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Contra ação da PM, prisioneiros de Pedrinhas organizam ataques a quatro ônibus em São Luís

Aliny Gama

Do UOL, em Maceió

04/01/2014 01h56

A noite desta sexta-feira (3) foi marcada por tensão devido a quatro atos de vandalismo envolvendo ônibus e violência em São Luís. Após uma ação da Tropa de Choque da PM (Polícia Militar) dentro do Complexo Penitenciário de Pedrinhas, localizado na capital maranhense, quatro ônibus foram atacados, sendo três deles incendiados, e uma delegacia atingida por balas deflagradas de armas de fogo.

As ações foram ordenadas de dentro das unidades do Complexo por líderes de facções criminosas, de acordo com a SSP (Secretaria de Segurança Pública). Há registro de seis pessoas feridas, três delas em estado grave.

Em 2013, o complexo registrou 60 mortes --o que levou ele a ser apontado por entidades como o mais violento do país. Por determinação do governo do Estado, a PM assumiu o local em 27 de dezembro.

O primeiro ataque a ônibus desta sexta-feira ocorreu no bairro João Paulo. Cinco homens interceptaram o coletivo e ordenaram que os passageiros descessem. Em seguida, o grupo ateou fogo no veículo.

Segundo a polícia, outros dois ônibus, que estavam circulando nos bairros Vila Sarney e Ilhinha, também foram incendiados com ações semelhantes. Um quarto ônibus foi interceptado no bairro Jardim América, mas os criminosos não conseguiram atear fogo por completo no veículo.

O 9º DP (Distrito Policial), localizado no bairro São Francisco, também foi alvo de criminosos, que dispararam tiros contra o prédio da delegacia. O prédio foi atingido por dois tiros e no momento do ataque havia apenas vigilante.

Em todas as ocorrências, as polícias Militar, Civil e o Corpo de Bombeiros foram acionados. Tanto nos ataques aos ônibus quanto ao DP não houve feridos.

Ainda na noite desta sexta-feira, um policial reformado da PM Antonio Cesar Cerejo foi morto a tiros, enquanto estava próximo a bar na companhia da namorada, no bairro do Maracanã. A polícia não sabe se o crime tem relação com as ordens dadas pelos presos do Complexo de Pedrinhas, mas o caso está sendo investigado.

Prisioneiros organizaram crimes, diz SSP

As ações criminosas foram ordenadas de dentro das unidades do Complexo Penitenciário de Pedrinhas por líderes de facções criminosas, que dominam a rotina dos presídios maranhenses, que reagiram contra as medidas da operação “Pedrinhas em Paz”.

“Essas ações de bandidos são uma tentativa de reação às medidas adotadas, por meio da Polícia Militar, visando disciplinar, organizar e combater a criminalidade nas unidades prisionais da capital“, detalhou a SSP.

A SSP informou que já identificou quem ordenou os ataques e quem os recebeu para a execução, e “já está trabalhando para prender os envolvidos nos atos”.

“Várias diligências estão sendo feitas neste momento, com reforço das operações, blitze e incursões do Sistema de Segurança em conjunto com as equipes de inteligência para localizar e prender os participantes destes atos criminosos”, informou a SSP, destacando que a polícia está analisando as imagens captadas pelo Sistema de Videomonitoramento e alguns envolvidos já foram identificados.

Em relação às ordens dos ataques terem vindo do Complexo de Pedrinhas, a PM “já está adotando providências complementares” nas unidades prisionais de São Luís, como no CDP (Centro de Detenção Provisória), do Complexo Prisional de Pedrinhas.

Dentre as medidas estão: a ampliação da vigilância com videomonitoramento; a intensificação das revistas nas celas; o aumento da fiscalização interna com o Batalhão de Choque e da fiscalização externa com rondas.

Violência em Pedrinhas

Somente em 2014, dois assassinatos ocorreram dentro do Complexo de Pedrinhas. Na tarde desta quinta-feira (2), o preso Sildener Pinheiro Martins, 19, foi assassinado a golpes de ferros no CDP (Centro de Detenção Provisória).

Na madrugada dessa quinta-feira (2) o detento Josivaldo Pinheiro Lindoso, 35, foi encontrado morto, com sinais de estrangulamento, no Centro de Triagem do Complexo Penitenciário de Pedrinhas.
 
O relatório do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), divulgado no último dia 27, apontou que o domínio de facções criminosas que agem dentro dos presídios maranhenses deixam as unidades prisionais "extremamente violentas".
 
Somente em 2013 foram registrados 60 assassinatos dentro dos presídios maranhenses – a maioria relacionada a brigas entre as facções criminosas Bonde dos 40 – nome em alusão à pistola .40 – e PCM (Primeiro Comando do Maranhão), facção ligada ao PCC (Primeiro Comando da Capital).

Em um período de apenas 17 dias, dentro do Complexo Penitenciário de Pedrinhas ocorreram três rebeliões e 18 presos foram mortos durante esses motins.

O domínio desses grupos criminosos dentro dos presídios do Maranhão impediram que fossem concluídas as inspeções do CNJ, realizadas em dezembro para traçar a verdadeira situação do Complexo de Pedrinhas.
 
Ainda segundo o CNJ, a disputa dos grupos pelo domínio dos presídios de Pedrinhas causa diversos assassinatos e estupros em mulheres de presos que não são chefes de setor ou lideres, e acabam comprometendo a segurança do local.

"Em dias de visita íntima no Presídio São Luís I e II e no CDP, as mulheres dos presos são postas todas de uma vez nos pavilhões e as celas são abertas. Os encontros íntimos ocorrem em ambiente coletivo. Com isso, os presos e suas companheiras podem circular livremente em todas as celas do pavilhão, e essa circunstância facilita o abuso sexual praticado contra companheiras dos presos", informou o juiz Douglas de Melo Martins.

Além dos estupros cometidos dentro das cadeias maranhenses, a violência cometida por detentos ultrapassa as celas e os limites dos presídios, já que há evidências de que criminosos confinados nas prisões do Estado ordenam estupros de mulheres ligadas a rivais nas ruas de São Luís.
 
O senador José Sarney (PMDB-AP), maranhense de nascimento e uma das figura políticas mais importantes do Estado, que é governado pela filha dele, Roseana Sarney(PMDB-MA), chegou a comemorar, durante entrevista concedida a uma rádio de sua propriedade, o fato de a violência, no Maranhão, "estar nos presídios e não na rua".

Em novembro, homens armados mataram um PM e feriram dois em na cidade. A polícia falou em retaliação por prisões.