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Número de PMs mortos em folga no Rio é o triplo de mortos em confronto

Policiais com camisetas brancas e mensagens de "basta" prestaram homenagem a PM morto no dia 25 - Severino Silva/Agência O Dia/Estadão Conteúdo
Policiais com camisetas brancas e mensagens de "basta" prestaram homenagem a PM morto no dia 25 Imagem: Severino Silva/Agência O Dia/Estadão Conteúdo

Paula Bianchi

Do UOL, no Rio

02/12/2014 06h00

O número de policiais militares assassinados no Rio de Janeiro fora de serviço em 2014 é o triplo do número de policiais mortos em confronto no mesmo período. Entre janeiro e novembro, ao menos 60 PMs foram assassinados no Estado, sendo 16 em confronto e 44 de folga, segundo levantamento feito pelo UOL com base nas estatísticas fornecidas pela corporação no dia 26 de novembro e as mortes deste fim de semana.

O último assassinato ocorreu no sábado (29), quando o subtenente Jorge da Costa Serrão, lotado no 21º BPM (São João de Meriti), foi baleado durante tentativa de assalto em Rocha Miranda, perto de casa, na zona norte do Rio. Ele chegou a ser socorrido, mas não resistiu aos ferimentos.

Já o soldado Diego Santos de Oliveira, lotado na UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) do Turano, na Tijuca, na zona norte da cidade, e seu irmão foram baleados durante tentativa de assalto na estrada Santiago, nas proximidades do morro das Pedrinhas, em Vilar dos Teles, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Os dois morreram no local.

Também na noite de sábado, o subtenente Jorge Henrique dos Reis Xavier, lotado no 16º BPM (Olaria), morreu após ser baleado nas imediações de sua casa, na Rua São Nicolau, no centro de Suruí, em Magé, na Baixada Fluminense. Em apenas uma semana, foram cinco PMs assassinados e um militar morto na Maré.

Para o antropólogo Lenin dos Santos Pires, do departamento de segurança pública da UFF (Universidade Federal Fluminense), o volume de mortes de PMs, mesmo que fora de serviço, é fruto, entre outros fatores, da lógica de “mata-mata” que rege a relação entre policias e criminosos no Estado.

Pires explica que qualquer policial, tanto civil quanto militar, é, por princípio, alvo para criminosos, mas que a relação de violência estabelecida pela PM fluminense, considerada uma das mais letais do mundo, agrava esse quadro. “Não é a lógica [da PM] tirar o sujeito de circulação apenas. A lógica é matar, é de eliminação dos dois lados. Eles (os policiais) falam muito isso nas entrevistas, ao citar que se os criminosos são presos acabam soltos logo”, afirma o professor, que considera que é papel do governo incentivar uma polícia que mate menos.  “Um bandido quando vai assaltar uma pessoa e percebe que é um policial nem conversa, já o mata. Fica uma guerra surda.”

Para o professor, no entanto, a maior parte das mortes de policiais fora de serviço não acontece em situações casuais, como assaltos, como afirmou o secretário de segurança José Mariano Beltrame nesta segunda-feira (1). “A maioria dos policiais que morrem são os que estão no horário de folga em atuação no segundo emprego, o bico [prática proibidade pela coorporação]. Muitos trabalham como vigilantes, seguranças… São nessas atuações que eles costumam ser vitimados, mais que em assaltos.”

Pires lembra que a origem das armas de fogo também deveria estar em foco e defende punições mais severas para agentes que passam armas para criminosos. “Muitas armas usadas para matar esses policiais vieram da polícia, são armas que foram apreendidas e que voltam a circular por conta de um mercado de informal dos agentes. A lei deveria ser implacável para esse tipo de delito.”

Além disso, outro ponto de inflexão no confronto entre policiais e criminosos é a implantação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) no Rio. Ao atentar de forma violenta contra policiais dessas unidades o tráfico, segundo Pires, espera uma reação igualmente violenta da PM, o que ajuda a desestabilizar a relação de confiança que os policiais tentam estabelecer com as comunidades. “É uma provação”, afirma.