O que já se sabe sobre a chacina de cinco jovens na Grande SP
Cinco jovens desapareceram no dia 21 de outubro, no Jardim Rodolfo Pirani (zona leste de São Paulo), e foram encontrar mortos 18 dias depois, no dia 6 de novembro, em uma área rural de Mogi das Cruzes (Grande São Paulo). Ainda existem muitas perguntas sobre o caso. Veja o que se sabe até o momento sobre a chacina dos garotos.
1 - Quem eram os jovens?
César Augusto Gomes, 19, Jonathan Moreira, 18, Caique Henrique Machado, 18, e Robson Donato de Paula, 16, eram amigos do Jardim Rodolfo Pirani, na zona leste de São Paulo, que foram atraídos para uma festa em um sítio em Ribeirão Pires (Grande São Paulo). Jones Ferreira Araújo, 30, dirigia o carro, um Santana verde 1987. Eles desapareceram no dia 21 de outubro. Apenas Araújo não tinha ficha criminal. Os demais somavam passagens por roubo, furto, receptação, resistência à prisão e porte de entorpecentes.
2 - Como eles foram encontrados?
Os corpos foram encontrados já em estado de decomposição no dia 6 de novembro na área rural de Mogi das Cruzes. Eles já haviam sido vistos por um sitiante que trabalha no local, que acionou a PM três vezes. Nas duas primeiras vezes, nada foi achado --na primeira, um pé de um dos cadáveres estava para fora da cova e havia forte odor; na segunda, os corpos já estavam expostos sobre a terra. Na terceira, a PM encontrou os cadáveres em covas rasas e cobertos por cal, o que acelera o processo de decomposição.
3 - Quem os convidou para o sítio em Ribeirão Pires?
Um perfil falso de Facebook criado pelo guarda civil de Santo André Rodrigo Gonçalves de Oliveira, criado há um ano. Sob o nome Terezinha, ele convidou os garotos para uma festa em Ribeirão Pires que não existia.
4 - Todos os garotos eram alvos da ação?
A princípio, os alvos eram apenas Caíque, conhecido como Pirata, e Cesar, o Buíu. Eles eram investigados por suposta participação na morte do de outro agente municipal, Rodrigo Lopes Sabino, 30, morto enquanto teve o seu carro roubado, no dia 24 de setembro no Jardim Ana Maria, em Santo André (ABC).
Na conversa online, porém, o guarda Oliveira, escondido pelo nome Terezinha, os convenceu a levar mais garotos do bairro, sob o pretexto de que um grupo na região praticava pequenos roubos e furtos constantes. Segundo a mãe de um dos garotos, mais carros iriam para a emboscada, mas a decisão de uma mãe não deixar que o veículo da família fosse utilizado e uma suposta quebra de outro automóvel impediriam.
5 - O que o guarda municipal disse pretender fazer com os garotos?
O objetivo, segundo ele disse à polícia, seria levá-los a uma delegacia e denunciá-los pela morte do agente municipal, e aplicar um “susto” nos demais garotos. A polícia, no entanto, achou a declaração inverossímil. Sabino disse ter queimado o celular e o computador com os quais se comunicava com os garotos. A polícia, no entanto, pediu buscas na casa do guarda.
6 - O crime, então, foi premeditado?
Segundo o DHPP, a organização da ação começou a acontecer no velório de Sabino. Guardas, amigos policiais e não policiais se apresentavam para ele, entregando o número de celular e colocando-se à disposição. Houve busca da equipe de Oliveira, a Romu (Rondas Ostensivas Municipal de Santo André), pelo carro roubado de Sabino, por meio do GPS instalado no automóvel. O carro foi encontrado incendiado no Jardim Rodolfo Pirani, bairro dos jovens. Lá, receberam a informação de que os dois garotos tinham praticado o latrocínio contra o guarda.
7 - O guarda municipal agiu sozinho?
Para a delegada-chefe do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), Elisabete Sato, é impossível que um crime dessa complexidade seja executado por uma só pessoa. Rodrigo Gonçalves Oliveira, por ora, nega participação na execução dos jovens. Disse que apenas esperou-os em uma frutaria na avenida Rotary, em Ribeirão Pires, ponto de encontro combinado para levar os jovens até o sítio. Depois disso, disse ter saído à 1h de sábado (22 de outubro), mas que não foi para casa pois teria um encontro com uma mulher.
8 - Por que as famílias das vítimas acreditam que policiais estão envolvidos com o caso?
No período em que os garotos ficaram desaparecidos, um áudio de Jonathan circulou pelo bairro dizendo que ele havia tomado um “enquadro” e um “esculacho” de policiais. A PM nega: diz que o áudio é de 5 de outubro e que foi usado pelo garoto para justificar a ausência em um encontro com uma garota.
Também foi divulgado que policiais investigaram a ficha criminal de dois dos jovens. A Secretaria de Segurança Pública afirma, no entanto, que as consultas foram de rotina e feitas antes do desaparecimento, em 2 e 9 de outubro.
No local em que os corpos foram encontrados, em Mogi das Cruzes, cartuchos deflagrados de pistola .40, de uso da Polícia Militar e comprados pela Secretaria de Segurança Pública, foram encontrados. A SSP desmente a ligação: disse que a compra foi feita em 2013 e que as balas haviam vencido em 2015 – a troca de munição é feita anualmente, segundo a secretaria. Familiares também relataram ameaças de policiais a familiares das vítimas desde o encontro dos corpos.
O Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana) enviou ofício para a SSP, para a Corregedoria da PM e para o Ministério Público relatando as ameaças.
9 - As famílias puderam reconhecer os cadáveres dos filhos? Por que a secretaria negou a realização de uma perícia independente nos corpos?
Não. A identificação foi feita com base no DNA e em objetos encontrados nos corpos, como as próteses de Caíque, na tíbia esquerda, e de Robson, na coluna. A Secretaria de Segurança Pública negou também o pedido do Condepe e da Secretaria Municipal de Direitos Humanos, da gestão Haddad, para que uma equipe de peritos que trabalham na identificação das ossadas de vítimas da ditadura militar no cemitério Dom Bosco, em Perus (zona norte), pudessem acompanhar a perícia nos corpos. A justificativa foi a de que não há comprovação de conduta reprovável ou suspeita na condução das análises pelo IML.
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