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Vítima de chacina que dirigia carro teve leucemia e sofria de esquizofrenia

Jovens desaparecidos em 21 de outubro próximo à zona leste de São Paulo - Reprodução
Jovens desaparecidos em 21 de outubro próximo à zona leste de São Paulo Imagem: Reprodução

Marcos Sergio Silva

Colaboração para o UOL, em São Paulo

08/11/2016 17h33

Jones Ferreira Araújo, 30, o homem que dirigia o Santana 1987 que levava os quatro garotos desaparecidos em 21 de outubro, havia sobrevivido à leucemia e era esquizofrênico. Os cinco foram encontrados mortos domingo (6), em Mogi das Cruzes (Grande São Paulo). Embora interditado judicialmente, Jones dirigia o automóvel regularmente. Ele não tinha carteira de motorista e era o único do grupo sem passagem pela polícia ou pela Fundação Casa.

“Ele não podia dirigir. Só dirigia comigo ou escondido. Ele tinha F-29 e esquizofrenia. É interditado pela Justiça. Ele corria, e eu ficava correndo atrás dele. Minha vida inteira foi cuidar dele”, afirmou a mãe da vítima, Cecília Oliveira Ferreira Neves, 52, nesta terça (8), no IML (Instituto Médico Legal) Central de São Paulo, no Jardim Paulista (zona oeste).

A polícia encontrou os corpos no domingo (6) em Mogi das Cruzes  - Hélio Torchi/Estadão Conteúdo - Hélio Torchi/Estadão Conteúdo
A polícia encontrou os corpos no domingo (6) em Mogi das Cruzes
Imagem: Hélio Torchi/Estadão Conteúdo
“Eu tinha medo de ele fazer besteira. De bater o carro, de atropelar os outros. Às vezes, ele queria correr bastante. Eu não queria deixar ele sair de lá quando estava estressado. Ele só foi esse dia porque um amigo não tinha dinheiro para pagar a passagem de ônibus”, afirma Cecília.

Segundo o capítulo 5 da Classificação Internacional de Doenças e de Problemas Relacionados a Saúde, o transtorno F-29 refere-se à psicose não orgânica não especificada. Jones era tratado com medicamento controlado, em dose oral ou misturada na comida. Cecília disse que o filho começou a sofrer os sintomas depois de um acidente do viaduto do Chá, no centro de São Paulo. Sem especificar o caso nem quando aconteceu, disse que o filho havia ficado pendurado do alto da passarela por um fio do short de malha e foi resgatado pelo Corpo de Bombeiros.

“Quando ele era criança, ele teve leucemia. Tinha sete meses. Fez todo tratamento e, com muito remédio, curou tudo isso. Mas o médico falou que, quando crescesse, poderia ter sequelas. Ele ficou problemático depois do acidente no viaduto do Chá”, disse.

Um dia antes de desaparecer, na quinta (20/10), Jones esteve na casa da mãe, em Guaianazes (zona leste). Ele saiu com um amigo para o Jardim Rodolfo Pirani, local onde os garotos foram vistos pela última vez, no dia 21, e havia prometido voltar no domingo (23) com o enteado, Jonas, e o filho, Raí. “Vi meu filho na quinta-feira. [Eu] Disse que estava com saudade das crianças. Ele disse: “Faz um almoço no domingo para as crianças e para nós”. E vi que no domingo ele não apareceu. Falei para o meu caçula ir até São Mateus [região onde fica o Jardim Rodolfo Pirani]. Quando voltou, disse que não tinha visto o irmão.” 

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Não identificado

Jones é uma das três vítimas ainda não identificadas. Até esta terça (8), apenas Caique Henrique Machado, 18, e Robson Donato de Paula, 16, foram reconhecidos pelos familiares e tiveram os corpos liberados do IML. As próteses que ambos usavam – Caique na tíbia, e Robson, na coluna – ajudaram a identificação. Para auxiliar o reconhecimento do corpo de Jones, Cecília iria pedir o prontuário do motorista dos garotos para o Conjunto Hospitalar do Mandaqui, na zona norte, instituição especializada em psiquiatria, onde o rapaz era atendido com frequência.

Os familiares das cinco vítimas estudam um velório coletivo. Embora liberados, os corpos de Caique e Robson permanecem no IML à espera das outras três vítimas. A hipótese somente não será considerada caso a identificação dos demais demore mais de um mês.

“Há dias eu não durmo”, diz Cecília. “Tenho vários problemas de saúde. Pressão alta, asma. E não tem palavra no mundo que vai me consolar. Eu posso estar viva falando, mas estou morta. Só não vou guardar ódio no meu coração, porque meu filho tinha coração de ouro.”

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