Igreja de cidade submersa em PE sofre desgaste e moradores pedem restauro
Submersa há 36 anos, a Igreja do Sagrado Coração de Jesus, no município de Petrolândia, no sertão de Pernambuco, está sofrendo com as ações de tempo, agravadas por ações consideradas de vandalismo.
A igreja é um local turístico e considerado uma relíquia porque é a única parte visível da antiga cidade que foi submersa para dar lugar à barragem da usina hidrelétrica Luiz Gonzaga, comandada pela Chesf (Companhia Hidro Elétrica do São Francisco).
As pessoas que lá moravam foram deslocadas para outra área, e onde viviam virou um lago de visitação pública (saiba mais abaixo). Isso lhe rendeu o título de Atlântida brasileira.
Tombamento
A igreja está em processo de tombamento pela Fundarpe (Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco) desde 2020, sem praz para conclusão. Por conta dos relatos de má conservação, ela foi visitada nesta quinta-feira (21) por técnicos, que viram desmoronamentos parciais e desprendimentos de materiais da igreja.
"Isso ocorre em função da condição atípica em que se encontra, corroborada pela ausência de ações de conservação adequadas", diz Cristiane Feitosa, arquiteta e gerente de Patrimônio Material da Fundarpe.
De modo geral, a sua estrutura não apresenta risco iminente de desabamento; contudo necessita de medidas urgentes para a consolidação de componentes construtivos e cuidados que serão deliberados e tratados com os órgãos e entidades responsáveis pelo bem.
Cristiane Feitosa

Segundo a presidente do Instituto Geográfico e Histórico de Petrolândia, Paula Rubens de Menezes, a igreja é o único patrimônio que ainda existe da cidade que desapareceu do mapa.
Ela é importantíssima para a região, para o movimento de atingidos por barragens. Ela é um símbolo. Sem ela, a nova geração vai ter dificuldade de entender.
Paula Rubens de Menezes
Além da conservação, outro ponto que ela cita é a necessidade de proteção para que as pessoas não danifiquem. Para evitar que se chegassem perto, um cordão com boias delimitou o acesso à área.
Mesmo assim, há poucas semanas, duas pessoas em um jet ski acessaram o local ilegalmente "Eles cortaram esse cordão e subiram para tirar fotos e estão respondendo ao MP", relata.
Ela explica que a passagem de embarcações, em especial jet skis, por dentro da igreja causa movimentação da água e ajuda no processo degradação do bem. "A população está de olho porque sabe da importância da igreja", diz.

Paula diz que hoje não existe nenhum tipo de fiscalização. Por isso a cidade lançou o movimento #todosPelaIgreja, que está tentando dar voz a essa causa.
Segundo a secretária Municipal de Cultura, Esporte e Lazer, Maria Helena Gomes de Souza, a Prefeitura está com esforços para cobrar a proteção no local.
"A igreja representa um marco cultural e arquitetônico único, além de guardar as histórias e vivências das famílias da região. Ela é um símbolo da história de Petrolândia e da memória da comunidade que ali viveu antes da realocação da cidade devido à construção", relata.
Em nota, a Chesf diz que "realizou instalação de boias e dispositivos de sinalização náutica especiais, visando delimitar a área de segurança da edificação."
A Empresa confirma a sua participação na visita técnica entre os dias 20 e 22, promovida pela Diretoria de Preservação do Patrimônio Cultural (DPPC) da Fundarpe, com o objetivo de colaborar no levantamento de informações técnicas para adoção de medidas futuras de conservação e reparos, associados à estrutura.

Alagamento
A antiga cidade de Petrolândia foi alagada em 1988 para dar lugar à construção da Usina Hidrelétrica Luiz Gonzaga e a criação de uma barragem de Itaparica, às margens do rio São Francisco. A obra visava garantir abastecimento elétrico na região.
As casas, ruas e construções históricas da antiga cidade foram completamente coberta pelas águas, com exceção da ponta da igreja. A população da época foi realocada para uma nova área, distante da antiga, dando origem ao que chamam de "nova Petrolândia".
Por conta disso, a antiga Petrolândia é frequentemente comparada à lenda da Atlântida, devido ao fato de ter sido submersa pelas águas.
O lago é até hoje um ponto frequente de visitação de turistas, que procuram ver a obra e passear no lago.

6 comentários
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Marcelo Martins
Será um verdadeiro absurdo se órgãos púbicos gastarem recursos, que já são escassos, numa restauração de uma igreja que está com a metade da estrutura submersa! Tá degradando? E daí? Ela está numa área que foi alagada propositalmente, não faz sentido preservar isso com dinheiro público. Que os moradores e a prefeitura busquem patrocínio de alguma entidade privada, ou eles mesmos paguem do bolso deles!
Walmor Barbosa Martins Jr
Façam uma vaquinha e PAGUEM VOCÊS MESMOS.
Otacilio Ferreira Lage
Restaurar até pode, mas com dinheiro privado ou dos próprios ex-moradores. Dinheiro público, definitivamente não.