Topo

Irregulares, 70% dos municípios não podem receber recursos voluntários da União

Carlos Madeiro

Do UOL, em Maceió

17/10/2013 11h18

Sete em cada dez municípios do país não podem celebrar convênios para receber recursos do governo federal por conta de alguma irregularidade. Os dados são de outubro e constam em levantamento feito pela CNM (Confederação Nacional dos Municípios).

Os dez Estados com mais municípios irregulares:

ESTADOPERCENTUAL
Pará92,4%
Pernambuco91,8%
Amapá87,5%
Alagoas87,3%
Bahia84,9%
Amazonas83,9%
Paraíba83,9%
Ceará83,7%
Piauí83,5%
Roraima80%

Ao todo, 3.922 municípios estão inscritos no CAUC (Cadastro Único de Convênios), o que representa 70,4% do total de 5.568 cidades no país.

O CAUC é um serviço auxiliar de informações para transferências voluntárias do governo federal e funciona como uma espécie de cadastro para "proteção ao crédito" entre entes públicos. Na lista de itens exigidos pela União para assinatura de convênios, está a verificação da regularidade o cadastro.

Na prática, inscritos na lista, os municípios ficam impossibilitados de receberem recursos de transferências voluntárias da União. As transferências constitucionais, como Fundo de Participação dos Municípios, Fundeb e royalties não são afetados.

Crescimento

Segundo nota da CNM, o número de municípios cresceu nos últimos meses. No último levantamento, em agosto, 64,6% dos municípios estavam inscritos no CAUC.

Segundo a lista atual, a situação no Norte e Nordeste é ainda mais grave. Os Estados do Pará e de Pernambuco, por exemplo, têm mais de 90% dos municípios na lista do Cauc. Outros oito das duas regiões estão com patamares acima dos 80%.

Os problemas com o cadastro são antigos para os municípios. Em janeiro, quando assumiram suas novas gestões, 64% dos prefeitos estavam governando cidades inscritas no CAUC. Em fevereiro, um mês após a posse, esse índice chegou a 80%.

“A CNM atenta para o fato de os municípios estarem enfrentando esse problema passado menos de dez meses do começo do mandato dos atuais gestores municipais. E destaca que esse cenário, que persiste desde o mês de janeiro, aumenta as dificuldades enfrentadas pelos novos gestores municipais”, afirmou a entidade.

Na nota, a CNM ainda defende mudança no sistema de transferências voluntárias. "Esses números comprovam que alguma coisa deve estar errada no Sistema de Transferências Voluntárias da União para com os Municípios e esse precisa ser revisto", alegou o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski.

O Cadastro

O CAUC avalia quatro pontos obrigatórios aos municípios: adimplência financeira, prestação de contas de convênios, transparência; e cumprimento de obrigações legais.

Segundo o especialista em planejamento e tributação municipal, Alcides José de Omena Neto, na prática, os municípios que entram no cadastro ficam sem recursos federais para investimentos até a solução da pendência.

Ele afirma que a maioria dos casos são questões simples, de descumprimento de prazos, que levam as prefeituras à "lista negra" do Tesouro Nacional.

"Esse cadastro é muito dinâmico. Na prática, um atraso no INSS, ou no FGTS, ou em um formulário já põe o município no CAUC. Como esses compromissos vencem em dias diferentes, uma prefeitura pode estar adimplente no dia 10, e no dia 20 ficar inadimplente. Muitas vezes um município deixa de mandar um desses itens por esquecimento, e logo consegue sair. Mas existem aqueles que vivem no CAUC eternamente", afirmou.

Segundo Neto, com a inclusão do nome no CAUC, a prefeitura deixa de receber as transferências voluntárias até sua exclusão, o que a deixa impedida também de tomar empréstimos. As transferências constitucionais, como os repasses do Fundeb, FPM (Fundo de Participação dos Municípios) e cota de ICMS não são afetadas pelo ingresso no cadastro."As transferências voluntárias são os convênios, que não podem ser consolidados com União ou Estados.

Exemplo: a prefeitura vai fazer uma escola, e quer fazer um convênio com FNDE [Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação], se estiver com uma pendência, não vai celebrar. E não tem jeito de burlar isso. Quem controla esse CAUC é o Tesouro Nacional e a Caixa Econômica Federal. As duas entidades preservam um com muito cuidado, pois as transferências são auditadas pelo TCU. Se o governo federal transferir a um município no cadastro, os dois gestores vão responder", afirmou.