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Confronto entre sem-teto e PM paralisa centro de SP; 70 são detidos

Gil Alessi e Marcelo Freire

Do UOL, em São Paulo

16/09/2014 10h36Atualizada em 16/09/2014 14h41

O centro de São Paulo amanheceu nesta terça-feira (16) como palco de um intenso confronto entre moradores sem-teto e a Polícia Militar, que cumpre uma reintegração de posse em um prédio da avenida São João. Até o momento, 70 pessoas foram detidas e encaminhadas ao 3º DP (Campos Elíseos), segundo a Secretaria da Segurança Pública.

Por volta das 10h, um ônibus biarticulado foi incendiado em frente ao Theatro Municipal, próximo à prefeitura, e o fogo chegou a atingir a fiação elétrica. Cerca de meia hora depois, o incêndio já havia sido apagado. Das pessoas detidas, ao menos duas mulheres são suspeitas de atear fogo ao ônibus.

Mais tarde, manifestantes tentaram incendiar outro ônibus, desta vez, no largo do Paissandu. O fogo, porém, foi controlado antes de se espalhar pelo veículos, que foi rebocado pela CET (Companhia de Engenharia de Tráfego). Cerca de 30 linhas de ônibus foram desviadas para evitar a região, que está interditada.

A polícia ainda fazia a limpeza no prédio por volta das 12h, mas já não havia mais moradores no local, segundo a PM. Na região central, policiais continuavam cercando e fazendo a vigilância no local.

O confronto deixou as ruas desertas na região do Vale do Anhangabaú e um rastro de lixo. A confusão começou logo no início da manhã, quando sem-teto do movimento da FLM (Frente Luta por Moradia) não aceitaram deixar o prédio de 20 andares na São João onde estavam alojados. Os moradores teriam atirado móveis e objetos nos policiais, que responderam com gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral.

Enquanto o Batalhão de Choque da PM entrava no prédio e trabalhava na remoção de algumas famílias, outros manifestantes enfrentam a polícia nas ruas. Eles atearam fogo em placas e sacos de lixo para formar barricadas e tentar conter o avanço da PM.

O comércio próximo ao Theatro Municipal também foi fechado. Imagem da GloboNews mostrou pessoas tentando quebrar a porta de uma loja, com chutes, no trecho de calçadões que fica entre as estações do metrô República e Anhangabaú. Após a chegada da PM, que se concentrava em outro local, essas pessoas fugiram. Não ficou claro se elas faziam parte do movimento sem-teto.

Ônibus é incendiado durante confronto entre sem-tetos e a PM

Segundo o coronel Glauco Silva de Carvalho, que comanda a operação, a reação da PM ocorreu após os moradores atirarem objetos nos policiais que buscavam remover as famílias. Dois policiais militares ficaram feridos e foram socorridos.

Já de acordo com o comandante da Tropa de Choque, coronel Nivaldo César Restivo, o tumulto e a confusão verificados no centro posteriormente podem não estar ligados diretamente aos movimentos e à reintegração de posse. Para ele, a confusão pode ter sido promovida por pessoas que se aproveitaram do ambiente para promover saques em lojas.

“Ainda observamos alguns pontos isolados com grupos menores que estão tentado promover saques, furtos e roubos na região, mas estamos atentos, e toda nossa tropa está circulando na região para evitar isso”, disse o coronel Restivo.Em entrevista à Rádio Estadão, a coordenadora do MTSC (Movimento Sem-teto do Centro, que também participa da ocupação), Ivonete de Araújo, reforçou as reclamações contra um acordo que não teria sido cumprido. “O proprietário não cumpriu os meios que ficaram acordados em uma reunião. Ele prometeu 40 caminhões, 120 carregadores e não tem”, disse.

Ivonete disse que as famílias que ocupam o prédio não têm para onde ir e a intenção é permanecer no imóvel. “Vai sair para onde? Vai carregar os móveis como? O Judiciário não olha para a questão social. Como é que eles vão sair? Não tem meios”, reclamou.

Segundo a Secretaria de Segurança Pública, a juíza Maria Fernanda Belli, da 25ª Vara Cível do Foro Central, determinou a reintegração de posse do prédio, a pedido da empresa proprietária do imóvel, a Aquarius Hotel Limitada. A Justiça requisitou o apoio da Polícia Militar na desocupação. O edifício é ocupado, de acordo com nota da Secretaria, por 200 pessoas ligadas ao Movimento Sem Teto do Centro (MSTC).

De acordo com a secretaria, a reintegração estava prevista para ocorrer no dia 11 de junho, porém, na ocasião, foi cancelada porque não foram disponibilizados pela empresa proprietária do imóvel os meios necessários para a desocupação (caminhões e carregadores para o transporte dos pertences dos moradores).

A reintegração foi reagendada para o dia 27 de agosto. Porém, no dia, foi novamente suspensa porque os oficiais de Justiça avaliaram que o número de caminhões e transportadores ainda não era suficiente. (Com Estadão Conteúdo e Agência Brasil)