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Ipea recua e diz que maioria discorda de ataque a mulher com roupa curta

Wellington Ramalhoso

Do UOL, em São Paulo

04/04/2014 17h28

Oito dias depois da divulgação da pesquisa sobre a tolerância social à violência contra a mulher, o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) anunciou nesta sexta-feira (4) uma correção nos dados do estudo. Ao contrário do que havia sido informado na semana passada, a maioria dos 3.810 discorda da frase “mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”.

O índice de discordância chega a 70% (58,4% discordam totalmente e 11,6%, parcialmente). Os que concordam parcial ou totalmente com a frase somam 26%. Inicialmente, o Ipea havia divulgado que 65% concordavam que a mulher que usa roupa curta merece ser atacada.

Em nota, o instituto vinculado ao governo federal pediu desculpas pelo erro e informou que ele “foi causado pela troca dos gráficos relativos aos percentuais das respostas às frases ‘Mulher que é agredida e continua com o parceiro gosta de apanhar’ e ‘Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas’”.

O Ipea também anunciou que o diretor de Estudo e Política Sociais, Rafael Guerreiro Osorio, um dos autores do estudo, pediu exoneração.

A divulgação da pesquisa no último dia 27 causou polêmica e motivou protestos. A presidente Dilma Rousseff afirmou no dia seguinte em sua conta no Twitter que o estudo mostrou “que a sociedade brasileira ainda tem muito o que avançar no combate à violência contra a mulher”.

A jornalista Nana Queiroz, criou a campanha #NãoMereçoSerEstuprada nas redes sociais, e chegou a ser ameaçada de estupro.

Na última segunda (31), a presidente Dilma voltou a usar o Twitter e manifestou apoio a Nana Queiroz.

"Conclusões continuam válidas"

Apesar das correções anunciadas pelo Ipea, ainda é considerável o índice de apoio à frase sobre as roupas femininas (26%). Além disso, está mantida a alta proporção de concordância (58,5%) com a frase “se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros”.

“As conclusões gerais da pesquisa continuam válidas, ensejando o aprofundamento das reflexões e debates da sociedade sobre seus preconceitos”, afirma a nota divulgada hoje pelo Ipea.

Nana Queiroz disse que o erro do Ipea não desqualifica a mobilização contra a violência.

Outra correções

Na nota desta sexta, o Ipea informa que 65% dos entrevistados, e não 26% como relatado na semana passada, concordam que “mulher que é agredida e continua com o parceiro gosta de apanhar”. 

O instituto também corrigiu os resultados referentes às frases ”O que acontece com o casal em casa não interessa aos outros” e “em briga de marido e mulher, não se mete a colher”. Em relação à primeira, a taxa de discordância é de 78,7% e não de 16,4% como informado anteriormente. Em relação à segunda, 81,9% concordam e não 78,7%.

Violência doméstica é condenada

Apesar da condenação ao comportamento feminino na questão dos estupros, a pesquisa mostrou que a maior parte dos entrevistados condena a violência doméstica contra a mulher. O índice de concordância com a frase "Homem que bate na esposa tem que ir para a cadeia" alcança os 91%.

Também são altas as taxas de concordância com frases que representam decisões que a mulher deve tomar caso seja agredida pelo marido. Chega a 85% a proporção dos que entendem que o casal deve se separar se houver violência. E passa de 82% o índice dos que discordam da frase "A mulher que apanha em casa deve ficar quieta para não prejudicar os filhos".