Parada LGBT repete Virada Cultural e vira ato contra Temer em SP
Depois de dominar a Virada Cultural em São Paulo no final de semana passado, os protestos contra o presidente interino Michel Temer (PMDB) também prevaleceram na 20ª edição da Parada do Orgulho LGBT, neste domingo (29), na capital paulista. Ativistas e políticos presentes no trio elétrico de abertura puxaram o grito “Fora Temer”, mas, antes disso, manifestantes já portavam cartazes, adesivos e até leques com frases contra o peemedebista.
A Polícia Militar estimou um público de 190 mil pessoas no horário de pico do evento: 15h15. A estimativa da corporação "não considera o público flutuante". Já os organizadores divulgaram que mais "três milhões de pessoas" participaram da Parada.
Além das frases “Fora Temer” e “Temer jamais”, que apareceram em número maior, havia cartazes pedindo a volta da presidente afastada Dilma Rousseff (PT) e faixas “Fora todos”, contrárias a ambos. Adesivos contra o presidente interino foram distribuídos pela UNE (União Nacional dos Estudantes).
Os ativistas entendem que o governo Temer representa um perigo para a agenda de inclusão da população LGBT. “É um momento arriscado. Pode haver retrocesso em direitos adquiridos”, disse a artista Drag Tiffany.
“Primeiro, foi a extinção do ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos. Depois, a extinção da coordenação nacional LGBT. A secretaria do Conselho Nacional LGBT está vaga. No ministério da Saúde, o orçamento para a Aids e para a política de saúde da população LGBT está congelado, e a pasta que cuida dessas agendas está vaga”, argumentou a estudante de direito Phamela Godoy.
Transfobia
Além disso, reclamam da ação de parte da bancada evangélica de tentar derrubar o decreto assinado por Dilma que permite a transexuais e travestis usar o nome social nos órgãos públicos do governo federal.
O tema da edição 2016 da Parada foi a defesa do projeto de lei de Identidade de Gênero, justamente em favor de transexuais e travestis. O segundo dos 17 trios elétricos presentes foi o da “Visibilidade Trans”.
Phamela Godoy estava em um grupo que portava cartazes contra Temer logo depois do segundo trio. De acordo com ela, o grupo era apartidário e se reuniu depois de uma mobilização via Facebook. Entre os presentes, havia um militante com bandeira do PT.
No nono trio, com um cartaz contra Temer à frente, a modelo transexual Viviany Beleboni fez um protesto artístico contra a bancada evangélica, que, segundo ela, barra o avanço, no Congresso, do projeto de lei da Identidade de Gênero - no ano passado, Viviany apareceu “crucificada” na Parada também como forma de protesto.
De autoria dos deputados federais Jean Wyllys (PSOL-RJ) e Erika Kokay (PT-DF), o projeto de lei prevê que o SUS (Sistema Único de Saúde) e os planos de saúde banquem os custos de tratamentos hormonais e cirurgias de mudança de sexo aos interessados.
Discursos
Wyllys e outros políticos como os deputados federais Orlando Silva (PCdoB-SP) e Ivan Valente (PSOL-SP) e o ex-senador Eduardo Suplicy (PT) circularam pela Parada.
Suplicy disse que Dilma não cometeu crime que justifique o impeachment. “Os 54 milhões de votos que ela recebeu devem ser respeitados”, discursou em cima de um trio elétrico. Silva ajudou a puxar o grito “Fora Temer”.
Orlando Silva também discursou e citou o caso da adolescente de 16 anos estuprada no Rio de Janeiro. Afirmou que o machismo “leva homens a pensarem que podem mandar nas mulheres" e que essa violência também tem forma de " homofobia e autoritarismo".
“A Parada sempre teve um caráter político. O Legislativo nunca nos representou”, afirmou ao UOL Fernando Quaresma, presidente da Associação da Parada do Orgulho LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros).
“Percebo que a Parada está cada vez mais politizada. As pessoas se expressam. Não estão aqui apenas por diversão”, disse o perfomer Érico Androgina, que participou da Parada pela 12ª vez.
Nos três trios vinculados à Prefeitura de São Paulo, no entanto, manifestações políticas e discursos políticos estavam vetados, segundo o vereador Nabil Bonduki (PT).
Os trios se concentraram na avenida Paulista, entre o Masp (Museu de Arte de São Paulo) e a avenida Brigadeiro Luis Antonio desde as 9h. No trecho, está o prédio da Fiesp (Federação das Indústria do Estado de São Paulo), em frente ao qual ainda há barracas montadas por manifestantes contrários a Dilma Rousseff. Mesmo sem proteção policial, o clima foi de tranquilidade nesse ponto da avenida.
A festa também atraiu famílias como a do professor de geografia Bruno Picchi, que levou a filha Alice, de 4 anos. “Eu a trago desse sempre para que perceba que ser gay, lésbica ou trans é tão normal quanto ser hétero”, disse Picchi.
Detidos
Os trios que arrastaram uma multidão de milhares de pessoas para a Paulista começaram a circular por volta de 13h30 para descer a rua da Consolação rumo ao Centro de São Paulo. Shows encerram a programação no vale do Anhangabaú.
A Polícia Militar informou que até o começo da noite três pessoas haviam sido detidas na Parada e levadas ao 78º Distrito Policial, mas não informou o motivo das ações.
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