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Afinal, quanta água tem no sistema Cantareira? Entenda

Represa Jaguari, que compõe o sistema Cantareira no interior paulista - Lucas Lacaz Ruiz/Estadão Conteúdo
Represa Jaguari, que compõe o sistema Cantareira no interior paulista Imagem: Lucas Lacaz Ruiz/Estadão Conteúdo

Wellington Ramalhoso

Do UOL, em São Paulo

01/05/2015 06h00

O sistema Cantareira chegou ao fim do mês de abril, em plena temporada de seca, com 195,8 milhões de metros armazenados, a metade do volume de um ano atrás. 

O agravamento da crise de abastecimento de água no Estado de São Paulo em 2014 levou a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) a utilizar o volume morto do Cantareira, o que fez surgir novas formas de divulgar o nível dos reservatórios. Atualmente, a empresa informa três índices, mas a situação continua delicada sob qualquer perspectiva.

Pelo índice da Sabesp que leva em conta somente o tamanho do volume útil do Cantareira, que tem uma capacidade de 982 milhões de metros cúbicos, o nível do sistema estava em 19,9% nesta quinta-feira (30). O UOL adota, porém, o cálculo que acrescenta o tamanho volume morto, que eleva a capacidade do sistema para 1,2 bilhão de metros cúbicos. Por esta medição, o sistema tinha 15,4% ontem.

Por determinação judicial, a Sabesp também divulga desde 16 de abril o índice negativo do sistema porque que o volume morto ainda não foi reposto por completo. Ou seja, o nível da água está abaixo do volume útil, e há um "saldo devedor". Nesta quinta-feira, este índice estava em -9,3%.

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A água do Cantareira terminaria em meados de novembro caso não chovesse nos próximos meses nas represas e nas cabeceiras dos rios que alimentam o sistema e sem levar em consideração a evaporação da água armazenada.

Pode parecer uma margem razoável, mas é uma situação bem pior que a do ano passado, quando a crise já era grave.

Em 30 de abril de 2014, o sistema estava com somente 10,7% da capacidade do volume útil.

Em 15 de maio, a Sabesp começou a captar água do volume morto, que fica abaixo do nível das comportas e exige bombeamento. Esta primeira cota representa uma adição de 182,5 milhões de metros cúbicos de água.

Seis meses depois, foi necessário usar a segunda cota do volume morto, que acrescentou 106 milhões de metros cúbicos à capacidade do sistema. A temporada de chuvas proporcionou, em fevereiro passado, a reposição desta segunda cota.

Os 10,7% do volume útil do fim de abril de 2014 somados às duas cotas do volume morto que ainda não haviam sido usadas resultavam à época em 392,5 milhões de metros cúbicos de água, o dobro dos 195,8 milhões armazenados atualmente.

As chuvas de verão evitaram a adoção de um rodízio de abastecimento na região metropolitana, mas o tema pode voltar a ser discutido porque o mês de abril marcou o início da temporada mais seca do ano e o nível do sistema tende a cair nos próximos meses. 

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Para se ter uma ideia, a chuva acumulada sobre as represas do sistema em março foi 206,5 mm. Em abril, choveu apenas 45,3 mm.

"A situação é muito mais grave do que no ano passado", afirma o geólogo Pedro Luiz Côrtes, professor da USP (Universidade de São Paulo). "Dificilmente, a gente vai conseguir uma recuperação rápida. A gente só vai voltar a um nível de segurança hídrica no Cantareira em 2022", prevê o pesquisador. De acordo com ele, para chegar a um nível de segurança seria necessário alcançar a marca de 39% do volume útil, o suficiente para suportar as perdas de até 35 pontos percentuais na temporada de seca.

Medidas contra a crise

A gravidade da crise obrigou a Sabesp a tomar uma série de medidas desde o primeiro semestre de 2014. Ela remanejou a distribuição de água na Grande São Paulo e acionou outros sistemas para diminuir a dependência do Cantareira.

Até o começo de 2014, o Cantareira abastecia 9 milhões de pessoas e era o principal sistema do Estado. Atualmente, porém, fornece água para 5,4 milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo, menos que o Guarapiranga, que abastece 5,8 milhões de pessoas. Caiu, portanto, o volume de água retirada do sistema diariamente.

A Sabesp estabeleceu a cobrança de multa para os clientes que consomem água acima de suas médias e também reduziu a pressão do sistema, o que resulta em falta de água em áreas da região metropolitana, sobretudo as mais altas.

Paralelamente, a empresa vem realizando obras de médio e longo prazo, como a do sistema São Lourenço, situado no Vale do Ribeira, no sul do Estado, para aumentar a oferta de água na Grande São Paulo.

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