Agora só carregamos água da cisterna para casa, comemora agricultor
A chuva bate no telhado da casa, escorre em direção à calha até chegar a uma cisterna. É assim que milhares de famílias do semiárido brasileiro conseguem água para beber, cozinhar, tomar banho. Essa tecnologia simples de captação de água da chuva é a grande aliada delas em meio à seca.
A reportagem do UOL percorreu mais de mil quilômetros entre os Estados do Ceará, do Piauí e de Pernambuco em busca de exemplos de como é possível driblar a escassez de água. As experiências podem servir de lição para a região Sudeste, que enfrenta uma grave crise de falta de água desde o começo de 2014.
A cisterna é um reservatório coberto feito de placas de cimento ou de plástico, ligado à calha do telhado da casa por meio de tubos. São vistas ao lado ou na frente de quase toda residência na zona rural das cidades nordestinas.
Nos últimos 12 anos, foram instalados mais de 1,1 milhão desses recipientes na região do semiárido, que engloba Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe, além do norte de Minas Gerais, segundo o MDS (Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome). A meta inicial do governo era distribuir essa quantidade de cisternas até 2008, mas ela só foi alcançada este ano.
Essas cisternas têm capacidade para acumular 16 mil litros de água, suficiente para atender à necessidade básica de uma família de cinco pessoas durante oito meses, de acordo com o ministério.
Cisterna calçadão
Desde que construiu uma cisterna, o agricultor Geraldo João de Macedo, 57, sua mulher e seus dois filhos não precisam mais andar até quatro quilômetros para conseguir água. A família mora na zona rural de Padre Marcos (a 384 km de Teresina).
"De oito em oito dias a gente ia buscar [água] para beber, mas para cozinhar tinha de ser todo dia. Todo dia tinha que pegar o animal e ir buscar no olho d'água", lembra a agricultora Lídia Maria Carvalho, 55. "Agora a gente só anda para buscar [água] da cisterna para dentro de casa", comemora Geraldo.
Recentemente, eles foram beneficiados com uma cisterna calçadão, construída com verba federal pela entidade Cáritas Piauí com o apoio da ASA Brasil (Articulação no Semiárido Brasileiro).
"A contrapartida da família é os ajudantes. Nós entramos com o material, com os pedreiros, e eles entram com os ajudantes", explica Antônio Walisson de Souza, animador social da Cáritas Piauí.
Com capacidade para 52 mil litros de água, essa cisterna armazena a água que cai em um calçadão de cimento de 200 m² feito na parte mais baixa do terreno.
Com essa água, eles têm conseguido cultivar frutas e verduras, além de criar animais. Atualmente, a família mantém um rebanho de 300 caprinos e ovinos.
Entre 2003 e fevereiro deste ano, quase 116 mil tecnologias de captação de água da chuva para cultivo de alimentos e criação de animais foram entregues a famílias do semiárido, de acordo com o MDS.
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