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Tensão no PA hoje é maior que há dez anos, diz missionária amiga de Dorothy

A missionária Jane Dwyer, irmã de congregação de Dorothy Stang - Tomaz Silva/Agência Brasil
A missionária Jane Dwyer, irmã de congregação de Dorothy Stang Imagem: Tomaz Silva/Agência Brasil

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

16/11/2015 06h00

Integrante da CPT (Comissão Pastoral da Terra) em Anapu (a 678 km de Belém, no Pará) e irmã de congregação de Dorothy Stang, a missionária norte-americana Jane Dwyer afirmou que o nível de tensão hoje na região é ainda maior que há dez anos, quando houve o assassinato da norte-americana.

“Naquele tempo, Dorothy lutava por projetos de desenvolvimento e foi a única vítima. Agora, pais de família ou jovens foram mortos. O nível da violência subiu, os pistoleiros são profissionais - os que mataram Dorothy não eram. Está muito mais tenso”, disse.

Segundo Dwyer, nove lotes - cada um de 3.000 hectares - são os que têm disputas entre fazendeiros e posseiros. Ela conta que as mortes tiveram um efeito psicológico devastador sobre os camponeses. “Está todo mundo acuado, ninguém está fazendo nada. Estamos morrendo de medo”, disse.

“Dorothy lutava por projetos de desenvolvimento e foi a única vítima. Agora, pais de família ou jovens foram mortos. Os pistoleiros são profissionais - os que mataram Dorothy não eram. Está mais tenso”
Jane Dwyer, missionária norte-americana em Anapu (PA)

A missionária afirma que o ataque dos fazendeiros está supostamente ocorrendo por conta do maior número de ocupações na região. “Com a crise, houve uma grande movimentação de ocupações. Recebemos aqui também com muita gente também demitida de Belo Monte [unida hidrelétrica que está sendo construída em Altamira]. As pessoas sabem que as terras são públicas e vêm para cá. Este ano ocupou-se muitas terras, e os fazendeiros se organizaram e disseram que iam mandar matar. E estão matando”, lamentou.

Segundo a missionária, além das mortes, os fazendeiros estão levando medo aos moradores. “No dia 29 de agosto, um grupo com 15 carros andou no interior atirando, aterrorizando, queimaram um acampamento, ameaçaram pessoas, mataram animais. Foram três locais. Não é surpreendente entrar nessas regiões e encontrar vias públicas em que não é possível passar. Na estrada vicinal de Surubim, eles serraram a ponte e ninguém mais passa, tem de ir por outro caminho muito mais longe”, disse.