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Uso da segunda cota do volume morto é "pré-tragédia", diz presidente da ANA

Do UOL, em São Paulo

21/10/2014 12h36Atualizada em 21/10/2014 20h25

O presidente da ANA (Agência Nacional de Águas), Vicente Andreu Guillo, se referiu ao uso da segunda cota do volume morto (água que fica no fundo das represas) do sistema Cantareira como a "pré-tragédia". Ele participou na manhã desta terça-feira (21) de um debate na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) sobre a crise da falta de água no Estado.

Reportagem publicada nesta terça-feira em "O Estado de São Paulo" mostra que a Sabesp já retirou 3,2 bilhões de litros da segunda cota do volume morto na Represa Atibainha, em Nazaré Paulista, um dos reservatórios do sistema. O uso dessa segunda reserva profunda de água, que fica abaixo do nível das comportas, ainda não foi formalmente autorizado. A Sabesp nega descumprir a regra.

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"[A Sabesp] quer retirar o segundo volume morto, que é a pré-tragédia. Mas não há alternativa para São Paulo que não seja chover ou tirar água do volume morto do Cantareira", afirmou.

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) disse na manhã de hoje que o abastecimento de água está garantido. "Nós já passamos o período da seca, já entramos na primavera, nem entramos na segunda reserva técnica e temos uma terceira reserva técnica", afirmou em entrevista à rádio Jovem Pan.
 
Na última sexta-feira (17), a ANA concordou com a proposta da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) de retirar uma segunda parte da reserva técnica do sistema, com 106 bilhões de litros de água. A companhia precisa ainda do aval do DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica) para começar a usar essa água.
 
A primeira cota do volume morto começou a ser captada pela Sabesp em maio deste ano, quando o Cantareira estava em 8,2%. Com a reserva, o nível de água disponível aumentou para 26,7%. Hoje, o sistema, que abastece um terço da população da Grande São Paulo (6,5 milhões de pessoas), está em 3,3% de sua capacidade de armazenamento. Esse percentual é o que resta da primeira parte do volume morto.
 
O debate na Alesp foi mediado e organizado pelo deputado estadual Adriano Diogo (PT), que é da bancada de oposição ao governo de Geraldo Alckmin (PSDB). Nenhum membro da bancada governista fez parte da mesa. A ANA é uma autarquia federal reguladora dos recursos hídricos. Seu presidente foi indicado pela presidente Dilma Rousseff. A reportagem do UOL procurou a Sabesp, mas não teve resposta até o momento.
 
Em nota oficial, o secretário-chefe da Casa Civil de Alckmin, Saulo de Castro Abreu Filho, disse que a declaração de Guillo é "lamentável" por "tentar tirar proveito político de uma crise".

"É lamentável que o presidente de um órgão federal, financiado com o dinheiro do contribuinte, venha disseminar pânico em São Paulo. E pior: em horário de trabalho, participando de um evento patrocinado por um partido em plena campanha eleitoral. Em vez de solidarizar-se com o esforço do povo de São Paulo, o dirigente da agência tenta tirar proveito político de uma crise que se enfrenta com critérios técnicos e a união de todos. São Paulo enfrenta com união, planejamento e obras a maior seca já registrada na região Sudeste do país." 

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Terceiro volume morto

Assim como Alckmin, Andreu Guillo citou que o Cantareira tem uma terceira cota do volume morto, que pode ser captada. Mas, segundo ele, isso seria "tecnicamente complicado".

O presidente da ANA explicou que, em números redondos, o Cantareira tem capacidade de armazenar um trilhão de litros de água. Abaixo do nível de captação, havia cerca de 500 bilhões de litros. "Uma parte já foi tirada, de 182 bilhões, e agora o governo deseja tirar mais 106 bilhões de água. Em tese, vão sobrar 200 bilhões, uma terceira parte do volume morto", detalhou.

"Esse volume três pode ser tirado, mas é o ralo do reservatório, o lodo. Se a crise se acentuar, não haveria alternativa do que usar o lodo e aí sim haveria problema", disse.

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Crise da água no debate presidencial

A crise de abastecimento de água que afeta São Paulo virou motivo para troca de acusações entre presidenciáveis no segundo turno da campanha.
 
Na semana passada, a presidente e candidata à reeleição, Dilma Rousseff (PT), alfinetou o rival Aécio Neves (PSDB), levando a questão para o debate na TV. Ela também passou a explorar o tema em seu programa eleitoral.
 
Ontem (20), Aécio sugeriu que o governo federal também tem culpa em relação à crise. Ele afirmou que faltou parceria do governo federal com o governo paulista. No mesmo dia, Dilma disse que seu governo atendeu a todos os pedidos de Alckmin.