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"Nenhuma vítima" demonstrou querer prejudicar João de Deus, diz delegada

O médium João Teixeira de Faria, o João de Deus, deixa o IML de Goiânia no fim da noite desse domingo (16) após prestar depoimentos na Deic (Delegacia Estadual de Investigação Criminal) sobre denúncias de abuso sexual - Ernesto Rodrigues/Estadão Conteúdo
O médium João Teixeira de Faria, o João de Deus, deixa o IML de Goiânia no fim da noite desse domingo (16) após prestar depoimentos na Deic (Delegacia Estadual de Investigação Criminal) sobre denúncias de abuso sexual Imagem: Ernesto Rodrigues/Estadão Conteúdo

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo *

17/12/2018 14h52Atualizada em 17/12/2018 18h49

Nenhuma das 15 mulheres que já prestaram depoimento à Polícia Civil de Goiás com denúncias de abuso sexual contra o médium João Teixeira de Farias, 76, conhecido como João de Deus, demonstrou querer "se aproveitar da situação" de vítima para "prejudicar" o líder espiritual. 

A afirmação foi feita nesta segunda-feira (16) pela delegada Karla Fernandes, coordenadora da força-tarefa da Polícia Civil criada para investigar o caso, à GloboNews. Ela é titular na Deic (Delegacia Estadual de Investigação Criminal).

"Até agora, não identificamos nenhuma vítima que queira se aproveitar situação para prejudicar o investigado", afirmou a delegada, que deve ouvir, nos próximos dias, uma 16ª mulher que afirma ter sido abusada.

A declaração da policial contrasta com insinuações do próprio médium e do advogado dele, Alberto Toron. Ontem, horas antes de se entregar à polícia, segundo revelou a jornalista Mônica  Bergamo, da "Folha de S.Paulo", o médium se referiu às acusações como "uma coisa montada, armada. Para pegar o meu dinheiro". A uma de suas advogadas, na mesma ocasião, disse ter recebido um telefonema com a seguinte mensagem: "Vamos colocar 50 [mulheres] para falar mal de você. Se você falar alguma coisa, colocamos 200. E, depois, 2.000'".

Em mais de três horas de depoimento prestado ontem, ele voltou a se dizer inocente.

Hoje, o advogado do médium afirmou que deve fazer um "escrutínio" dos depoimentos das vítimas como parte da estratégia para tirar o crédito de denúncias contra o líder religioso. Segundo Toron, é preciso analisar "o contexto" das denúncias contra seu cliente para saber se o depoimento de algumas dessas mulheres tem "crédito ou não".

À tarde, Toron protocolou na Justiça pedido de habeas corpus para que o médium possa responder o processo em liberdade. Caso a medida seja negada, a estratégia da defesa será pedir que se adotem medidas cautelares, em vez da prisão. Entre as opções cogitadas pelo defensor estão prisão domiciliar, uso de tornozeleira e a proibição de exercer o ofício.

"Ele atrai para ele mulheres que querem engravidar"

Segundo a delegada, os 15 depoimentos já tomados ajudarão a formar um nexo de causalidade sobre a conduta investigada contra João de Deus. "Tudo isso [os depoimentos de 15 mulheres] contribui para termos provas mais robustas. Porque, pelos relatos das vítimas, mesmo que se refiram a fatos que sejam antigos, se consegue traçar um nexo causal e provar a recorrência de padrão da pessoa", disse.

Pelos depoimentos, reforçou Fernandes, se pôde traçar, por exemplo, um perfil de mulheres que seriam "escolhidas" pelo médium.

"Ele atrai, traz para ele mulheres que querem engravidar ou com problemas familiares, o que, de certa forma, facilita até as massagens na região da genitália que algumas vítimas relataram", disse a delegada. Ela se referiu a detalhes apresentados pelas vítimas de como se dariam os abusos, momento em que o médium alegaria ver nas mulheres "uma energia sexual represada".

"Quando a pessoa recusa, ele joga algumas maldições, dizendo que essa mulher não ia conseguir melhorar", completou a delegada.

De acordo com a policial, o inquérito tem mais dez dias de diligências, momento em que serão ainda cumpridos outros mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao médium. Um deles, adiantou, é a casa de orações Dom Inácio de Loiola, em Abadiânia, interior de Goiás, onde teria se passado a maioria dos abusos relatados.

Nesta tarde, houve uma reunião entre integrantes das forças-tarefa da Civil e do Ministério Público estadual, que informa já terem, de todo o Brasil e de seis países, os relatos de 506 vítimas. O objetivo da reunião, segundo a promotora, seria a troca de informações que evite duplicidade de ações nas investigações.

A defesa de João de Deus afirma que ele é inocente e que a prisão é ilegal, sem elementos contemporâneos capazes de justificá-la.

* Com informações da Estadão Conteúdo