Na terra de Zumbi dos Palmares, memorial espera obras prometidas há 7 anos

Inaugurado há sete anos, o Parque Memorial Zumbi dos Palmares guarda a história do maior quilombo da história brasileira, mas ainda espera por obras que garantam o acesso de visitantes e a presença de turistas o ano inteiro.

Localizado na Serra da Barriga, em União dos Palmares, Alagoas, o local é uma réplica do Quilombo dos Palmares, o maior polo de resistência negra durante a escravatura do país. O feriado de 20 de novembro, por sinal, é em homenagem ao dia da morte de Zumbi, em 1695.

O parque fica localizado no alto da serra e o acesso é feito apenas por uma estrada de barro. Quando chove, por conta das acentuadas ladeiras, o local fica inacessível aos carros.

O UOL visitou o local nesta terça-feira (18), um dia após uma chuva forte na cidade. No caminho do parque, encontrou um ônibus que trouxe estudantes da escola José Tavares, da cidade Arapiraca, que viajaram 119 km, mas não conseguiram chegar ao parque. “O pneu atolou ali na lama, e deixei o ônibus aqui mesmo. Sabia que não ia subir mais”, disse o motorista Genaldo Antônio dos Santos.

Dos 27 alunos, quatro não suportaram subir os 3 km de serra e desistiram do passeio. “Passei mal, fique sem ar e enjoada. Infelizmente não pude visitar o parque”, contou a estudante Milena Pereira, 15.

O problema da falta de acesso à serra não afeta apenas os visitantes, mas prejudica a vida de quem mora na Serra da Barriga. “Isso aqui é péssimo. Todo ano é promessa nessa época, mas nunca fazem [a estrada]. Quando chove, ficamos sem poder passar na pista de carro e temos que descer a pé”, contou Miguel Joaquim da Silva, 77.

Sem guia e restaurante fechado

Além da dificuldade de acesso local, o parque também não tem guia para contar a história do quilombo –a explicação no local é feito apenas por placas em cada um dos setores. O restaurante tem estrutura pronta, mas nunca abriu as portas.

No local, há apenas uma barraca de lanches, que não funciona o ano inteiro. “Eu não venho sempre porque não tem público no resto do ano. Apenas em novembro é que o público chega”, disse a vendedora Adriana dos Santos, 28.

Segundo a Fundação Cultural Palmares, órgão do governo federal que administra o local, cerca de 10 mil pessoas passam por ano no local. O número é pequeno, se comparada à importância histórica do local.

“Nos dias de comemorações do Dia da Consciência Negra, o parque recebe, em três dias, cerca de 20 mil pessoas”, contou Alexandro Reis, diretor do Departamento de Proteção ao Patrimônio Afro-Brasileiro da fundação.

Segundo Reis, a discussão sobre a construção de um acesso pavimentado à serra é antigo, mas sempre esbarrou na burocracia. Entre 2009 e 2010, os recursos chegaram a ser liberados, mas o projeto final acabou não sendo concluído, e o dinheiro foi devolvido aos cofres federais.

“Infelizmente não foi apresentado nenhum projeto à Caixa Econômica para construir essa estrada. Estamos dialogando com setores do governo federal a fim de alocar recursos, mas ainda não sabemos qual o orçamento, pois não tem o projeto. Não sabemos a área que seria pavimentada, as necessidades", reconheceu.

Segundo a Prefeitura de União dos Palmares, a estrada vicinal passou por melhorias recentemente, mas reconhece que há dificuldade de tráfego quando chove.

O órgão disse que uma emenda do deputado federal Paulão (PT-AL) contemplou R$ 2 milhões para pavimentar o trecho. A discussão sobre o projeto está em andamento, e os recursos já estariam empenhados pelo governo federal.

Sobre a devolução do dinheiro, a atual gestão não soube dar detalhes, mas justificou que os órgãos públicos enfrentam resistência dos movimentos negros, que não querem permitir a pavimentação do acesso. “Eles alegam que o local é histórico e deve ser preservado como é. Quando falarmos de novo em pavimentação, vão chegar de novo os movimentos para reclamar, já sabemos”, disse o secretário de Comunicação de União dos Palmares, Kléber Marques.

Sobre o restaurante fechado e a falta de guias no local, a Fundação Cultural Palmares explica que parcerias podem ajudar a resolver o problema. "Temos parceira com a Universidade Federal de Alagoas para ter a presença de um guia. Para garantir a ocupação permanente do parque, fizemos parceira também com a EBC (Empresa Brasileira de Comunicação) para divulgar a serra e atrair mais turistas", afirmou.

O quilombo

Criado no final de 1590, o Quilombo dos Palmares transformou-se num estado autônomo, resistindo por mais de cem anos aos ataques holandeses, luso-brasileiros e de bandeirantes paulistas.

Em 1695, foi totalmente destruído, um ano após a morte de Zumbi, assassinado por Domingos Jorge Velho, bandeirante contratado com a incumbência de sufocar Palmares e outros quilombos próximos a ele.