Ativistas criam tumblr para denunciar agressões e ameaças nas redes sociais
Ativistas participantes do movimento #EuNãoMereçoSerEstuprada criaram um tumblr (http://eunaomerecoserestupradadenuncia.tumblr.com/) para denunciar agressões e ameaças feitas nas redes sociais após o lançamento da campanha virtual. As manifestações ofensivas foram recolhidas na página da campanha.
Quase a totalidade dos agressores são homens que fazem apologia e incitação da violência contra as mulheres. Os comentários vão desde críticas agressivas contra mulheres em função das roupas que elas usam até ameaças, defesas e confissões de estupro, além de xingamentos racistas e homofóbicos.
A página foi criada pela jornalista Matita Iazzetta, 22, no último dia 28, horas antes do início da campanha criada pela também jornalista Nana Queiroz, 28. A ideia inicial era apenas reunir as fotos enviadas pelas participantes da campanha, mas o tumblr mudou o foco e passou a agrupar os comentários agressivos após as ativistas passarem a receber muitas ameaças.
Todas as pessoas que foram ameaçadas de estupro pela internet durante ou depois do protesto virtual foram encorajadas a dar print screen (cópia das agressões) e fazer boletim de ocorrência.
Segundo Iazetta, que também administra o tumblr, ela já recebeu milhares de imagens enviadas no email eunaomerecoserestuprada@gmail.com. “Estou dando uma filtrada porque não consigo dar conta de tudo sozinha. Já recebemos mais de 200 mil visitas em uma semana de tumblr, e quero que esse número cresça mais e mais, para nossa palavra ser espalhada pelo mundo.”
Apologia e incitação ao crime
Segundo advogado Rony Vainzof, professor de direito digital na Universidade Mackenzie e na Escola Paulista de Direito, as manifestações ofensivas podem ser enquadradas como apologia ou incitação ao crime, cuja pena vai de 3 a 6 meses de prisão.
No caso daqueles que dizem ter praticado estupro, as mensagens servem como provas de um futuro processo judicial. “Com base nos comentários, a polícia pode pedir quebra de sigilo e obter o protocolo de internet deste agressor, além de mandados de busca e apreensão”, afirmou Vaizof.
De acordo com o advogado, os departamentos de Polícia Civil das principais capitais e a Polícia Federal têm delegacias especializadas para investigar crimes ocorridos na internet, mas “o número de investigadores é menor do que o necessário para investigar a quantidade de crimes” praticados.
Vainzof explica ainda que este tipo de agressão denunciado pelo tumblr é recente. “Até hoje o que mais aparecia eram casos relacionados a crimes de racismo, tráfico de drogas ou quando há uma vítima pré-determinada, por exemplo, uma ex-namorada que tenha a intimidade divulgada pelo ex. Esse tipo de situação que vimos nos últimos dias está aflorando agora. É possível que os autores sejam investigados e punidos”, disse.
PF analisa material
A PF irá analisar as centenas de ameaças de estupro e outras formas de violência contra a mulheres nas redes sociais. Na sexta-feira (4), a ministra Eleonora Menecucci, da Secretaria de Política para as Mulheres, se reuniu com representantes da campanha e, durante o encontro, telefonou para o diretor-geral da PF, Leandro Daiello Coimbra, que orientou as representantes do movimento e encaminhar todo o material com as ameaças à corporação.
A PF informou à reportagem que as ameaças serão analisadas e, “conforme o caso”, inquéritos podem ser instaurados. De acordo com a PF, um grupo especial de combate a crimes na internet “já monitora diversas situações” de ameaças.
A campanha foi criada após divulgação de pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas) em que 65% dos entrevistados concordaram com a afirmação de que “Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”. Na sexta-feira, o instituto publicou uma errata informando que o resultado divulgado na pesquisa estava errado. Segundo o órgão, uma troca nos gráficos da pesquisa provocou o erro. Os percentuais corretos são: 26% concordam, total ou parcialmente, com a afirmação "mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas"; e 70% discordam, total ou parcialmente. Outros 3,4% se dizem neutros.
Ao criar a campanha, a jornalista propôs que os internautas compartilhassem no Facebook fotos com a mensagem “Eu não mereço ser estuprada” escrita em cartazes cobrindo partes do corpo do participante.
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