidades responsáveis pelo bem.
Cristiane Feitosa

Equipe durante visita técnica à igreja submersa de Petrolândia
Equipe durante visita técnica à igreja submersa de Petrolândia Imagem: Alex Santos/Fundarpe

Segundo a presidente do Instituto Geográfico e Histórico de Petrolândia, Paula Rubens de Menezes, a igreja é o único patrimônio que ainda existe da cidade que desapareceu do mapa.

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Ela é importantíssima para a região, para o movimento de atingidos por barragens. Ela é um símbolo. Sem ela, a nova geração vai ter dificuldade de entender.
Paula Rubens de Menezes

Além da conservação, outro ponto que ela cita é a necessidade de proteção para que as pessoas não danifiquem. Para evitar que se chegassem perto, um cordão com boias delimitou o acesso à área.

Mesmo assim, há poucas semanas, duas pessoas em um jet ski acessaram o local ilegalmente "Eles cortaram esse cordão e subiram para tirar fotos e estão respondendo ao MP", relata.

Ela explica que a passagem de embarcações, em especial jet skis, por dentro da igreja causa movimentação da água e ajuda no processo degradação do bem. "A população está de olho porque sabe da importância da igreja", diz.

Boias de delimitação da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Petrolândia (PE)
Boias de delimitação da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Petrolândia (PE) Imagem: Divulgação/Fundarpe

Paula diz que hoje não existe nenhum tipo de fiscalização. Por isso a cidade lançou o movimento #todosPelaIgreja, que está tentando dar voz a essa causa.

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Segundo a secretária Municipal de Cultura, Esporte e Lazer, Maria Helena Gomes de Souza, a Prefeitura está com esforços para cobrar a proteção no local.

"A igreja representa um marco cultural e arquitetônico único, além de guardar as histórias e vivências das famílias da região. Ela é um símbolo da história de Petrolândia e da memória da comunidade que ali viveu antes da realocação da cidade devido à construção", relata.

Em nota, a Chesf diz que "realizou instalação de boias e dispositivos de sinalização náutica especiais, visando delimitar a área de segurança da edificação."

A Empresa confirma a sua participação na visita técnica entre os dias 20 e 22, promovida pela Diretoria de Preservação do Patrimônio Cultural (DPPC) da Fundarpe, com o objetivo de colaborar no levantamento de informações técnicas para adoção de medidas futuras de conservação e reparos, associados à estrutura.

Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Petrolândia (PE), submersa
Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Petrolândia (PE), submersa Imagem: Divulgação Fundarpe

Alagamento

A antiga cidade de Petrolândia foi alagada em 1988 para dar lugar à construção da Usina Hidrelétrica Luiz Gonzaga e a criação de uma barragem de Itaparica, às margens do rio São Francisco. A obra visava garantir abastecimento elétrico na região.

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As casas, ruas e construções históricas da antiga cidade foram completamente coberta pelas águas, com exceção da ponta da igreja. A população da época foi realocada para uma nova área, distante da antiga, dando origem ao que chamam de "nova Petrolândia".

Por conta disso, a antiga Petrolândia é frequentemente comparada à lenda da Atlântida, devido ao fato de ter sido submersa pelas águas.

O lago é até hoje um ponto frequente de visitação de turistas, que procuram ver a obra e passear no lago.

Petrolândia Velha
Petrolândia Velha Imagem: Instituto Geográfico e Histórico de Petrolândia

Reportagem

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