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Nível de água de 85% das hidrelétricas é menor que em 2001, ano do apagão

Carlos Madeiro

Do UOL, em Maceió

21/01/2015 06h00Atualizada em 22/01/2015 14h44

A maioria dos reservatórios das hidrelétricas está com um nível de água menor do que o registrado em 2001, ano em que o país enfrentou um racionamento de energia. Segundo boletim do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), 18 (85%) dos 21 principais reservatórios enfrentam problemas com a estiagem.

A situação, segundo especialistas, é preocupante e aponta para iminência de novos apagões.

Segundo dados do ONS, apenas os reservatórios de São Simão (MG e GO), Sobradinho (BA) e Serra da Mesa (GO) estão com índices acima do que era registrado há 14 anos. Todos os demais estão abaixo, sendo dois deles com o volume útil zerado: Ilha Solteira (SP) e Três Irmãos (SP), que continuam em operação por causa do uso do volume morto dos reservatórios.

A situação é particularmente mais preocupante em dois dos maiores reservatórios: Furnas (MG) e Nova Ponte (MG), que nesta terça-feira (20) estavam com 11% de seus volumes úteis.

Termelétricas ligadas

A estiagem tem obrigado o governo federal a acionar as termelétricas, que têm geração de energia bem mais cara que as hidrelétricas.

No Nordeste, por exemplo, a geração de energia termelétrica já supera a hidrelétrica.

Neste mês, até o domingo (18), foram 4.209 megawatts gerados pelas térmicas, contra 3.415 megawatts das geradas pela água. A energia eólica foi responsável por outros 823 megawatts. Nas demais regiões, ainda vem da água a principal fonte de energia.

Para Afonso Henriques Moreira Santos, professor da Universidade Federal de Itajubá (MG) e ex-secretário nacional de Energia à época do racionamento de 2001, a crise hídrica atual é bem mais intensa que a da década passada. Os apagões só não ocorreram por conta da construção de termelétricas na década passada.

“Do ponto de vista de reservatórios a situação é muito pior. Aliás, já era pior desde o ano passado. As termoelétricas já estão operando de forma praticamente plena desde o final de 2013”, afirmou.

O professor diz que depois de 2001 o país teve uma série de lições, mas não seguiu a cartilha que deveria.

Conforme Santos, o país deveria ter adotado medidas que dessem maior eficiência energética e, ao mesmo tempo, reduzissem o consumo. Assim, teria evitado que os reservatórios chegassem a níveis tão críticos.

“Não só o país opera errado os reservatórios, mas errou ao não decretar racionamento ou fazer algo para reduzir o consumo. Tem um rombo hoje de R$ 60 bilhões pelo uso das termelétricas para o consumidor pagar. Se colocarmos que em 2001 a perda com o racionamento foi de 1%, trazendo para valores de hoje, seria um prejuízo de R$ 40 bilhões. Sem contar que os reservatórios estão secos e devem custar R$ 80 bilhões para reencher. E se continuar nessa frequência pluviométrica não conseguiremos”, afirmou

Diante dos problemas com a geração de energia, na última semana, o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, recomendou que os consumidores reduzam o consumo.

Segundo ele, a medida seria necessária já que a energia está custando mais caro em 2015. "Não é racionamento. Nós temos energia. Ela existe, mas é cara", afirmou ele na última quarta-feira (14).

Ainda segundo o professor, essa não é primeira vez que o setor passa por crise hídrica desde 2001, com risco de apagões.

“Já tivemos três crises. O setor criou uma curva de aversão a risco que opera o setor termelétrico. Esse modelo é comprovadamente errado. Reservatórios não são para ser esvaziados. Quando se esvazia, se perde potência, porque diminui a queda. Furnas chega a perder 17% de potência, o que resultou no apagão de ontem: pouca queda, e ela demora a responder à dinâmica do sistema, que está muito instável”, disse.