Topo

Com atraso de duas horas, começa julgamento de Beira-Mar por quatro mortes

Fernandinho Beira-Mar começa a ser julgado no Primeiro Tribunal do Júri, no centro do Rio - Wilton Junior/Estadão Conteúdo
Fernandinho Beira-Mar começa a ser julgado no Primeiro Tribunal do Júri, no centro do Rio Imagem: Wilton Junior/Estadão Conteúdo

Gustavo Maia

Do UOL, no Rio

13/05/2015 15h30Atualizada em 13/05/2015 17h14

Começou, às 15h15 desta quarta-feira (13), a audiência na qual o traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, será ser julgado por quatro mortes ocorridas durante uma rebelião em Bangu, em 2002. A sessão começou com mais de duas horas de atraso, devido à ausência de uma testemunha de defesa.

Beira-Mar veio ao Rio para ser julgado no episódio que serviu de inspiração para a cena de abertura do filme Tropa de Elite 2. O líder do Comando Vermelho é acusado de ter comandado uma guerra de facções dentro do Presídio de Segurança Máxima Bangu I, em 11 de setembro daquele ano. Preso na Galeria A do presídio, Beira-Mar, segundo a promotoria, usou as chaves para atravessar seis portões com grades até chegar ao local onde estavam os rivais.

O traficante responderá pelas mortes de Ernaldo Pinto de Medeiros, o Uê, líder da facção rival ADA (Amigos dos Amigos), e outros três presos. Segundo denúncia do Ministério Público, eles teriam sido assassinados a mando do traficante. As mortes ocorreram dentro da Galeria D do presídio, considerado de segurança máxima, onde estavam dez detentos.

Na época, a rebelião levou pânico a diversos bairros da cidade, obrigando parte do comércio a fechar as portas. Beira-Mar agiu em conjunto com outros 22 presos e um agente penitenciário, mas o processo foi desmembrado.

A primeira testemunha a depor foi Celso Luiz Rodrigues, o Celsinho da Vila Vintém, preso há 12 anos, que seria o fundador da ADA e que estava na cela invadida por Beira-Mar. Ele teria negociado a própria vida em troca de pontos de droga. No depoimento, Celsinho afirmou que o réu entrou na galeria desarmado. "Ele entrou com um rádio ou um telefone na mão. Fiquei com uma dívida. Eu to vivo, excelência", afirmou, negando no entanto que faltaria com a verdade em um caso no qual quatro de seus companheiros foram mortos.

Celsinho provocou risos quando foi questionado sobre sua profissão: "Que profissão, Excelência. Eu era bandido, traficante."

Esquema de segurança

O julgamento tem aparato de segurança envolvendo 200 agentes das polícias Federal e Militar e do Depen (Departamento Penitenciário Nacional).

Beira-Mar desembarcou às 9h45 na pista do aeroporto Santos Dumont, no centro do Rio, vindo de Porto Velho, Rondônia, local da penitenciária federal de segurança máxima onde ele cumpre pena. De imediato, entrou em um helicóptero da Polícia Civil e seguiu para o heliponto do Tribunal de Justiça do Rio. O voo durou menos de cinco minutos.

Ao desembarcar no heliponto do Tribunal, Beira-Mar foi escoltado para um local fez uma refeição e encontrou Maurício Neville, seu advogado no caso, antes de seguir para a sessão.

Nos corredores do fórum, o assunto é Beira-Mar. Advogados se queixam de que o local está "uma loucura". "É o traficante-celebridade", resumiu um ascensorista. No 1º Tribunal do Júri, no 9º andar do prédio, imprensa e curiosos disputam espaço. Pelo menos cem estagiários de direito fizeram fila para acompanhar o julgamento. Houve tumulto e empurra-empurra quando seguranças particulares do tribunal liberavam a entrada de pessoas para acompanhar o julgamento. Muitos familiares do traficante, incluindo filhos, também estão no tribunal.

Pena

Se for condenado no julgamento desta quarta, o traficante pode adicionar mais 120 anos de prisão e ultrapassar, na soma com sentenças anteriores, a marca de 300 anos de cadeia. Ele já acumula aproximadamente 200 anos de prisão em decisões passadas, relacionadas a outros crimes.

Em uma delas, também definida por júri popular em 2013, ele foi condenado a 80 anos sob acusação de planejar e ordenar a morte de dois homens na favela Beira-Mar, em Duque de Caxias, município da região metropolitana do Rio, no mesmo ano de 2002. Nesta época, o traficante já estava preso.

O codinome Beira-Mar tem origem nesta favela da Baixada Fluminense, onde ele despontou como chefe do tráfico no início da década de 1990. Nos anos seguintes, passou a ser reconhecido como um dos principais articuladores da facção Comando Vermelho.

Ganhou notoriedade por organizar sua própria rede de distribuição de armas e drogas a partir de conexões com traficantes da América Latina. Está preso desde abril de 2001, quando foi capturado na selva colombiana por tropas do exército local.

Beira-Mar cumpre pena na penitenciária federal de segurança máxima de Porto Velho, em Rondônia. (Com Estadão Conteúdo)