Rio é o Estado que mais consome água, o dobro do recomendado pela ONU
O Rio de Janeiro é o Estado com o maior consumo per capita de água do país, segundo dados do Snis (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento). Em 2013, os fluminenses consumiram cerca de 253,1 litros de água por dia, mais de duas vezes o recomendado pela ONU (Organização das Nações Unidas), que considera suficientes 110 litros de água por pessoa.
O número é ainda maior quando leva-se em conta apenas a capital --os cariocas consomem, em média, 329,78 litros de água ao dia. O consumo do Estado também é 52,2% a mais que a média nacional, de 166,3 litros. Em seguida, no ranking, encontram-se o Maranhão, com um consumo médio de 230,8 litros de água por habitante em um dia, e o Amapá, com 194,9 litros.
Para se ter uma ideia, São Paulo, que junto com o Rio passa pela pior seca de sua história, teve em 2013 um consumo médio per capita de 180 litros de água por dia, 188,3 litros quando considera-se apenas a água utilizada pela capital.
Segundo o relatório, a discrepância entre o Rio e os outros Estados se deve, entre outros fatores, aos baixos índices de medição fluminenses, o que leva parte dos dados a serem estimados. O índice de hidrometração das ligações de água no Estado (que considera o volume de água levado para residências por meio da medição do hidrômetro) é de 65,1%, enquanto a média nacional é de 91,1%.
O professor da Coppe-UFRJ (Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro) e especialista em recursos hídricos Paulo Carneiro também cita os problemas com a micromedição e afirma que, apesar de não se possível identificar exatamente o que leva a este excesso, há um forte fator cultural no alto consumo de água no Estado.
“Há, de fato, um comportamento do carioca de maior consumo de água do que em outros Estados. A temperatura elevada faz com que as pessoas tomem dois, três banhos por dia. Essa diferença é histórica", afirma.
Adacto Ottoni, professor de engenharia sanitária da Uerj (Universidade do Estado do Rio), lembra ainda o papel preponderante das favelas e das ligações clandestinas, os chamados gatos, nesse montante. “O Rio tem uma quantidade muito grande de favelas, ocupações irregulares, em que a água chega, mas não é contabilizada”, afirma.
Um levantamento feito pela reportagem do UOL com base em dados fornecidos pelo Snis mostra que a água desperdiçada apenas ao longo de 2013 com vazamentos e ligações clandestinas no Rio de Janeiro seria o suficiente para abastecer a capital fluminense durante mais de seis meses.
A Cedae (Companhia Estadual de Água e Esgotos), responsável pelo abastecimento da maior parte do Estado, no entanto, não soube precisar o que justificaria o alto consumo de água no Estado.
Apesar de o governador Luiz Fernando Pezão negar a possibilidade de racionamento, a crise hídrica no Estado se agrava dia a dia. O volume médio do Rio Paraíba do Sul, principal fonte de abastecimento da capital fluminense e da região metropolitana, chegou a 0,33% no domingo (1º), menor nível histórico já alcançado pelo rio nesta época do ano.
Já os reservatórios de Santa Branca e de Paraibuna, que junto com Jaguari e Funil compõem o sistema de captação do Paraíba do Sul, atingiram o volume morto nos últimos dias, de acordo com boletins do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico).
O volume morto do Paraibuna acumula, de acordo com a ANA (Agência Nacional de Águas), 2,095 trilhões de litros. Segundo técnicos da Secretaria de Ambiente do Estado, seria o suficiente para abastecer o Estado por cerca de seis meses.
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