Topo

Com bom humor, Prefeitura de Curitiba ganha seguidores nas redes sociais

Página da Prefeitura de Curitiba no Facebook já foi curtida por 118 mil usuários da rede social - Reprodução
Página da Prefeitura de Curitiba no Facebook já foi curtida por 118 mil usuários da rede social Imagem: Reprodução

Osny Tavares

Do UOL, em Curitiba

17/04/2014 06h00

A Prefeitura de Curitiba liberou recentemente 750 novas placas de táxi. Em seu perfil no Facebook, o órgão tratou de informar que nenhum dos novos taxistas faz o estilo Travis Bickle, o psicopata do filme "Taxi Driver", de Martin Scorsese. A postagem exemplifica a estratégia de comunicação nas redes sociais adotada pela administração municipal, que vem ganhando fãs dentro e fora da capital paranaense. A página no Facebook é curtida por 118 mil pessoas, quase 10% da população da cidade. No Twitter, são outros 23 mil seguidores.

Desde março passado, as páginas na rede começaram a ganhar um perfil mais informal, que tentam se aproximar da cultura e dos símbolos locais. São comuns os comentários irônicos sobre o clima instável na cidade como: “neste momento temos 16 ºC e a perspectiva de tirar e colocar a blusa várias vezes durante o dia de hoje”; ou: “o mundo falando do eclipse lunar de ontem que durou 78 minutos e ninguém ainda se deu conta do eclipse solar que já dura 49 horas em nossa cidade".

No Brasil, a iniciativa em administrações públicas não é muito comum. São Paulo sequer tem um perfil oficial no Facebook. No Rio de Janeiro, o tom das postagens é o mesmo da agência oficial da prefeitura.

Outras cidades, de porte menor, tendem a apenas reproduzir conteúdo das assessorias de comunicação. Como comparativo, a página do Rio no Facebook tem 104 mil seguidores, 13 mil a menos que Curitiba, para uma cidade com quase o quádruplo da população da capital do Paraná. A Prefeitura de Salvador, cuja página se assemelha à do Rio, tem 35 mil seguidores entre 2,7 milhões de habitantes.

A forma curitibana de atuar na internet foi inspirada em exemplos internacionais, como o de Barack Obama (tanto a campanha quanto a gestão de comunicação da Casa Branca) e das prefeituras de Berlim, Nova York, Amsterdã e Paris.

“Estamos tentando mudar uma cultura de comunicação pública muito formal e, com isso, aproximar o discurso político do dia a dia do cidadão, do jovem principalmente”, afirma Marcos Giovanella, diretor do setor da prefeitura que abriga sete profissionais, entre analistas, um jornalista e até um conhecido ator cômico local.

No entanto, alguns usuários às vezes criticam o trabalho por ser pueril e pouco construtivo. Enquanto a equipe conversava com o UOL, recebeu um comentário numa postagem: “Esse é o trabalho de vocês, nunca vi tanta falta do que fazer”, que obteve cinco “likes”. Um dos analistas respondeu: “Ontem ficamos esperando sua participação na consulta pública sobre o orçamento, mas infelizmente você não apareceu”, comentário curtido por 85 pessoas. 

“Estamos usando a ferramenta para o que ela foi criada, que é o diálogo. A crítica é livre, e nenhum pedido de informação fica sem resposta”, diz Álvaro Borba, responsável pelo perfil no Twitter.

“Assim como uma marca gera um engajamento para que o consumidor consuma o produto, queremos que as pessoas consumam a prefeitura, participando de forma cidadã."

Existe, no entanto, o cuidado de mediar as críticas para que o espaço não se torne uma tribuna de ofensas, algo comum em plataformas da web. As críticas são mantidas, mas quando há calúnia ou ofensa, o comentário é apagado e o usuário, comunicado da retirada.

Outro procedimento é jamais usar a imagem ou o nome do prefeito --atualmente, Gustavo Fruet (PDT). As páginas pessoais de Fruet são administradas por outra equipe e embora às vezes se aproxime na forma de atuação, é mais contida. 

O objetivo declarado do formato é chamar a atenção a partir das brincadeiras e embutir as informações sobre a cidade. O caso dos novos táxis é um exemplo, assim como uma campanha para redução e gestão mais adequada do lixo.

“Os usuários acabaram entendendo a nossa maneira de atuar, agregando a informação dos serviços com comentários de interesse humano”, diz Giovanella.

Eles dizem acreditar que estão desconstruindo a noção que Curitiba é uma cidade fechada e de população sisuda. Seguidores de outras cidades comentam o impacto da página bem-humorada, e os próprios analistas pediram recentemente apoio no Twitter para detratar o colunista José Simão, que sempre atribui as características de mau humor a Curitiba: “O @jose_simao ainda acha que Curitiba é antipática. Vamos mostrar toda nossa simpatia e amor, só pra contrariar!”