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Casas doadas a vítimas de cheia em AL e PE viram igreja, bar e boca de fumo

Carlos Madeiro

Do UOL, em União dos Palmares (AL)

19/06/2015 06h00

Nos conjuntos habitacionais doados a moradores vítimas da cheia de 2010 em Alagoas e Pernambuco, muitas casas que deveriam servir de moradia deram lugar a igrejas, mercadinhos e bares. Há relatos também de moradias que viraram bocas-de-fumo e são dominadas pelo tráfico de drogas.

Outra marca de muitos conjuntos é o processo de favelização, onde faltam serviços públicos essenciais --o que contrasta com algumas casas luxuosas que também foram erguidas em muitos dos novos bairros.

A enchente dos rios Una, Mundaú e Paraíba completou cinco anos na quinta-feira (18). Em junho de 2010, as enchentes em Alagoas afetaram 29 municípios, deixando um saldo de 27 mortos e mais de 70 mil pessoas desalojadas ou desabrigadas. Em Pernambuco, os alagamentos atingiram 68 municípios, matando 20 pessoas e deixando 80 mil desabrigadas ou desalojadas.

UOL revisitou sete das cidades mais atingidas e encontrou uma série de problemas, como casas doadas sendo vendidas, pessoas ainda vivendo em área de risco, barragens prometidas que não foram feitas, conjuntos incompletos e falta de estrutura nos novos bairros criados. Ainda há ruínas da tragédia por todos os lados.

Segundo a Caixa, as casas doadas não podem deixar de servir como moradia. É permitida apenas a utilização parcial do imóvel para comércio e que "sejam respeitadas as normas e leis do município”.

Mas não foi isso que a reportagem do UOL encontrou. Nas sete cidades visitadas nos dois Estados, foram feitos flagrantes de uso irregular completo de moradias. A mais comum das transformações foi a mudança de casa para igreja.

Em Água Preta (PE), por exemplo, uma igreja funciona no conjunto Nova Água Preta. No momento em que a reportagem chegou ao local, fiéis entravam para realizar orações. “Aqui era realmente uma casa, mas o morador cedeu para ser uma igreja”, contou um dos fiéis.

No conjunto Milton Pereira Gonçalves, em União dos Palmares (AL), há pelo menos dois bares funcionando livremente onde eram casas.

A insegurança é uma crítica unânime, e os moradores relatam a existência de bocas-de-fumo. Por conta disso, muitos moradores ergueram muros altos no local, contrastando com o modelo entregue sem muros.

Uma delas foi Alcinema da Conceição, 71. “Tinha de aumentar mais uns 3 metros, porque do jeito que está aqui, não tem que viva em paz não. Ainda tenho medo”, conta a idosa, que levantou um muro de 2,5 metros na casa que recebeu.

Já Ana Patrícia da Silva, 37, conta que teve um filho assaltado na porta da casa de um amigo no conjunto. “Ele chegou aqui pálido, assustado, contando do roubo à mão armada. Sempre ouvimos histórias de assaltos”, disse.

Em outro conjunto na cidade, o Nova Esperança, em meio às casas e ruas em péssimo estado de conservação, o UOL encontrou uma minifavela, com cerca de 20 barracos de lona. “A gente não tinha pra onde ir, veio pra cá pra tentar receber uma casa”, disse uma moradora.