Antes da seca no Rio, favela e aeroporto inovaram ao captar água da chuva
Em comum, o aeroporto Santos Dumont, na região central do Rio de Janeiro, e a Associação de Moradores da Favela da Babilônia, no Leme, zona sul carioca, têm a vista privilegiada para alguns dos principais pontos turísticos da cidade e um reservatório para captação de água.
Enquanto o governo de São Paulo e do Rio de Janeiro buscam soluções para a estiagem prolongada que assola o Sudeste, os dois locais se adiantaram e criaram sistemas de captação de água da chuva anos antes do termo “crise hídrica” ganhar popularidade nos noticiários e mesas de bar.
O reservatório do aeroporto armazena 1 milhão de litros de água e envolve um sistema de engenharia complexo e um telhado especialmente desenhado para a captação da chuva. Já o da associação é mais humilde: comporta 3.000 litros e tem como base um gramado plantado em uma laje vizinha à associação.
Os quase 10 mil metros quadrados do telhado do Santos Dumont funcionam como um imenso coletor de água da chuva, que é armazenada e usada nos vasos e mictórios dos dois terminais, explica o engenheiro Márcio Mantoano, coordenador de sistemas comerciais e de navegação do aeroporto. Basta uma hora e meia de chuva forte para encher o reservatório, que permite suprir a demanda dos banheiros do aeroporto durante 37 dias –torneiras e duchas higiênicas, no entanto, seguem abastecidas com água potável.
Ao todo, são economizados 27 mil litros de água por dia e cerca de R$ 26 mil por mês. “Desde 2008, quando o sistema foi implantado, já deixamos de gastar mais de R$ 2,3 milhões com água tratada”, contabiliza Montoano. Em breve, planeja, o aeroporto irá recuperar o valor investido no projeto, que custou R$ 2,8 milhões e incluiu também a instalação de descargas a vácuo que diminuem de oito para um litro a quantidade de água necessária a cada acionamento.
Na Babilônia, o “telhado verde”, como é conhecido pelos moradores, também ganhou forma em 2008 e custou cerca de R$ 8.000. Plantado sobre uma base de madeira, areia e brita, o gramado, assim como o telhado do Santos Dumont, recolhe e filtra a água da chuva, direcionada para um reservatório em frente à associação, diz Carlos Antônio Verde, presidente da entidade.
A água é retirada direto da caixa, que conta com um sistema de filtragem interno e uma torneira na frente, e é utilizada em banheiros e na limpeza da associação e da escola e em outras atividades que não exigem água potável. Apesar de não saber precisar a economia na conta, Verde lembra que o novo prédio da associação está sendo todo construído utilizando exclusivamente água do reservatório, que também é usado em momentos de falta de água.
No entanto, as vantagens do telhado verde, construído sobre a laje da escolinha Tia Percília, que oferece aulas de reforço a crianças da comunidade, não foram suficientes para convencer outros moradores da favela a adotarem a ideia. “Com a pacificação, as lajes ficaram muito valorizadas. As pessoas não querem fazer telhado verde, preferem alugar”, diz o presidente da associação, que tem esperança de que, com o tempo, os moradores mudem de ideia.
“Você faz uma refrigeração natural do ambiente, economiza água e ainda faz uma higiene mental. Faz muito bem cortar a grama, cuidar dela. Você está lá em cima e quando vê aparece um sabiá, um tucano.”
Estiagem leva Paraíba do Sul e sistema Cantareira a menor nível histórico
A longa estiagem que afeta o Sudeste coloca em risco o abastecimento da população tanto no Rio de Janeiro quanto em São Paulo. O rio Paraíba do Sul chegou, nesta semana, ao seu menor nível histórico para está época do ano. O volume de água dos reservatórios do rio, que abastecem cerca de 15 milhões de pessoas nos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, caiu para 3% nesta terça-feira (10), segundo a ANA (Agência Nacional de Águas).
Em menos de um mês, o nível registrou uma queda de aproximadamente 40% --quando o índice era de 5%-- agravando ainda mais a crise hídrica na região. A situação parece ainda mais grave quando comparada com anos anteriores. Em novembro de 2013, o volume médio do Paraíba do Sul era de cerca de 50%. E, em 2009, os reservatórios contavam com 80% da capacidade. Em 2003, ano mais crítico já registrado até então, o volume era de 15,7%.
As águas do Paraíba vêm baixando progressivamente desde o início da estiagem. Caso não volte a chover com regularidade, a estimativa de especialistas ouvidos pelo UOL é que a queda se mantenha e o Paraíba do Sul chegue ao final de dezembro com 1,9% de sua capacidade.
Já em São Paulo o nível do sistema Cantareira baixou para 7,1% de sua capacidade nesta terça-feira (16) --queda de 0,1 ponto percentual em relação ao dia anterior. As água do Cantareira seguem em queda há oito meses. O sistema é responsável pelo atendimento de 6,5 milhões de pessoas na Grande São Paulo e já opera com a segunda cota do volume morto (água do fundo do reservatório que não era contabilizada). A última vez na qual a régua do manancial não registrou queda foi em 16 de abril.
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